regifreitas 01/05/2020
MANUAL DE PINTURA E CALIGRAFIA (1977), de José Saramago.
Nunca imaginei que fosse me entediar tanto com um livro de Saramago.
Em vida, esta foi oficialmente sua segunda publicação. CLARABOIA (1953), cronologicamente, foi uma produção anterior, mas só veio a público postumamente.
O primeiro romance do autor, TERRA DO PECADO, não era tão bom pois percebia-se claramente o tatear de um escritor iniciante, buscando um estilo, uma forma de expressão. Visto sob o mesmo prisma, este romance, que surge quase trinta anos após o primeiro, apresenta uma evolução. Trata-se já de um autor mais maduro, na vida e na escrita, mais ciente do caminho que escolhera trilhar. Por isso mesmo, o livro apresenta uma pretensão e uma afetação que o anterior não trazia. Ainda não é o Saramago com o domínio total de sua voz.
O enredo: um pintor/retratista - autodenominado apenas de H. - em crise com o seu trabalho, faz uma espécie de diário, no qual desenvolve reflexões sobre seu ofício e também sobre a escrita, outra arte que o fascina. E são justamente essas partes as mais aborrecidas do texto. Elucubrações muitas vezes confusas, que ficam rodando em torno do próprio rabo, e não levam a quase lugar nenhum. Os trechos que se salvam são aqueles nos quais tomamos um pouco mais de conhecimento da vida de H., suas relações amorosas, pessoais e profissionais. Nessas partes, o narrador também nos dá alguns indícios do que estava acontecendo naquela sociedade, nos momentos finais do Salazarismo, porém de uma forma bem rápida e superficial. Se Saramago tivesse seguido por esse caminho, até poderia ser uma obra interessante.
Definitivamente, para leitores iniciantes que queiram se aventurar pelas obras do autor português, esta não é um bom ponto de partida.