Narrativas do espólio

Narrativas do espólio Franz Kafka




Resenhas - Narrativas do espólio


7 encontrados | exibindo 1 a 7


Henrique Fendrich 19/10/2021

Fico até sem jeito de dar uma nota baixa para um livro de um escritor que admiro como o Kafka, mas essa nota é muito mais pela minha experiência com a leitura, e não pelos méritos do escritor (eu não sou nem louco de questionar os méritos do Kafka).

25% do livro é ocupado pelo conto "Investigações de um cão", que eu já havia lido em 2018 e lembro que havia gostado bastante. Não sei o que houve de lá para cá, se foi a pandemia ou o quê, mas eu não tive a menor paciência com o conto nessa releitura. Não consegui "entrar na cabeça" do cachorro e o resultado é que li com muita impaciência dessa vez.

Boa parte dos outros textos não me chamou a atenção em especial, com exceção da história de Blumfeld, que eu também já conhecia, mas que, essa sim, valeu muito a pena inclusive na releitura, e também adorei o conto "O casal", sobre o comerciante que vai visitar um cliente doente e com filho igualmente doente, encontra um concorrente lá e tem que passar por uma situação de "quase morte" do seu cliente, até a sua "ressuscitação" pela esposa dele.

Fora isso, gostei um pouco de "O mestre-escola da aldeia" e, entre os contos curtinhos que o Kafka fez, apreciei "O timoneiro". Notei, vez ou outra, uma insinuação mais política do Kafka, inclusive de cunho anarquista. Mas, realmente, o conjunto dessas histórias não caiu muito no meu agrado como outras produções do Kafka.
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mari 05/06/2013

todo cão tem, como o eu, o ímpeto de perguntar e, como todo cão, tenho o de silenciar.

mas qual é o alvo das perguntas? não cheguei a nada com elas, provavelmente meus comparsas são muito mais espertos, empregando meio totalmente diferentes e magníficos para tolerar essa vida; meios, sem dúvida, que - como acrescento por iniciativa própria - talvez os ajudem na aflição, acalmem-nos, adormeçam-nos, transformando a espécie, mas que num plano geral, são igualmente impotentes como os meus, pois, até onde enxergo, não diviso nenhum sucesso.
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Frost 26/04/2010

Contos de vários níveis
Alguns contos são ininteligíveis, outros são muito bons.
E alguns você nem se surpreende no final, quando já conhece um pouco o estilo do autor.
Vale a pena ler, só não fique preocupado em ter certeza do que cada conto significa.
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Márcio 02/05/2020

Mais kafkiano impossível...
Esse é, pra mim, o livro com mais elementos do Kafka. E olha que sou suspeito no assunto.

Narrativas curtas e estranhamente familiares (Unheimliche presente!), demonstram aquilo que está no centro dos escritos de Kafka: o indizível que é dito às claras. Kafka é a fábula humana. É a metáfora literal. Ler seus textos traz uma sensação tão única, que dele deriva a descrição que só pode ser traduzida por ele mesmo: o kafkiano (ou kafkaniano)...
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Mr. Brownstone 26/07/2021

Alguns contos aqui são bem pequenos, mas são extremamente poderosos. Vale muito a pena, apesar de não ter todos os contos que Kafka escreveu.
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Luciano Otaciano 04/01/2020

Livro muito bom!
Olá queridos leitores e leitoras, preparados para mais uma resenha literária. Venham comigo descobrir minhas impressões à respeito da obra.

Franz Kafka é um dos autores mais famosos do mundo (apesar de não ter conhecido essa fama em vida, como bem sabemos). Sua importância é tão grande que hoje já podemos usar tranquilamente o adjetivo "kafkiano" sem medo de não sermos compreendidos pela pessoa com quem estamos falando. As marcas de Kafka no imaginário coletivo talvez sejam as mais notáveis dentre aquelas que recebemos de um único autor isolado (independente de "escolas literárias") do século XX. Tanto assim que ninguém precisa sequer ter lido "O Processo" ou "A Metamorfose" para estar intuitivamente familiarizado com o personagem oprimido em um universo de pesadelo burocrático que o subjuga como se fosse um impiedoso pai dominador ou para conhecer a mais famosa introdução de um conto de literatura fantástica de todos os tempos: "Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa viu-se metamorfoseado em um gigantesco inseto". Basta respirar o ar da cultura ocidental contemporânea que Kafka vai estar lá em algum lugar, é inevitável. Mas então as causas desse estrondoso sucesso pelas obras de Franz Kafka pós sua morte é notório por vários motivos, além, é óbvio de sua inquestionável qualidade literária presente em todos os seus livros.
Por que diachos, então, Kafka está nessa lista de livros pouco comentados? Ora, é simples: porque, apesar de todo mundo falar a todo momento sobre o livro e o conto supramencionados, além de, de vez em quando, da noveleta "Na Colônia Penal" e da correspondência-nunca-enviada que posteriormente foi intitulada de "Carta ao Pai", poucas vezes em ambientes não-acadêmicos alguém se lembra das "Narrativas do Espólio". No entanto, nessas Narrativas (coletânea de textos curtos que Kafka nunca viu publicados e que foram reunidos por Max Brod, amigo e testamenteiro do autor, a quem este havia pedido para que queimasse toda sua produção literária) estão algumas das peças mais paradigmáticas do estilo do problemático artista tcheco. Em particular, o que já é mais do que suficiente para que se tenha esse livro na estante, é nele que se encontra a "Pequena Fábula", história de um único parágrafo curto que condensa praticamente todas as características de Kafka e que é inegavelmente um dos melhores micro-contos da literatura de ontem, de hoje e (por certo) de amanhã. Se você não conhece esse micro-conto do autor, aconselho-te a lê-lo o mais rápido possível, assim verás um dos motivos que fazem de Franz Kafka um escritor fora de seu tempo e aclamado pela crítica mundial como sendo um dos melhores. Em resumo "Narrativas do Espólio" é uma leitura quase que obrigatória a todo leitor que não dispensa um livro inteligente e de conteúdo. Finalizo por aqui, espero que tenham gostado da resenha e até a próxima!
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Procyon 23/10/2022

Narrativas do espólio ? Resenha
?Existe muita esperança, mas não para nós?.

? Franz Kafka

Este aforismo que serve de epígrafe a este reles texto parece bem sintetizar toda a obra de Franz Kafka, certamente um dos maiores enigmas não só da literatura moderna, mas também mundial. Tal condição se deve estritamente a inesgotável multiplicidade de análises possíveis de uma obra plurissignificante, irrompendo às novas gerações de leitores com novas indagações. O vigor dos escritos kafkianos ? marcados pela hermenêutica existencial ? parece advir de um certo humor irônico, que transparece na epígrafe deste texto, evocando a plasticidade de autores clássicos, como Homero e Cervantes, em um tom de paródia.

?Narrativas do espólio? (Erzaelungen aus dem Nachlass), livro póstumo de seus escritos, publicado pelo amigo e testamenteiro Max Brod entre 1914 e 1924, reúne 31 textos diversos ? que variam de tamanho e de feição ? do autor que nunca vira publicados em vida (apenas um sexto da obra kafkiana veio à luz enquanto ele era vivo).

Na antologia nota-se sua prosa lapidar, mas também a sutileza poética de um dos maiores criadores de narrativas breves. Com estilo seco e assertivo, veladamente irônico e alusivo, Kafka confere uma dimensão profética ao, a partir do fantástico, redimensionar a realidade das estruturas de poder e das relações humanas, praticando as situações de inversão ? tão comuns a sua produção literária ?, criando uma atmosfera lúgubre, claustrofóbica, que desnuda as estruturas de poder, das dimensões mais internas da sociedade (como a família) até as macro-estruturas do Estado. Kafka desvela dimensões de hierarquia, obediência e resignação, as narrativas que encerram sua produção literária e que confirmam o caráter fragmentário de sua arte com a aspereza e a brutalidade que emanam do poder de condensação dos pesadelos humanos.

É uma miscelânea de laivos políticos e religiosos, com núcleos temáticos bem delimitados, em que se percebe tramas do comércio (?O vizinho?, ?O casal?), tramas do direito (?Sobre a questão das leis?, ?Advogados de defesa?, ?Blumfeld, um solteirão de meia-idade?), a desmitologização dos mitos clássicos (?Prometeu?, ?Posêidon?, ?O silêncio das sereias?); e os personagens-animais (?O mestre-escola da aldeia?, ?Um cruzamento?, ?Pequena fábula?, ?Investigações de um cão?). Nessas fábulas, que, incorporam o elemento fantástico e o elemento lúdico, o narrador é antimoralista. Nessa revisitação das grandes obras de arte, predomina o aspecto enigmático, o insólito de suas formidáveis parábolas que afeiçoam o leitor, estupefato pela densidade ? porventura enfadonha, mas fascinante ? da prosa kafkiana.

O humor de Kafka, contudo, é um abafado por dores e angústias da dimensão burocrática do trabalho. Na coexistência dos sentimentos de absurdo e de culpa, essas personagens, unidimensionais, são alojadas em bruscas e silenciosas intervenções do fantástico sobre o fundo descolorido do cotidiano mundano. A voz que narra o texto kafkiano é uma voz que jamais socorre, nunca exterioriza sua angústia, na verdade, evadindo-se e fazendo do leitor tão insciente dos acontecimentos quanto o narrador, experimentando sua solidão e sua desilusão.

Os textos de Kafka são cansativos, mas são sobretudo convites a uma tomada de consciência da opressão absurda que sofre o homem moderno frente às instâncias superiores de poder. Labirintos, construções e repartições públicas preencherem os cenários kafkianos porque servem de metáfora para a construção de um mundo cada vez mais estreito, por onde impera a mecanização do homem, seus vieses imperativos, arbitrários e autoritários, sem possibilidade de redenção espiritual. Os sujeitos em crise lancinante ? essencialmente kafkianos ? são, em última análise, soterrados pelo mundo: um mundo destronado de qualquer subjetividade, reinado pelo capitalismo tardio, pelos regimes totalitários, pela massificação e pela alienação apequenadora dos sujeitos. Kafka é sublime porque, imbuindo-se da lógica do absurdo, faz com que o real perpasse do latente à plena expressão. Disto, resta a angústia, a imobilidade e impotência; no entanto, ainda existe esperança ? sim, muita esperança, mas esta, não para nós.
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