Renata Benia 03/11/2014
Publicidade. Realidade ou ficção?
Evidente se faz o fato de que, hoje, se vive em um mundo de imagem, um mundo que consome imagem, e, sobretudo, um mundo o qual se impregna a ideia e princípios de padrões estéticos impostos por tais imagens, uma vez que esta é um meio de comunicação tendo em vista a transmissão de uma mensagem à sociedade seja ela com fins de persuasão ou não -.
Conseguinte a isso, tal fato abre uma visão bem clara de que as imagens, especialmente, no meio publicitário, têm um papel transformador na sociedade, basta atentar às mudanças de costumes, hábitos, bem como aos estereótipos consagrados em determinadas culturas. Portanto, a fotografia publicitária não deixa de transmitir a mensagem proposta, ainda que a mensagem a ser comunicada não esteja totalmente explícita, pois a interpretação é feita de diferentes maneiras pelo público a partir da construção do texto, evidentemente.
Deste modo, há quem diga que uma imagem vale mais que mil palavras, e de fato, por vezes, essa afirmação é correta, posto que a imagem trás consigo uma carga significativa por ser um signo o qual as pessoas o interpretam e associam a algo a partir de suas experiências, isto é, qualquer que seja a imagem é um meio de comunicação, haja vista que direciona uma mensagem àquele que visualiza a mesma.
No entanto, existem controvérsias quanto a isto. Poder-se-ia dizer que nem sempre uma imagem é eficaz na transmissão de uma mensagem, e que, portanto, precisar-se-á de um texto que a complemente a fim de que esta mensagem seja bem captada e, por conseguinte, entendida. O mesmo ocorre com as palavras; nem sempre somente estas conseguem passar uma mensagem, e, consequentemente, necessitaria de uma imagem que a complemente para que a informação seja alcançada e por fim, bem recebida levando ao entendimento. Embora uma mensagem seja composta por uma imagem e um bom texto, em certos momentos pode não atingir o público, pois a imagem não desperta interesse, não é bem composta, produzida. Do contrário, com um texto ruim, e uma boa imagem, o anúncio não se torna interesse, por isso, se faz necessário a ideal construção do anúncio atentando para as duas ferramentas; imagem e texto. É preciso que um seja complemento do outro. Uma vez feito isto, a publicidade terá um forte resultado.
Segundo Toscani, as imagens publicitárias constituem hoje uma parte imensa de nossa cultura, nossos conhecimentos, nosso gosto, nosso estilo, e inclusive nossa moral. O trabalho de um fotógrafo, de um artista, deve ser o de contribuir para o renascimento da cultura, de levar para ai um sentido crítico, um estilo desorientador, concepções novas, que os imbecis chamam sempre de escândalo. Essa afirmação norteia um paradigma não muito recente; o papel da imagem e o seu uso.
Qualquer que seja o fotógrafo, este se preocupada com a mensagem que vai transmitir, quer seja pela forma de compor ou tratamento da imagem. No entanto, Toscani refuta as imagens sem senso crítico na publicidade. Isso é pouco contraditório (esperar que na publicidade haja constantemente produção de fotos artísticas), uma vez que na publicidade, muitas vezes se envolve negócios, ou seja, a imagem passa a ter um papel de vender, de persuadir, e não de fazer o consumidor refletir sobre tal imagem. Existe uma ponte enorme construída de muitas diferenças entre a fotografia artística, e a fotografia publicitária. É quase impossível esperar que a fotografia publicitária seja uma arte e desperte forte expressividade em prol da construção de interpretação e reflexão do que é exposto, se essa tem por função anunciar um produto, vender, conseguir público, etc. Essa imagem não terá uma carga significativa, já que não revela a realidade tal como ela é, muito por possuir elementos estéticos ou atrativos a depender da cultura e público para fisgar o consumidor.
Nessa ótica, a fotografia publicitária muito nos fala de um princípio excessivamente comercial, embora possa ser produzida para fins de levantamentos de conceitos, ideias e expressividade. Contudo, em partes, os argumentos que afirmem que a fotografia seja arte pode até ser convincentes, mas é anulado quando se fala de uma propaganda que tem por intuito anunciar, vender e conseguir consumidores, ou seja, apenas se enquadra em propagandas com o objetivo de informar, conscientizar e dentre outros pontos acerca da construção, firmação, bem como mudança de ideologias.
Portanto, ficar na zona de conforto, na mesmice criativa, apenas leva o público a não pensar sobre, e pior, não perceber sua peça, tornando-a, assim, vazia, sem significados, mas com apenas um caráter econômico, de negócios, de vendas. Por isso, há de se usar a imagem em prol da reflexão do consumidor, assim como há de se usar o texto em prol da reflexão do consumidor para o que está acontecendo no exato momento com o mundo em que vive, principalmente no que tange à mensagem que é destinada em tal anúncio. Não bastam apenas enfiar de goela abaixo imagens meramente bonitas e interessantes, mas uma boa relação imagem texto, texto imagem, e de maneira especial, saber atrair a sociedade, a qual recebe inúmeras imagens e informações diariamente.
A fotografia é uma forma de expressão e representação de um signo indicial que perdura até os dias atuais no tocante ao convívio no cotidiano da sociedade. Evidente é o fato de que tal forma de expressão, ao decorrer do tempo, não perde o seu valor, mas sim, leva a cenários diferentes, a exemplo da publicidade.
É interessante não somente observar, mas refletir o grande poder que a publicidade tem, e, sempre tivera. Sempre aliada à imagem, passa a ser uma ferramenta de controle, no tocante à uniformização de padrões, gostos e modos de vida, induzindo a sociedade a ser uma sociedade de consumo. No entanto, essa capacidade de representar a natureza real dos produtos é um tanto quanto distorcida, já que, muitas vezes, para não omitir fatos ou sugerir algo que não seja verídico, se faz uma tentativa de maquiar fatos atrelados na construção da imagem. E é isso que se nota nas primeiras imagens fotográficas publicitárias, elas carregavam um nível baixo de persuasão, havia pouca exploração, sugerindo apenas uma linguagem denotativa do produto.
Não obstante o fator persuasivo ou convincente que a publicidade acarreta, é simples notar a imagem é uma forte aliada a tal construção de modelos e padrões de vida. O consumidor, enquanto ser humano vê alguma fotografia, quer seja da modelo super magra, quer seja da bela atriz consagrada do cinema, quer seja de qualquer outro tipo de estereótipo de beleza, e cria uma relação com esta, se espelha na imagem, cria certo tipo de aproximação, aquilo lhe agrada, ele almeja por aquilo, e então, fixa no seu consciente que determinadas características e/ou padrões é o certo para que ele se insira em determinado grupo, para que ele seja notado. Afinal, todos querem ser notado, esse é o princípio do ser humano, ao passo em que a imagem firma esse nível de personalidade.
Deste modo, é natural, tal como aponta Toscani, que, o ícone substituiu o verbo, ao passo em que a imagem passa a ser lida como fonte de algo verídico, e que a manifestação desta vai muito além das palavras existentes, isto é, tudo é acerca da imagem, uma vez que essa tem grande poder de expressão e conteúdo dramático, calando assim qualquer texto. No entanto, se vive em um mundo de imagem, que consome imagens, mas se vive em um mundo que não analisa o que existe por trás dela, isto é, não há a importância em dedicar-se a analisar uma imagem, quiçá de entender a mensagem proposta.
Visto que a imagem por vezes denota algo que acontecera, registra momentos, portanto, tem-se a ainda de que é algo real, o que nem sempre de fato é. A publicidade mostra aquilo que se pretende mostrar ao observador, assim como a fotografia o faz. Ambos captam um determinado momento a fim de comunicar-se com leitor que vê a imagem, mas nem por isso, pode-se dizer que é a denotação de realidade. Uma vez que se pensa no que irá inserir em uma cena ao produzir uma fotografia, uma vez que se pensa no que irá inserir em um anúncio, quais elementos a serem inclusos, pensados e por fim executados a serem, por fim, captados, está sim manipulando a realidade tal como se deseja ilustrar ao observador.
Por conseguinte à tal alteração da realidade, ou até mesmo o "maquiamento" dos fatos, se vê em fotografias manipuladas, o que se vê na publicidade: modelos a serem seguidos.
Faz-se claro que é fato, no entanto, não se pode pensar que as imagens cheguem a um nível tão surreal de exposição de realidade, que seja usada de modo visivelmente prejudicial. Afinal, qualquer que seja a pessoa e/ou instituição, estas não querem passar imagens negativas, mas sim positivas, é natural tal instinto. No entanto, o problema da popularização de imagens, do uso exacerbado de tecnologias que ofusquem a interpretação destas imagens, é um aspecto negativo.
Bom seria se a sociedade tivesse, em sua grande parte, senso crítico para absorver o que de fato é real ou não -, ou ainda, especialmente, entender uma boa imagem, e buscar relacionar-se com ela de modo mais expressivo, com um olhar mais apurado. Compreendendo tal ideia, se entende que embora a popularização da fotografia, e por conseguinte, a poluição visual de inúmeras imagens manipuladas servindo de modelos à sociedade tenha impacto negativo no que se refere à personalidade, sempre existirá aqueles que buscarão na fotografia o lado expressivo da realidade, aguçarão seu olhar de mundo, e principalmente, do que de fato é real ou não em uma imagem, bem como o que se pode transmitir a depender desta.
-
Bom, esse livro me fez abrir um horizonte acerca do que se entende como discussão de relacionamento com imagens enquanto fator potencializador de emoções. Gostei, me apaixonei, e recomendo, tanto pra quem se interessa por fotografia enquanto arte e impulsionadora de conceitos ideológicos, tanto quanto pra quem se interessa por Comunicação e Publicidade e Propaganda.