Tamirez | @resenhandosonhos 29/08/2018Espada de VidroEntrei nessa leitura esperando um livro fantástico, era isso o que a maioria das pessoas diziam e, como eu gostei de A Rainha Vermelha, não via como poderia não gostar de Espada de Vidro. O fantástico veio, mas no fim do livro levei um balde de água fria tão grande, que não sei qual foi a última vez que um livro de fantasia me irritou tanto com apenas 5 páginas. Mas vamos por partes.
Gostei muito do livro ser dividido em várias etapas e vários conflitos. Não há apenas um grande ato pra se esperar durante as quase 500 páginas, mas pequenos e grandes problemas que vão surgindo ao longo da trama e que vão traçando o caminho para que o leitor se mantenha tenso durante todo o livro e vá devorando ele rapidamente.
O crescimento da escrita de Victoria Aveyard também é notável. A trama desenvolvida aqui é bem mais complexa e densa do que vimos no primeiro livro, gerando aquele sorriso no rosto do leitor que gosta de ver a evolução. Há e não é pouca. O livro é cheio de ação, estratégias, decisões tomadas em cima da hora que mudam tudo e claro, aquele ditado que aprendemos no primeiro livro se forma aqui como algo muito verdadeiro: “todo mundo pode trair todo mundo”. Fique atento!
Os personagens também tiveram muitas modificações de personalidade. Cal está preso, acuado, mas também sabe que é poderoso e que pode usar isso quando for necessário. Ele compreende que precisa matar Maven, mas não sabe como alcançar esse objetivo ainda, então vai sendo levado com a maré e nas horas que precisa, toma decisões acertadas. É um personagem que pensa com a cabeça, não com o coração, por mais explosivo que às vezes ele se mostre.
“Se sou uma espada, sou uma espada de vidro, e já me sinto prestes a estilhaçar.”
Já Mare é a que mais muda. Ter poderes e alcançar algumas vitórias põe ela em posição de crueldade e antipatia em alguns pontos do livro. Ela está mais sombria, mas isso não veio a toa. Ela perdeu muito, teve sua vida virada de cabeça pra baixo e está sendo vista como uma líder, mesmo que ainda não saiba como lidar com isso. Às vezes nos assustamos com seus pensamentos e no quanto de uma hora pra outra, quando a raiva a atinge, ela é capaz de mudar completamente de postura. Mas, apesar de tudo isso, no fim do livro é exatamente essa personagem que decepciona.
Ela passa a trama toda dizendo que não vai se render, que Maven pode fazer o que quiser que ela não será sua marionete. Ela vê pessoas morrerem por não dar o braço a torcer, e mesmo que isso a afete ela sabe que ele será ainda mais poderoso se puder usar ela, e isso a convence de que custe o que custar, ela vai seguir em frente e no momento oportuno, conseguirá matá-lo.
Eu, que fui uma das defensoras do primeiro livro, por ver muitas pessoas o desfazendo por incorporar algumas características de histórias que já vimos por ai antes, fiquei sem ter como argumentar quando o livro terminou. Como mencionei antes, em questão de 5 páginas, a protagonista perde completamente a personalidade que construiu e defendeu o livro todo e toma uma decisão, se colocando em uma posição que vi acontecer anteriormente, praticamente de forma igual, em a Trilogia Grisha, que pra mim é a que mais se assemelha à Rainha Vermelha. Achei a decisão é burra em vários aspectos e doeu ainda mais por saber que a autora é mulher e resolveu por a protagonista que vinha de forma bem sucedida construindo, despencando ladeira abaixo com uma centena de palavras.
Eu sei que provavelmente isso não vai incomodar quem não leu a Trilogia Grisha e que talvez nem vá fazer sentido, porém nesses livros há uma cena praticamente igual com a protagonista Alina Starkov e, como eu adoro a trilogia, foi realmente impossível desvincular naquele momento, pois eu discordava completamente do que estava acontecendo e ainda por cima estava tendo um déjà vu. Isso estraga o livro? Não, mas a gente poderia ter ficado sem essa.
No que diz respeito a história principal o livro se desenrolou bem, não focamos nunca no romance, apesar de ele dar as caras em alguns momentos, mas logo qualquer hipótese de triângulo amoroso é descartada e seguimos por um caminho onde qualquer movimentação nesse sentido é sutil. Achei o livro dinâmico e bem orquestrado enquanto a apresentar twists e surpresas ao leitor. Fico com o coração partido por ele não ter terminado exatamente da mesma forma, mas espero algo grandioso da sequência.
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