alice 24/03/2022ao sul de lugar nenhumfoi o primeiro livro que eu li do Bucowski, e o que mais chama a atenção é a originalidade dele, na escrita, nas histórias, como é tão diferente de qualquer narrativa desse período.
é uma visão pesada, podre e pestilenta do mundo, mais ainda, te prende lendo, como cada uma vai ficando pior que a outra. é um livro pra ler aos poucos, ir digerindo, porque se tentar ir de uma vez sua fé na humanidade vai embora junto.
são vários contos bem curtinhos, e eles seguem sempre alguns personagens (no final percebi que a maior parte deles era narrada por dois Chinaski: Hank e Henry, que imagino ser a mesma pessoa, ou pai e filho. não é deixado claro e não atrapalha a história, porque são contos completamente soltos.)
em todos eles você percebe a presença da sociedade depravada, sem esperança, escondida nos becos e nas sombras, querendo viver mas sem ter realmente algum motivo. e isso é interessante, você pensar em quão simples, cru e nu é o desejo humano de se manter respirando. não tem motivo, ele só continua ali que nem aquela vela do bolo em aniversário que não importa quantas vezes você sopre ela sempre acende de novo.
sobre a escrita em si, o bucowski escreve como ninguém. às vezes me pegava pensando que a linguagem é um pouco repetitiva, mas acho que isso acontece mais pelos contos terem assuntos tão parecidos às vezes. de qualquer forma, é aquela escrita de poucas palavras, que você lê em uma respiração e você sente o peso daquela realidade. ele não faz descrições, ele cita fatos e as imagens e cheiros e miséria vêm na sua cabeça.