Monalisa.Ribeiro 31/12/2023
Fantastico
"A DÓCIL":
Como ocorre com "A morte de Ivan Ilitch", de Tolstói, em "A Dócil" a narrativa se inicia no momento presente, passando então pela reconstrução de fatos passados que culminaram na atual situação, tema da novela - o suicídio de sua esposa.
Tal reconstrução é realizada sob a ótica de um marido, que recorda momentos de sua vida particular e de matrimônio, sempre tentando justificar suas ações em relação à sua esposa (ao menos no início do texto), de forma que possa compreender o porquê de sua mulher ter optado pelo suicídio, ante a possibilidade de ficar com ele (e ser venerada), após o momento de sua redenção.
O conto, sem dúvidas, é outro que faz parte de nosso cotidiano e que serve para avaliarmos as nossas ações, nem sempre tão inteligentes e dignas como pensamos.
"O SONHO DE UM HOMEM RIDÍCULO":
O início desta narrativa apresenta um personagem que se define como uma pessoa ridícula, sem perspectiva e sem nada, inclusive que chega a negar ajuda a uma menininha, que encontrara na rua, desesperada.
Já sem forças para seguir vivendo, pensa em se suicidar, até que, momentos antes de sua ação, adormece e possui um sonho estarrecedor, indo para um lugar onde há humanidade, respeito e felicidade entre os seres que lá habitam, remetendo ao Éden.
Ocorre que este Éden vem a ser corrompido por ele, responsável pela introdução de mentiras e outros atos que vieram a desestabilizar completamente o lugar, agora já repleto de individualismo, doenças, com todos os habitantes procurando a "consciência da vida", sempre de forma complexa, sem enxergar os mínimos detalhes e simplicidade que eles mesmos já tinham vivido, lá mesmo.
Quando acorda, depara-se com a arma que utilizaria para se matar, mas vê que "agora que encontrou a verdade", isto é, que sabe que é possível existir um local verdadeiramente humano, está revigorado e tentará, com todas as suas forças, transmitir esse conhecimento, principalmente para aqueles que caçoam dele e desses pensamentos "ridículos".
O autor, em minha interpretação, atribuiu o adjetivo "ridículo" ao conto, nada mais como uma forma de alfinetar o status quo, este sim, ridículo, da sociedade russa da época (e certamente, atual, inclusive no contexto mundial).
Apesar de ser um texto mais curto, quando comparado com "A Dócil", é muito mais complexo!