Mr. Jonas 29/10/2019
As Viagens de Gulliver
Durante séculos, a Irlanda sofreu inúmeras invasões. Finalmente, em 1171, foi submetida ao domínio inglês. Em 1541, Henrique VII, soberano britânico, adotou o título de rei da Irlanda e tentou impor reformas contrárias às tradições do país. Com isso, motivou uma série de violentas insurreições populares que tentavam reconquistar a independência. Jonathan Swift nasceu em Dublin, Irlanda, em 1667. Morreu na mesma cidade em 1745. Foi diplomata, eclesiástico e político, e um defensor de sua pátria. Traduzindo o espírito do seu povo, portanto, não podia deixar de ter um olhar crítico em relação à Europa, que sempre destratou a Irlanda. Originalmente, seu livro mais famoso intitulava-se Viagens em diversos países do mundo em quatro partes por Lemuel Gulliver, a princípio cirurgião e, depois, capitão de vários navios. De fato, trata-se do relato das viagens aos reinos de Lilipute, Brobdingnag, Labuta e ao país dos houyhnhnms. Alguns desses reinos poderiam ser considerados paródias de nações europeias. Lilipute e Blefescu, eternamente em disputa, representariam, respectivamente, a Inglaterra e a França. A Alemanha estaria retratada no reino de Brobdingnag e a Itália, talvez, no de Labuta. Com isso, Swift desferiria críticas a costumes e características de cada uma dessas nações... Mas talvez haja um sentido mais profundo em As Viagens de Gulliver. Cada um dos reinos descritos tinha a si como o centro do mundo, a ponto de não acreditar que algo tão diferente dele, como Gulliver demonstrava ser, pudesse existir. Então, em um lugar Gulliver era um gigante, noutro uma miniatura, quase um brinquedo. E mais os hábitos tão diversos, as fantasias e as crenças de cada povo...
Talvez Swift estivesse enviando uma mensagem por meio do seu livro, lançando um apelo à compreensão de que todo povo tem sua cultura própria, que não é superior ou inferior a nenhuma outra, enquanto cada povo se der ao trabalho de conhecer as demais e respeitá-las. Do contrário, o povo fechado em si mesmo, justamente aquele que se julga único e absoluto, esse, sim, por ignorância da complexidade do mundo, cai no ridículo.