Tamirez | @resenhandosonhos 05/02/2016Duff, Designated Ugly Fat FriendDuff, Designated Ugly Fat Friend é da autora Kody Keplinger e é lançamento de 2016 da Globo Alt. O livro foi originalmente publicado em 2010 e ganhou um filme no ano passado. Porém, a adaptação é bastante diferente do livro, inclusive distorcendo alguns valores e, é importante a leitura para identificar as diferenças.
SOBRE O LIVRO
Bianca Piper tem 17 anos e sabe bem quem é e não tem a intenção de mudar. Ela acredita em uma forma diferente de amor, que é impossível da efervescência da adolescência. Pra ela é preciso tempo para se amar alguém e portanto, ela passa longe de relacionamentos, já que nos seus 14 anos teve seu coração quebrado. O único garoto por quem Piper mantém uma quedinha é Toby, porém ele parece não saber que ela existe e ela se contenta em observá-lo.
Ela está no último ano do ensino médio e tem duas amigas inseparáveis, Casey e Jessica, que ela considera muito bonitas e que adoram uma festa. E, é numa noite dessas em um clube que elas gostam de arrastar Bianca, que Wesley Rush, o cara que Bianca mais detesta da escola, se aproxima e a chama de Duff.
Na lógica de Wesley todo grupo de meninas tem uma Duff, aquela que é a mais feia ou a mais gorda entre elas e, no círculo de Bianca, ela é essa pessoa. Apesar de não deixar transparecer para o garoto, que é o popular da escola e aquele que pega todas as meninas sem dó, Bianca banca a bem resolvida e sai sem dar “bola” para o que Rush falou. Porém, ela começa a pensar sobre isso, e por mais que saiba bem o que quer e quem é, o rótulo acaba mexendo um pouco com ela.
Mesmo assim ela mantém a mesma postura e não muda seu jeito de se vestir ou se portar, mas também não conta para suas amigas do acontecido. Na próxima vez que Wesley se aproxima dela, na mesma festa alguns dias depois, e tenta provocá-la, Bianca faz algo inesperado e beija o rapaz. Mais inesperado ainda, ao invés de afastar a Duff, o garoto corresponde.
Com isso, os problemas da garota só aumentam. Porque ele não a rejeitou? Como contar para as amigas da denominação e sobre o que aconteceu? E, em cima de tudo isso, ela ainda precisa lidar com a tempestade que está acontecendo em sua casa, quando a separação dos pais é iminente e isso pode fazer com que seu pai, alcoólico em recuperação, retome o vício.
MINHA OPINIÃO
Esse é um livro sobre bullying e pra muita gente isso pode ser um buzz kill. Eu me interessava muito por livros com a temática, até pegar algumas coisas bem ruins pra ler, que tinham cara de “só escrevi sobre isso porque estava na moda e não entendo nada sobre o assunto”. Portanto, andava evitando. Porém, Duff não é um livro comum sobre bullying, ele é um livro como todo o livro com esse tema deveria ser. Não é preciso que nenhuma tragédia ou grande acontecimento se crie para que o tema seja trabalhado, como em grande parte das obras. Notamos a sua presença da questão a todo momento e sabemos que precisamos combatê-lo, sem que algo trágico aconteça.
Acho que isso posiciona o assunto mais dentro da nossa realidade e dá lucidez ao assunto. Porque sempre precisamos de algo extremo e ruim para abrirmos nossos olhos para o que esteve sempre ali? Porque não podemos simplesmente mudarmos e sermos melhores, sem que uma tragédia preceda esse acontecimento? E isso não é somente sobre bullying, é sobre uma série de outros temas e situação, que são ignorados no dia a dia por não terem o “destaque” do momento.
Nesse aspecto, acho que a autora foi muito feliz em escrever Duff com naturalidade. Outra coisa muito interessante é que temos uma protagonista feminista que não está disposta a mudar para agradar a sociedade ou os garotos. Ela sabe quem ela é, e mesmo que as vezes fraquege frente a um insulto, quem de nós também não pensa sobre isso as vezes? Ela é aberta sobre relacionamento e sobre sexo também. Se ela está com vontade, ela vai lá e faz.
Um dos pontos mais legais que achei sobre o livro foi o fato de ela entrar em conflito sobre a forma como denomina as garotas que são diferentes dela. O que é uma vadia? Quem determina isso? Porque eu chamo alguém de vadia com naturalidade e recrimino ser chamada de Duff? Não é a mesma coisa? Ela chamar uma menina de vadia é igual a o Wesley chamar ela de Duff e ela vai debater sobre isso e, através de sua problematização, educar o leitor também.
Eu confesso que as vezes fiquei bastante irritada com a Bianca e com as posturas que ela tinha, mas acreditei muito na personagem e em sua caracterização, ela é bastante ácida e isso é super bacana. Acho que existem muitas Biancas por ai e que todos nós já tivemos uma experiência como Duff. Em algum momento todos nós já nos sentimos o patinho feio ou já apontamos um, mesmo que a pessoa em si não fosse realmente feia ou gorda, mas era a menos convencionalmente adequada aos olhos da sociedade.
Bullying, convenções de beleza e pré conceitos são temas que estão sempre em pauta e que devem ser debatidos, mas de forma constante e justa, com bom conteúdo. Para um jovem, um livro com uma boa mensagem vale muito mais do que um texto de algum estudioso ou a palestra educacional na escola. Portanto, acho que a literatura também tem um grande papel, se usada de forma correta.
Acho que essa é uma ótima indicação de livro se você quer ler algo que traga esses temas e que as páginas voam na mão. A leitura é muito rápida e fluída e a edição da Globo Alt está um amor.
site:
http://resenhandosonhos.com/duff-kody-keplinger/