regifreitas 11/09/2023
A VIAGEM DO ELEFANTE (2008), de José Saramago.
Em pleno século XVI, Dom João III, rei de Portugal, decide presentear o arquiduque austríaco, Maximiliano II, com um elefante asiático. Desse modo, Salomão, o elefante, o indiano Subhro, seu conarca (adestrador e tratador de elefantes), junto de uma comitiva de soldados e serviçais, percorrerão o trajeto de Lisboa a Valladolid, na Espanha. Na cidade espanhola, uma tropa austríaca tomará posse do presente e o conduzirá, em uma longa jornada, repleta de desafios e surpresas, passando por Espanha, Itália, pelos alpes suíços, até a cidade de Viena, onde será entregue ao seu proprietário final, o arquiduque. Baseado em um fato real, do qual se tinham pouquíssimas informações, Saramago preenche com sua reconhecida mestria e imaginação os interstícios dessa história, entregando-nos o que seria seu penúltimo romance lançado em vida.
Muitos consideram esta uma das obras menores do Nobel português. A primeira vez que a li, há pouco mais de dez anos, também acabei tendo essa mesma impressão. Relendo-a agora, e tendo um panorama mais amplo da produção do autor, consegui me envolver e apreciá-la bem mais. O estilo de escrita de Saramago, o domínio que ele tem da narração, tornam qualquer história contada por ele, no mínimo, digna de atenção.
Aqui, mais do que a própria viagem, as relações e diálogos travados entre os personagens são o ponto alto do livro. As complexidades da personalidade humana estão sempre na mira de Saramago, e, mesmo o menor personagem, o mais obscuro e ínfimo deles, vez ou outra nos surpreende com um lampejo de humor, astúcia ou discernimento. O próprio Salomão, embora não fale no sentido literal, é dotado de personalidade, pois, através do narrador, acessamos alguns dos seus sentimentos e pensamentos.
Então, A VIAGEM DO ELEFANTE é mais um exemplo do grande escritor que foi José Saramago, com seu estilo e habilidade únicas de contar histórias. Já estou me tornando repetitivo aqui sobre isso. É, sem sombra de dúvida, um dos maiores autores de todos os tempos, e não só entre os de língua portuguesa. E que grande sorte a nossa de podermos lê-lo no original!