O Esqueleto

O Esqueleto Carneiro Vilela




Resenhas - O Esqueleto


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VicBanger 17/04/2021

Coisa rara: literatura brasileira de horror no século XIX
O que seria "literatura fantástica"? Nunca fui um grande pesquisador do assunto, mas tenho algum interesse teórico quanto a isso e devo dizer que o texto de apresentação ao Esqueleto (da Editora UFPE) me incomodou. A pessoa responsável pela apresentação demonstrou clara discordância quanto ao "Crônica fantástica de Olinda", classificação esta dada pelo próprio Carneiro Vilela à sua obra que aqui destaco. O texto toma como referência a ideia de Todorov de que o fantástico se baseia na dúvida - algo que não ocorre na narrativa de Vilela, visto que, quando a ameaça surge, não temos dúvidas quanto à sua natureza. Contudo, creio que seja válido mencionar que a questão do fantástico não se encerra em Todorov - Julio Cortázar falara sobre isso, por exemplo. (Sem contar que é curioso que na edição da UFPE há uma problematização quanto ao "fantástico", mas não há quanto ao "crônica".) De qualquer modo, em minha opinião, qualquer levantamento acadêmico de tal tipo deveria levantar a seguinte pergunta: "O que o autor entendia por 'fantástico'?"

Visualmente falando, o trabalho da Editora UFPE é um encanto. Possui uma apresentação e tanto para uma obra praticamente desconhecida, um verdadeiro achado de nosso Romantismo - um exemplar de horror (sim, um texto brasileiro de horror escrito no século XIX). Contudo, faltou maior cuidado na revisão... Por exemplo, notei muitos usos indevidos do travessão e notei ausência do mesmo sinal em algumas partes.

O texto em si é bem leve e carrega, na maior parte do tempo, a cartilha integral do Romantismo, sem tirar nem pôr. Apesar dos clichês, é possível sentir bastante asco pelo "herói" (o escroto Felipe) e muita empatia pela mocinha (a jovem e iludida Lívia). O sobrenatural demora a se manifestar e, quando aparece, pouco dura, mas consegue dar ao texto do Vilela um gostinho diferenciado.

No Prólogo de O Esqueleto, a narração acontece em primeira pessoa; serve para introduzir (num gesto metalinguístico interessante - uma narrativa se referindo a outra narrativa) a história que nos interessa. O resto é narrado em terceira pessoa. Curioso que os personagens do prólogo não são retomados, mesmo quando o Epílogo dá as caras...

Enfim, este não é um texto excelente, mas merece mais atenção. Pena que não desenvolvemos uma tradição literária baseada na imaginação... O texto do Vilela nos dá uma pequena ideia de como poderia ser isso.
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