desto_beßer 03/11/2016
Deboche do Cristianismo
(resenha também publicada na Amazon)
Em um mercado saturado de livros mágicos e “reveladores”, em que o segredo da vida eterna e da felicidade é descrito em milhares de versões antagônicas, diferenciar-se é tarefa complicada para os autores-profetas da Nova Era. Agora, não basta apenas inventar uma nova cosmologia, debochar da 'inocência' das religiões tradicionais e revelar “o que sempre foi escondido” – isso, afinal, já é mais do que clichê. “Encontrei um pergaminho antigo que explica tudo!” é o novo grito de lobos dos Pedros e Paulos escritores. Hoje, é preciso ir além e realmente chacoalhar as pessoas no que lhes é mais sagrado, para ver se, assim, elas darão algum valor para a pobreza comprada nas páginas dos livros.
Então o que se faz? Inventa-se, naturalmente, uma nova cosmologia e revela-se o que “sempre foi escondido” – mas, para não parecer arroz de festa neste banquete brega que é a auto-ajuda, salpica-se um bom bocado de pretensas alusões ao Cristianismo para trazer um quê de verossimilhança, uma pitada de boa-vontade na leitura, qualquer coisa que evite a rejeição imediata à obra.
Ao longo de todo o “13º Apóstolo”, o autor alude ao Cristianismo como possível cerne filosófico da história, mas não demora muito para perceber o golpe. Cristianismo é o que menos se vê no livro. É apenas um pano de fundo para bobajadas new age, marotamente imiscuídas à fé dos curiosos e incautos que talvez compraram o livro atraídos por novas histórias sobre os primeiros seguidores de Jesus Cristo.
Enquanto tece uma trama pobríssima, com uma linguagem vergonhosa – a patetice é tanta que há diversas cenas de ‘emoção’ no livro, nas quais um discurso faz os personagens desabarem em lágrimas incompreensíveis enquanto o leitor tenta entender o porquê da comoção forçada –, o autor desvela o besteirol tradicional de lições do bem-viver tendo a cara de pau de sugerir que o que revela é uma projeção dos ensinamentos de Cristo. Ora, você, bom cristão que comprou o livro, irá encontrar pérolas como cenas excluídas da Bíblia com potencial de mudar a história da religião, seres humanos com super-poderes divinos concedidos por um Deus o qual desprezam, novos discursos de Jesus Cristo que parecem tirados do livro do Pedro Bial, ‘verdadeiras’ interpretações de textos bíblicos à luz da sabedoria hindu e muito mais neste amálgama do que de pior se pode esperar de um livro de entretenimento. Pois o 13º Apóstolo não é mais do que isso – um entretenimento barato, de espírito mesquinho, feito para agradar um público idiotizado. E isto quem revela é o próprio autor, no epílogo. Se, no mundo moderno, os mínimos rigores que uma religião exige a fim de se aprender como viver em paz com Deus e os homens é demais perante os prazeres rápidos do Mundo, ora, às favas com os bons costumes! Vamos cada um seguir a trilha espiritual que melhor nos aprouver. Para este público, a obra é mais uma para a coleção de ensinamentos astrais feitas para ampliar a fé em si próprio.
Eis o ‘13º Apóstolo’, um livro regurgitado do opróbrio que lhe cabe pela fama do autor e pelo golpe midiático de usar a religião cristã e seus personagens como joguete em uma trama caça-níquel de qualidade ínfima.