Mateus Almeida 01/03/2014
Uma efêmera análise de algo muito maior.
Embora os contos tenham sidos publicados juntos em seu original, irei "analisa-los" de forma separada.
A Dócil
A Dócil, consolida para mim a forma genial que Dostoiévski compõem seus personagens, sempre vivos, tocantes e extremamente verossímeis. O que pode um homem pensar ao tentar reconstruir os motivos do suicídio de sua amada diante do corpo da mesma? Dostoiévski cria o cenário perfeito para a profundida de sua literatura, cenário este onde os mais absurdos pensamentos podem ser aceitos e diante dessa cena que somos introduzidos em A Dócil.
Assim que nos deparamos com o início da narrativa tudo parece em resumir-se em um homem que perdeu sua amada e quer descobrir o motivo de seu suicídio. Impressão que muda quando a narrativa começa a se desencadear, aos poucos percebemos as reais intensões do personagem. Ele não quer descobrir o que afligia sua amada, ele quer entender porque ela se matou e o causou tanta dor a ele, a dor pessoal supera as dores dos outros. Dostoiévski só consegue esse confição graças a maneira brilhante que trabalha com o inconsciente de seus personagens.O que nós somos quando temos nosso pensamentos expostos, longe de qualquer artifício do discurso?
Outro ponto interessante é a semelhança da obra de Dostoiévski com o pensamento de Arthur Schopenhauer, principalmente em suas visões sobre a felicidade e existência.
"A casmurrice! Ah, a natureza! Os homens estão sozinhos na terra essa é a desgraça! Há algum homem vivo nesses campos? grita o bogatir russo. Também grito eu, que não sou bogatir, e ninguém dá sinal de vida. Dizem que o sol anima o universo. O sol vai nascer e olhem para ele, por acaso não é um cadáver? Tudo está morto, e há cadáveres por toda a parte. Há somente os homens, e em volta deles o silêncio essa é a terra! Homens, amai-vos uns aos outros quem disse isso? De quem é esse mandamento? O pêndulo bate insensível, repugnante. Duas horas da madrugada. As suas botinhas estão junto da cama, como que esperando por ela Não, é sério, quando amanhã a levarem embora, o que é que vai ser de mim?"
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O Sonho de um homem ridículo
Não acho palavras para descrever um dos contos mais brilhantes que já li. Em apenas 32 páginas Dostoiévski desconstrói todo o mundo moderno -contemporâneo. Não ouso-me a escrever mais nenhum palavra.
"Me parecia insolúvel, por exemplo, o fato de que eles sabendo tanto, não possuíssem a nossa ciência. Mas logo entendi que a sua sabedoria se completava e se nutria de percepções diferentes das que temos na nossa terra, e que seus anseios eram também completamente diferentes. Eles não desejavam nada e eram serenos, não ansiavam pelo conhecimento da vida como nós ansiamos por tomar consciência dela, porque sua vida era plena. Mas a sua sabedoria era mais profunda e mais elevada do que a nossa ciência, uma vez que a nossa ciência busca explicar o que é a vida, ela mesma anseia por tomar consciência da vida para ensinar os outros a viver, ao passo que eles, mesmo sem ciência, sabiam como viver, e isso eu entendi, mas não conseguia entender a sua sabedoria"