Marcos606 17/04/2023
Poema épico em alemão médio escrito por volta de 1200 por um austríaco desconhecido da região do Danúbio. Está preservado em três manuscritos principais do século XIII, A (agora em Munique), B (St. Gall) e C (Donaueschingen); a erudição moderna considera B como o mais confiável.
O conteúdo do poema divide-se em duas partes. Começa com dois cantos que apresentam, respectivamente, Kriemhild, uma princesa da Borgonha de Worms, e Siegfried, um príncipe do Baixo Reno. Siegfried está determinado a cortejar Kriemhild, apesar do aviso de seus pais. Quando ele chega em Worms, ele é identificado por Hagen, um capanga do irmão de Kriemhild, o rei Gunther. Hagen então relata os antigos feitos heroicos de Siegfried, incluindo a aquisição de um tesouro. Quando a guerra é declarada pelos dinamarqueses e saxões, Siegfried se oferece para liderar os burgúndios e se destaca na batalha. Após seu retorno, ele conhece Kriemhild pela primeira vez, e suas afeições se desenvolvem durante sua residência na corte.
Neste ponto, um novo elemento é introduzido. A notícia chega à corte de que uma rainha de força e beleza excepcionais só pode ser conquistada por um homem capaz de igualar suas proezas atléticas. Gunther decide cortejar Brunhild com a ajuda de Siegfried, a quem promete a mão de Kriemhild se for bem-sucedido. Siegfried lidera a expedição à residência de Brunhild, onde se apresenta como vassalo de Gunther. Nas disputas que se seguem, Gunther segue os movimentos dos feitos realmente realizados por Siegfried em um manto de invisibilidade. Quando Brunhild é derrotada, ela aceita Gunther como seu marido. Siegfried e Kriemhild se casam conforme prometido, mas Brunhild continua desconfiada e insatisfeita. Logo as duas rainhas brigam; Brunhild ridiculariza Kriemhild por se casar com um vassalo, e Kriemhild revela o engano de Siegfried e Gunther.
A segunda parte do poema tem uma estrutura muito mais simples e trata basicamente do conflito entre Hagen e Kriemhild e sua vingança contra os burgúndios. Etzel (Attila), rei dos hunos, pede a mão de Kriemhild, que aceita, vendo as possibilidades de vingança em tal união.
No poema alguns elementos de grande antiguidade são discerníveis. A história de Brunhild aparece na literatura nórdica antiga. As breves referências aos feitos heroicos de Siegfried aludem a várias histórias antigas, muitas das quais são preservadas na Edda poética escandinava, na saga Vǫlsunga e na saga Thidriks, na qual Siegfried é chamado de Sigurd. Toda a segunda parte da história, a queda dos burgúndios, aparece em um poema da Edda mais antigo, Atlakvida (“Balada de Atli”). No entanto, a Canção dos Nibelungos parece não ser uma mera junção de histórias individuais, mas sim uma integração de elementos componentes em um todo significativo.
O poema fora escrito em uma época da literatura alemã medieval em que a ênfase atual estava nas virtudes “corteses” de moderação e refinamento de gosto e comportamento. A Canção, com suas exibições de emoção violenta e sua ênfase intransigente na vingança e na honra, em contraste, remonta a um período anterior e traz a marca de uma origem diferente - a literatura heroica dos povos teutônicos na época de suas grandes migrações. O assunto básico do poema também remonta a esse período, pois é provável que a história da destruição dos burgúndios tenha sido originalmente inspirada pela derrubada do reino da Borgonha em Worms pelos hunos em 437 d.C, e a história de Brunhild e Siegfried pode ter sido inspirado por eventos da história da dinastia merovíngia dos francos por volta de 600 d.C. Grande parte da qualidade heroica das histórias originais permaneceu no poema, particularmente na concepção do autor de Hagen como o protetor implacável da honra do rei Gunther.