Aione 11/03/2016Esperava de A Indomável Sofia um romance de época divertido, com uma protagonista de personalidade forte e um intenso romance na história. Ao encontrar parte dos elementos inicialmente pressupostos e, ao mesmo tempo, me surpreender com uma história ligeiramente diferente do que imaginei, tive certeza de que fui presenteada com essa leitura deliciosa de Georgette Heyer.
Quando Sir Horace precisa partir para o Brasil, deixa sua filha, Sofia, sob os cuidados de sua irmã, Lady Ombersley, que deve arranjar um casamento para a jovem. Descrita como “pequena” e “dócil”, Sophy acaba por surpreender a todos em Berkeley Square com sua personalidade alegre, impulsiva e extremamente franca – qualidades completamente destoantes do esperado para uma dama da sociedade londrina do início do século XIX. Pouco a pouco, a jovem passa a ajudar seus familiares e se envolve nas mais inusitadas situações, alterando por completo tanto a atmosfera do lugar quanto as relações ali existentes.
Foi impossível não me apaixonar pela leitura desde a primeira página. A escrita de Georgette Heyer é completamente deliciosa, mesclando, magistralmente, detalhes que dão riqueza as suas descrições com um humor irônico e sutil, capazes de proporcionar prazerosos momentos de divertimento. Foram muitas as passagens em que me peguei sorrindo e me deleitando com a leitura, além de ter adorado a maneira de como a autora compõe o cenário da trama, apresentando os costumes próprios da sociedade.
Além de uma escrita primorosa, Georgette Heyer construiu uma história complexa, que tanto prende a atenção do leitor quanto aguça sua curiosidade pelos próximos acontecimentos. Quando Sophy chega à Berkeley Square, Charles, seu primo mais velho, é visto como tirano pelos irmãos, que enfrentam, cada um a seu modo, diferentes obstáculos. E a protagonista não perde tempo: com seu jeito distinto, trata de por em prática seus planos ardilosos e ousados, dando um caráter singular à história. Ao invés de encontrarmos uma heroína envolvida com seus próprios problemas e se envolvendo em uma situação amorosa, como centro da trama, temos Sophy ocupada com as situações de seus familiares e, indiretamente, desenvolvendo sua própria história e romance. Não só esse panorama me agradou por ser diferente da maioria dos livros do gênero, como também proporcionou grande parte da satisfação oferecida pela obra, já que as atitudes de Sophy são completamente corajosas, inovadoras e, consequentemente, divertidas, por serem tão chocantes à época.
Como Georgette Heyer faleceu na década de 70 e A Indomável Sofia foi originalmente publicado em 1950, as características do livro diferem de boa parte dos romances de época escritos atualmente. Sendo assim, a obra se aproxima muito mais do estilo de Jane Austen – a quem Heyer foi bastante comparada -, o que implica no romance do enredo ser extremamente sutil e completamente distante dos tórridos envolvimentos dos usuais romances de época adultos a que estamos acostumados. Sendo assim, quem procura diálogos intensos, grandes declarações de amor ou, até mesmo, cenas eróticas, pode se frustrar ao não encontrar tais elementos em A Indomável Sofia. De minha parte, fiquei extremamente satisfeita pela obra não ser assim; como mencionei, ela adquiriu seu aspecto singular justamente por esse não ser o foco da trama, além das cenas mais picantes normalmente tornarem a leitura mais monótona para mim quando aparecem em demasia. Isso, entretanto, não significa que o livro não tenha sua pitada de romance; ao contrário, ele está sim presente, porém de forma sutil, mais evidente nas entrelinhas, e amei a maneira de como ele foi pouco a pouco construído e apresentado, por meio de olhares e sentimentos mascarados pelos próprios personagens.
Em linhas gerais, A Indomável Sofia entrou para minha lista de favoritos do gênero, me conquistando pelo divertimento proporcionado; pela história rica e bem elaborada; pelas personagens encantadoras e, por fim, por suas características que o tornam único. Leitura obrigatória aos fãs de romances de época que buscam uma leitura leve e extremamente cativante! Só consigo pensar no quanto demorei para conhecer Georgette Heyer, e no quanto desejo ler mais de suas obras.
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http://minhavidaliteraria.com.br/2016/03/11/resenha-a-indomavel-sofia-georgette-heyer/