Thiago275 08/06/2017
Lágrimas de Portugal
Lembro-me que li a resenha desse livro há muitos anos e fiquei com a curiosidade aguçada. Meus irmãos tinham acabado de nascer. Hoje eles têm 11 anos e só agora o livro chegou às minhas mãos.
Pois bem. A obra relata a história de Pedro de Saxe e Coburgo, filho da princesa Leopoldina, irmã mais nova da princesa Isabel. Por anos, ele foi o único neto do imperador Pedro II e, portanto, era destinado a ser Pedro III.
Vamos acompanhando a vida do jovem nobre, que cresceu com essa ilusão. Até que Isabel tem um filho, Pedro de Alcântara, Príncipe do Grão-Pará, e Pedro de Saxe é relegado ao terceiro lugar na linha de sucessão. Primeiro golpe.
O livro foca mais nos anos finais da monarquia brasileira. E em um ponto que nunca havia lido em livros de história:a a contenda da sucessão do Imperador. Isabel, a herdeira legítima, era impopular por causa de sua beatice e por causa do marido, Conde D'Eu, francês, dono de cortiços, mão-de-vaca, em tudo malquisto pelos brasileiros da época.
Pedro de Saxe, príncipe, era letrado, estudioso como o avô, tinha boas relações sociais e era visto por parte da elite como o homem certo para levar a monarquia aos novos tempos do século XX.
Lemos sobre as guerras nos bastidores entre os dois times, entre os parentes que não se gostavam, tudo feito à sombra das barbas do imperados, homem pacífico por natureza.
Até que veio a Lei Áurea, tiro de misericórdia da monarquia, o abandono dos barões do café, e a República, com o consequente exílio da família imperial.
Nem assim, o jovem Pedro desiste do trono. Porém, já começam os primeiros sinais da doença mental que o acometeria. Com delírios, manias de perseguição, melancolia, depressão, o príncipe ainda tinha esperanças de que a monarquia seria restaurada e ele seria elevado ao trono.
Ledo engano. Aos poucos, ele vai sendo abandonado pelos homens que considerava seus amigos, e agora se voltam para seu irmão mais novo. E o triste fim, em um sanatório na Europa, onde ficou internado por muitos anos após ter tentado o suicídio, apenas fecha essa história da forma mais melancólica possível.
O tema do livro é muito interessante, mas não gostei da forma como a autora o abordou. De posse de muitas e preciosas fontes, como diários, cartas, notícias de jornais da época, Mary Del Priore transformou a matéria em um quase romance-histórico, descrevendo os fatos juntamente com as emoções dos personagens - só não existem diálogos.
Se por um lado, essa opção literária traz mais dinâmica à leitura, por outro, entra num subjetivismo que pode esbarrar por vezes na ficção, o que não me agrada muito em obras desse gênero. Ou, no mínimo, não era o que eu esperava.
Mas vale a leitura, principalmente pela reflexão sobre o papel que os reis e imperadores realmente tinham. Será que governavam e mandavam ou eram simples joguetes de quem tinha o verdadeiro poder: dinheiro e terras.
Por exemplo, fiquei com a impressão de que Pedro de Saxe nunca teve chances reais de ocupar o trono, embora até o próprio Pedro II por vezes tenham manifestado, se não apoio, pelo menos não contrariedade à ideia. Acredito que ele foi apenas vítima de nobres interesseiros que plantaram uma discórdia dentro da própria família imperial, que sem um norte, acabou por enfraquecer-se e não conseguir fazer frente à república.
Terminando o livro, não pude deixar de lembrar de um dos versos mais famosos de Fernando Pessoa: "Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!". Pois embora tivesse ascendência alemã e portuguesa, o lado doentio e melancólico dos Bragança acabou por sufocar e engolir o príncipe com porte e refinamento germânico.