Quel 19/04/2016
Que a partida se inicie...
Logo de início o autor joga uma bomba para seus leitores, uma personagem central que nem ao menos sabe quem ela é, sim...Myfanwy Thomas, ou seja lá quem for que agora habita o corpo de quem um dia foi Myfanwy Thomas, não sabe qual sua verdadeira identidade. Ela acorda rodeada de corpos e a única coisa que poderá ajuda-la a descobrir as respostas que invadem sua mente é um pedaço de papel.
Agora ela se vê em um dilema, aceitar essa misteriosa vida, da qual nada sabe e confiar nas cartas que foram deixadas aos seus cuidados, ou partir em busca de uma nova identidade. Myfanwy acredita não ter muita escolha, pois descobre estar correndo grande perigo, pois seu antigo 'Eu' ocupava um cargo importantíssimo em uma secreta organização do governo britânico denominada Checquy, e ao que tudo indica, pelo menos nas cartas, alguém de dentro da organização está querendo acabar com sua existência.
Essa organização é responsável pela segurança de todo o país e atua de forma sigilosa contendo supostos ataques e ocultando os eventos sobrenaturais que ocorrem. Esta adota um sistema hierárquico incomum, composta por humanos "normais", ou seja isentos de qualquer poder sobrenatural e humanos que nasceram ou adquiriram com o passar do tempo características incomuns, os mais diferentes e estranhos poderes imagináveis. Os indivíduos são organizados como em um jogo de xadrez e cada um deles possuem funções distintas dentro do Checquy. Ao descobrir seu lugar na organização, como uma das poderosas 'Torres', Myfanwy começa a se questionar sobre quem seria o mandante de seus atentados e quais seus motivos para querer elimina-la.
Em meio a muitos conflitos a personagem vai descobrindo alguns segredos da organização e a existência de uma grande força inimiga que busca a destruição dos humanos e a hegemonia pelo poder, seres monstruosos com características estruturais adaptadas e melhorados geneticamente, os Grafters, que apresentam uma grande ameaça para a humanidade.
Torre Thomas agora está diante de um enorme problema, o ressurgimento dos Grafters e a luta por sua própria sobrevivência.
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Eu poderia esperar muitas coisas dessa obra, menos o que estava por vir...
O enredo é bem interessante e criativo, como a maioria dos livros de fantasia que encontramos por ai, e aos poucos juntamente com a protagonista, vamos descobrindo os mistérios por trás da existência de quem é Myfanwy Thomas, sua origem, seus poderes e seus medos, como também os segredos escondidos pelos membros da organização secreta a qual ela faz parte.
No decorrer da obra vamos conhecendo mais personagens que compõe a organização, todos os membros do alto escalão, as demais torres (responsáveis principalmente pelas questões burocráticas e administrativas), os cavalos (estrategistas de guerra, aqueles que entram em campo nos momentos de conflito e partem para o ataque), os peões (indivíduos que podem ser descartados, possuem poderes mas caso sejam eliminados ninguém sentirá muita falta, pois logo são substituídos) entre outros.
Também ficamos cientes que os humanos que não possuem poderes especiais atuam na organização como meros serviçais, o que gera uma certa amargura por parte de alguns deles. Isso me lembrou um pouco da essência de 'Harry Potter', as diferenças entre os bruxos e os trouxas e embora os últimos não saibam da existência dos demais (a não ser que na sua família tenha alguém da "espécie") em 'A Torre' temos humanos que ignoram completamente esses fatos sobrenaturais e humanos que trabalham a serviço da organização secreta.
Embora a obra seja bastante original a leitura é em grande parte cansativa, devido ao caminhar lento das descobertas e as inúmeras voltas que o autor dá ao descrever os personagens e suas origens.
A narrativa é intercalada entre os fatos que estão ocorrendo no presente, e as lembranças e revelações deixadas pela "antiga" Myfanwy Thomas nas cartas. Em partes essa característica é bem legal, pois assim o leitor fica a par de muitas informações relevantes para o contexto, mas também pode gerar uma certa confusão, pois essas constantes idas e vindas são utilizadas muitas vezes como forma de delongar o enredo.
Mesmo curtindo essa trama fantástica, no decorrer da leitura eu pensava comigo mesma "Nossa essa será a primeira obra da editora na qual eu terei que classificar com uma nota inferior da que estou acostumada", e isso me chateou por um longo período.
A história se arrastava e eu não via outra alternativa, tinha que terminar mesmo assim. Até que então, pouco mais da metade do livro, o autor despretensiosamente cria toda uma reviravolta na trama, daquelas que deixam o leitor com cara de bobo. É, eu mordi a língua...como assim?
"Não vai ser dessa vez queridinha, você obrigatoriamente terá que aumentar sua 'nota'!", pois o clímax e o desfecho me deixaram tontinha a ponto de passar de uma leitura massante para algo totalmente surpreendente.
Sei que com esse comentário alguns podem até pensar em desistir da leitura, mas por favor não o façam! Persistam e assim poderão comprovar o que estou dizendo. E só estou mencionando isso para que todos saibam o poder que um bom final tem sobre toda a obra.
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Como a obra foi cedida em formato digital, não tenho muito o que falar da diagramação, preciso conferir a edição física para formar uma opinião a respeito. Mas quando se trata da capa, ai sim... eu tenho que confessar, ela foi um dos motivos de eu ter escolhido essa obra para ser uma das primeiras leituras de 2016, está simplesmente linda e embora não revele muito sobre o que iremos encontrar no decorrer do enredo, faz alusão ao sistema formado pela organização.
E pasmem-se, eu já estou louca para conferir a continuação, intitulada nos Estados Unidos 'Stiletto', ainda sem previsão de lançamento no Brasil.
Recomendo a obra para os fãs de fantasia, aqueles que querem ir além do "mais do mesmo" e viajar em um enredo e conhecer personagens totalmente fora do comum.
site: http://literaleitura2013.blogspot.com.br/2016/04/resenha-torre.html