Karlinne 17/01/2016
Quem precisa de mim?
O livro aborda o impacto da flexibilidade sobre o caráter pessoal, expondo uma profunda análise sociológica das transformações do mundo do trabalho. Evidencia sua ênfase do mundo atual, na qual se ataca a rotina e espera-se que os trabalhadores sejam ágeis e assumam riscos frequentemente. Dessa forma, acredita-se que os trabalhadores experienciem uma sensação de maior liberdade para seguir a suas vidas.
Essa “liberdade”, entretanto, tem sérias implicações subjetivas. Além de um aumento da ansiedade, pois as pessoas não sabem se esses riscos serão compensados e qual o caminho a seguir, repercussões no caráter pessoal. Este definido como o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas relações com as outras pessoas. Para o autor, o caráter se delineia no aspecto a longo prazo de nossa experiência emocional, são traços pessoais que valoramos em nós mesmos e que esperamos que os outros compartilhem desse sentimento.
Sennnett nos confronta com um paradoxo: como é possível buscar algo de valor em nossa experiência numa sociedade tão imediatista? Como propor metas a longo prazo numa economia inserida numa lógica do curto prazo?
A fim de lançar luz sobre alguma dessas respostas, Sennett prioriza a experiência concreta dos trabalhadores. Desse modo, versa sobre as narrativas de vida de Enrico, Rico, Rose e dos programadores da IBM, mostrando como o trabalho assume uma importante centralidade na vida das pessoas, dotando-as de sentido.
O livro faz com que o leitor se desdobre diante dos próprios questionamentos do autor sobre as nossas próprias histórias de vida e como estamos construindo as nossas narrativas num sistema capitalista que valoriza o imediato, o volúvel, o curto prazo, e, acima de tudo, o individualismo. Faz-nos refletir sobre a nossa concepção de caráter e ética ao nos propor como questionamento: “Quem precisa de mim”?.