O Mito de Sísifo

O Mito de Sísifo Albert Camus




Resenhas - O Mito de Sísifo


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Tasha 24/03/2024

Minha vida pode encontrar ali um sentido: isso é ridículo
"Trata-se apenas de confessar que isso 'não vale a pena'. Viver, naturalmente, nunca é fácil. Continuamos fazendo os gestos que a existência impõe por muitos motivos, o primeiro dos quais é o costume. Morrer por vontade própria supõe que reconheceu, mesmo instintivamente, o caráter ridículo desse costume, a ausência de qualquer motivo profundo para viver, o caráter insensato da agitação cotidiana e a inutilidade do sofrimento."

Esperei TANTO pra ler esse livro, estou obcecada pela filosofia de Albert Camus.
Bem, o livro usa a alegoria de Sísifo para explicitar a ideia do absurdo da existência, resumidamente, ele foi condenado para todo sempre pelos deuses a empurrar uma pedra até o cismo de um monte, caindo a pedra invariavelmente da montanha sempre que o topo era atingido. E o que isso tem a ver com o ensaio? Camus compara a nossa vida com o castigo dado a Sísifo, por exemplo, todos os dias temos a mesma rotina de: acordar, comer, estudar, sair... e repete isso de novo e de novo.
Não é semelhante a empurrar uma pedra para ela cair de volta?

E é exatamente isso que Camus nomeia como o absurdo da existência. Fazemos/ vivemos para quê? Qual é o sentido? Qual é o propósito? A conclusão é de que não há um. E então, buscamos algo para que possamos alienar nossa angústia. Para isso, Camus dava o nome de suicídio.

"Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio."

O livro não trata só do suicídio literal, há o suicídio filosófico, no qual as pessoas buscam algo que a façam esquecer do absurdo que é a existência, por exemplo a religião. Mas para Camus é como tapar o sol com a peneira.

"Porque as doutrinas que me explicam tudo ao mesmo tempo me enfraquecem. Elas me livram do peso da minha própria vida, e no entanto preciso carregá-lo sozinho."

Então devemos todos nos matar? Segundo a minha pessoa, talvez ;)
Segundo Camus não é bem assim, ele diz para nós aceitarmos o absurdo, aprender a lidar com ele.

Por fim, é preciso imaginar Sísifo feliz.
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Mendes 23/03/2024

Iludida
Há muito tempo eu vinha querendo ler esse livro
fiz o possível pra comprar
vi vídeos sobre ele, achava mt interessante a historia e contexto
e quando fui ler simplesmente me decepcionei
é uma leitura complexa
de linguagem técnica e subjetiva
algumas frases e contextos até que fazem sentido em alguns momentos do livro
mas todo resto é muito confuso
esperava mais da narrativa e do autor
espero que os próximos livros dele seja mais acessíveis a leitura.
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Léo 23/03/2024

Leitura desafiadora. Houve momentos em que tive que ler e reler passagens até ter segurança quanto ao que entendi. De qualquer forma, é um livro denso -- e muito interessante --, que provavelmente revelará muito mais numa futura releitura.

Aqui o autor debate, através de sua erudição, nossa condição de homens conscientes frente ao absurdo da existência, bem como a antinomia e as contradições com as quais lidamos em nossa jornada que tem um único final possível: a morte.

Será que a única saída possível seria o suicídio? É preciso imaginar Sísifo feliz.
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luisfreits 21/03/2024minha estante
Imagine Sísifo feliz? imediatamente


Uma Dose de Literatura 21/03/2024minha estante
É preciso imaginar!!! Kkkkkkkk




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SôSô 18/03/2024

A obra, O Mito de Sísifo, de Albert Camus, nos coloca frente a frente com questões complexas como, por exemplo, o suicídio. Segundo Camus, o suicídio é o único problema filosófico. Muitos visualizam no suicídio somente uma maneira de conseguir o que almejam, a saber, extirpar o absurdo da existência. A morte passaria, então, a ser uma maneira de escapar ao absurdo, importando apenas a relação estabelecida entre o homem, no silêncio do seu coração, e o suicídio.
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gustavo (com âGâ minúsculo) 14/03/2024

O materialismo e o existencialismo são termos complementares
Me peguei esses dias, numa observação antropológica do humano através do silêncio e a manifestação do absurdo, o nervosismo hediondo do dia a dia, as conversações sem fundamentos que preenchem temporariamente as lacunas do nosso ócio, tudo de certa forma se convém na ideia do absurdismo, elaborada por Albert Camus, o manifesto irracional e a animosidade aparentemente sem nexo do dia a dia nos desprende das amarras do julgamento, os credos se desaparecem como ferramentas sem objetivos na racionalidade prática do capitalismo e no final do dia o nosso sonho confortador é imaginar o idealismo como salvador e a conquista temporária das ideias através da carne, pendurando pelo desinteresse repentino da conquista e o entrelaçamento do tédio ao desejo próspero que ira preencher nossa ilucidez.
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zeqhugo 14/03/2024

Não precisa ser filósofo para dizer algo de valor.
É irônico falar de valor no título porque na verdade esse livro me fez pensar demais sobre o que valor significa. Mas é, Camus é um autor e não um filósofo mas ainda conseguiu dizer algo com o mesmo impacto de uma filosofia, muito interessante e vou sempre retornar para esse livro.
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yvnvitx 11/03/2024

O mito de Sísifo, de Albert Camus
Neste ensaio filosófico, Camus trata do suicídio, assunto
que segundo o autor é a única questão de fato importante da filosofia.

No texto, Camus compara a condição humana com o mito de Sísifo, história grega que relata como um rei grego caiu em desgraça ao ser castigado pelos deuses com a sina de rolar uma pedra montanha acima pela
eternidade, apenas para ver a pedra rolar montanha abaixo logo após.

O texto é muito complexo, Albert cita diversos filósofos
existencialistas e figuras clássicas da literatura, como Don Juan e Hamlet.

Confesso que acredito não ter absorvido 100% do livro por falta de costume com esse tipo de texto e intimidade com certos conceitos filosóficos, mesmo assim, pude grifar diversas passagens que considerei interessantes e que mesmo isoladas do restante da obra, fornecem grandes ideias e reflexões ao leitor, espero revisitar essa obra no futuro e conseguir compreendê-la como um todo.
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maelenaab 09/03/2024

É preciso imaginar Sísifo feliz
Ao iniciar a leitura do Mito de Sísifo, já somos apresentados aos termos: absurdo, suicídio e filosofia. Não que estejam conectados ao mesmo tempo, mas Camus traz abordagens diferentes que despertam interesse em continuar lendo sobre essa ótica. Falo isso porque já está na minha lista alguns outros autores citados na obra (Franz Kafka e Dostoiévski). De forma geral, gostei do livro mas, ainda me percebendo leiga no gênero literário, me senti sem gás para continuar o mesmo ânimo no livro todo. Alguns capítulos foram mais fluidos e outros de difícil entendimento. A edição específica configura textos além do Mito de Sísifo e, para mim, foi uma surpresa boa conhecer mais desse universo. Recomendo, mas recomendo para quem já despertou a leitura no segmento da filosofia. Para finalizar, deixo o trecho que mais me marcou: Toda alegria silenciosa de Sísifo consiste nisso, seu destino lhe pertence e a rocha é sua casa. A própria luta para chegar ao cume basta para encher o coração de um homem. É preciso imaginar Sísifo feliz!
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book.hiraeth 07/03/2024

É preciso imaginar Sísifo feliz.
Uma releitura depois de 7 anos, após um amigo do cursinho ter tomado um monte de pílulas e ir para a aula e ter uma convulsão. Bem nesse dia estávamos vendo Camus para o vestibular, creio que nunca vou esquecer desse ocorrido que terminou em uma tragédia. Ironicamente, fiquei obcecada por tentar entender o absurdo, mas nunca consegui reler pelo trauma. O Mito de Sísifo é um livro escrito no formato ensaio pelo filósofo argelino-francês Albert Camus, e publicado em 1942. Por ter sido escrito durante o período da Segunda Guerra Mundial ? quando o mundo estava completamente absurdo ? a obra de Camus, com uma linguagem densa e complexa, exerceu grande influência sobre toda uma geração. Tratando sobre o absurdo e o suicídio. O grande diferencial desta obra é que destaca um mundo imerso em irracionalidades.
Apesar de ser um corpúsculo de 140 páginas, acompanhar todo o raciocínio do autor é um desafio. Suas ideias não são simples, é preciso ler ingerindo aos poucos, para absorver o máximo que conseguir.

Bom, o título do livro remete a um mito em que o ser chamado Sísifo é condenado pelos deuses a empurrar uma pedra por toda uma montanha até o seu topo. Chegando lá, a pedra rola de volta para a base, e Sísifo precisa refazer todo o trajeto. Isso, durante toda a eternidade.
A alegoria é usada por Camus para explicitar a ideia do absurdo da existência. E por que absurdo? Porque nossa vida segue exatamente o mesmo pressuposto. Nós nascemos e temos de viver uma vida corriqueira que não dará em nada, para, no fim, ter o mesmo destino: a morte.

?Camus dizia que o único verdadeiro papel do homem, nascido em um mundo absurdo, era viver, ter consciência de sua vida, de sua revolta, de sua liberdade".E o próprio Camus explicou como havia concebido o conjunto de sua obra: ?No início eu queria exprimir a negação. Em três formas: romanesca - foi O estrangeiro; dramática - Calígula, O equívoco; ideológica - O mito de Sísifo. E previa o positivo em três formas também: romanesca - A peste; dramática - O estado de sítio e Os justos; ideológica - O homem revoltado. Já entrevia uma terceira categoria, em torno do tema do amor".

Existe um fato evidente que parece inteiramente moral: é que um homem é sempre a presa de suas verdades. Uma vez reconhecidas, ele não saberia se desligar delas. E é preciso pagar um tanto por isso. Um homem que tomou consciência do absurdo se vê atado a ele para sempre. Um homem sem esperança e consciente de sê-lo não pertence mais ao futuro. Isso está na ordem. Mas está igualmente na ordem que ele se esforce por escapar ao universo de que é criador.

o absurdo só morre quando alguém se desvia dele. Assim, uma das únicas posições filosóficas coerentes é a revolta. Ela é um confronto permanente do homem com sua própria obscuridade. É exigência de uma impossível transparência. E, a cada segundo, questiona o mundo de novo. Assim como o perigo apresenta ao homem a insubstituível ocasião de apoderar-se dela, também a revolta metafísica estende toda a consciência ao longo da experiência. Ela é presença constante do homem consigo mesmo. Ela não é aspiração, não tem esperança. Essa revolta é apenas a certeza de um destino esmagador, sem a resignação que deveria acompanhá-la.

O mundo apaixonado da indiferença que resmunga no fundo do coração não nos prece em nada monstruoso.

Não se descobre o absurdo sem ser tentado a escrever algum manual de felicidade? No entanto, só existe um mundo. A felicidade é o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inesperáveis.

Quando mais apaixonante é a vida, mais absurda é a ideia de perdê-la.
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michelly.sano 07/03/2024

É preciso imaginar Sísifo feliz.
Uma releitura depois de 7 anos, após um amigo do cursinho ter tomado um monte de pílulas e ir para a aula e ter uma convulsão. Bem nesse dia estávamos vendo Camus para o vestibular, creio que nunca vou esquecer desse ocorrido que terminou em uma tragédia. Ironicamente, fiquei obcecada por tentar entender o absurdo, mas nunca consegui reler pelo trauma. O Mito de Sísifo é um livro escrito no formato ensaio pelo filósofo argelino-francês Albert Camus, e publicado em 1942. Por ter sido escrito durante o período da Segunda Guerra Mundial ? quando o mundo estava completamente absurdo ? a obra de Camus, com uma linguagem densa e complexa, exerceu grande influência sobre toda uma geração. Tratando sobre o absurdo e o suicídio. O grande diferencial desta obra é que destaca um mundo imerso em irracionalidades.
Apesar de ser um corpúsculo de 140 páginas, o raciocínio que o autor desempenha é super complexo e não é fácil de acompanhar. (Demorei mais de 2 meses para ler). Recomendo. leiam!!

Bom, o título do livro remete a um mito em que o ser chamado Sísifo é condenado pelos deuses a empurrar uma pedra por toda uma montanha até o seu topo. Chegando lá, a pedra rola de volta para a base, e Sísifo precisa refazer todo o trajeto. Isso, durante toda a eternidade.
A alegoria é usada por Camus para explicitar a ideia do absurdo da existência. E por que absurdo? Porque nossa vida segue exatamente o mesmo pressuposto. Nós nascemos e temos de viver uma vida corriqueira que não dará em nada, para, no fim, ter o mesmo destino: a morte.

?Camus dizia que o único verdadeiro papel do homem, nascido em um mundo absurdo, era viver, ter consciência de sua vida, de sua revolta, de sua liberdade".E o próprio Camus explicou como havia concebido o conjunto de sua obra: ?No início eu queria exprimir a negação. Em três formas: romanesca - foi O estrangeiro; dramática - Calígula, O equívoco; ideológica - O mito de Sísifo. E previa o positivo em três formas também: romanesca - A peste; dramática - O estado de sítio e Os justos; ideológica - O homem revoltado. Já entrevia uma terceira categoria, em torno do tema do amor".

Existe um fato evidente que parece inteiramente moral: é que um homem é sempre a presa de suas verdades. Uma vez reconhecidas, ele não saberia se desligar delas. E é preciso pagar um tanto por isso. Um homem que tomou consciência do absurdo se vê atado a ele para sempre. Um homem sem esperança e consciente de sê-lo não pertence mais ao futuro. Isso está na ordem. Mas está igualmente na ordem que ele se esforce por escapar ao universo de que é criador.

o absurdo só morre quando alguém se desvia dele. Assim, uma das únicas posições filosóficas coerentes é a revolta. Ela é um confronto permanente do homem com sua própria obscuridade. É exigência de uma impossível transparência. E, a cada segundo, questiona o mundo de novo. Assim como o perigo apresenta ao homem a insubstituível ocasião de apoderar-se dela, também a revolta metafísica estende toda a consciência ao longo da experiência. Ela é presença constante do homem consigo mesmo. Ela não é aspiração, não tem esperança. Essa revolta é apenas a certeza de um destino esmagador, sem a resignação que deveria acompanhá-la.

O mundo apaixonado da indiferença que resmunga no fundo do coração não nos prece em nada monstruoso.

Não se descobre o absurdo sem ser tentado a escrever algum manual de felicidade? No entanto, só existe um mundo. A felicidade é o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inesperáveis.

Quando mais apaixonante é a vida, mais absurda é a ideia de perdê-la.
.Igor 07/03/2024minha estante
A partir do momento em que se percebe esse absurdo todo, não tem mais volta. 
Enfim, esse texto tá incrível, Michelly! Fazia tempo que não via Camus ser tão bem analisado.


michelly.sano 07/03/2024minha estante
Obrigada de coração.
Estava relutante em postar.


.Igor 07/03/2024minha estante
Nesse caso, como leitor recente dos seus textos, agradeço por ter vencido a relutância ^^


stephany :) 08/03/2024minha estante
que resenha extraordinária




Liar1 04/03/2024

Página 17
Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia.

Página 18
Mas vejo, em contrapartida, que muitas pessoas morrem porque consideram que a vida não vale a pena ser vivida. Vejo outros que, paradoxalmente, deixam-se matar pelas ideias ou ilusões que lhes dão uma razão de viver (o que se denomina razão de viver é ao mesmo tempo uma excelente razão de morrer).

Página 19
Começar a pensar é começar a ser atormentado. A sociedade não tem muito a ver com esses começos. O verme se encontra no coração do homem. Lá é que se deve procurá-lo.

Matar-se, em certo sentido, e como no melodrama, é confessar. Confessar que fomos superados pela vida ou que não a entendemos.

Página 22
Cultivamos o hábito de viver antes de adquirir o de pensar. Nesta corrida que todo dia nos precipita um pouco mais em direção à morte, o corpo mantém uma dianteira irrecuperável.

A esquiva mortal que constitui o terceiro tema deste ensaio é a esperança. Esperança de uma outra vida que é preciso "merecer", outro truque daqueles que vivem não pela vida em si, mas por alguma grande ideia que a ultrapassa, sublima, lhe dá um sentido e a trai.

Tudo contribui, assim, para embaralhar as cartas. Não foi à toa que até aqui jogamos com as palavras, fingindo acreditar que negar um sentido à vida leva obrigatoriamente a declarar que ela não vale a pena ser vivida. Na verdade, não há nenhuma medida obrigatória entre estes dois juízos.

Mas será que esse insulto à existência, esse questionamento em que a mergulhamos, provém do fato de ela não ter sentido? Será que seu absurdo exige que escapemos dela, pela esperança ou pelo suicídio?

Página 29
O mundo nos escapa porque volta a ser ele mesmo. Aqueles cenários disfarçados pelo hábito voltam a ser o que são. Afastam-se de nós.

Página 34
Toda a ciência desta Terra não me dirá nada que me assegure que este mundo me pertence. Vocês o descrevem e me ensinam a classificá-lo. Vocês enumeram suas leis e, na minha sede de saber, aceito que elas são verdadeiras. Vocês desmontam seu mecanismo e minha esperança aumenta. Por fim, vocês me ensinam que este universo prestigioso e multicor se reduz ao átomo e que o próprio átomo se reduz ao elétron. Tudo isto é bom e espero que vocês continuem. Mas me falam de um sistema planetário invisível no qual os elétrons gravitam ao redor de um núcleo. Explicam-me este mundo com uma imagem. Então percebo que vocês chegaram à poesia: nunca poderei conhecer. Tenho tempo para me indignar? Vocês já mudaram de teoria. Assim, a ciência que deveria me ensinar tudo acaba em hipótese, a lucidez sombria culmina em metáfora, a incerteza se resolve em obra de arte. Que necessidade havia de tanto esforço? As linhas suaves das colinas e a mão da noite neste coração agitado me ensinam muito mais. Voltei ao meu começo. Entendo que posso apreender os fenômenos e enumerá-los por meio da ciência, mas nem por isso posso captar o mundo. Quando houver seguido todo o seu relevo com o dedo, não saberei muito mais sobre ele. E vocês querem que eu escolha entre uma descrição certa, mas que nada me ensina, e hipóteses que pretendem me ensinar, mas que não são certas.

Página 36
A partir do momento em que é reconhecido, o absurdo é uma paixão, a mais dilacerante de todas. Mas toda a questão é saber se podemos viver com nossas paixões, se podemos aceitar sua lei profunda, que é queimar o coração que elas ao mesmo tempo exaltam.

Página 46
E levando ao extremo essa lógica absurda, devo reconhecer que tal luta supõe a ausência total de esperança (que nada tem a ver com o desespero), a recusa contínua (que não deve ser confundida com a renúncia) e a insatisfação consciente (que não se poderia assimilar à inquietude juvenil). Tudo o que destrói, escamoteia ou desfalca estas exigências (e em primeiro lugar a admissão que destrói o divórcio) arruína o absurdo.

Um homem é sempre vítima de suas verdades. Uma vez que as reconhece, não é capaz de se desfazer delas.

Página 48
Volto assim a Chestov. Um comentador transcreve uma frase sua que merece interesse: "a única saída verdadeira", diz ele, "é precisamente onde não há saída no juízo humano. Senão, para que precisaríamos de Deus? As pessoas só se dirigem a Deus para obter o impossível. Para o possível, os homens bastam."

Página 50
O homem integra o absurdo e nessa comunhão faz desaparecer seu caráter essencial que é oposição, dilaceramento e divórcio. Esse salto é uma escapatória.

Página 51
O homem absurdo, pelo contrário, não realiza esse nivelamento. Ele reconhece a luta, não despreza em absoluto a razão e admite o irracional. Recobre assim com o olhar todos os dados da experiência e está pouco disposto a saltar antes de saber. Ele só sabe que, nessa consciência atenta, já não há lugar para a esperança.

Página 55
Buscar o que é verdadeiro não é buscar o que é desejável. Se, para fugir da pergunta angustiante: "O que seria então a vida?", é preciso alimentar-se, como o asno, das rosas da ilusão antes que se resignar à mentira, o espírito absurdo prefere adotar sem tremor a resposta de Kierkegaard: "o desespero."

Página 62
O tema do irracional, tal como é concebido pelos existencialistas, é a razão que se enreda e se liberta ao se negar. O absurdo é a razão lúcida que constata seus limites.

Página 63
O pecado não consiste tanto em saber (quanto a isso, todo mundo é inocente), mas em desejar saber. Este, justamente, é o único pecado do qual o homem absurdo pode se sentir ao mesmo tempo culpado e inocente. Propõe-lhe um desenlace em que todas as contradições passadas não são mais do que jogos polêmicos. Mas ele não as sentiu assim. É preciso conservar sua verdade, que consiste em não serem satisfeitas. Ele não quer a predicação.

A questão era viver e pensar com esses dilaceramentos, saber se era preciso aceitar ou recusar. Não pode ser uma questão de disfarçar a evidência, suprimir o absurdo negando um dos termos de sua equação. É preciso saber se pode viver nele ou se a lógica manda que se morra por ele. Não me interesso pelo suicídio filosófico, mas pelo suicídio, simplesmente.

Página 64
O perigo está, pelo contrário, no instante sutil que precede o salto. A honestidade consiste em saber manter-se nessa aresta vertiginosa, o resto é subterfúgio.

Página 67
Querem que reconheça sua culpa. Ele se sente inocente. Na verdade, só sente isso, sua inocência irreparável. É ela que lhe permite tudo. Assim, o que ele exige de si mesmo é viver somente com o que sabe, arranjar-se com o que é e não admitir nada que não seja certo. Respondem-lhe que nada é certo. Mas isto, pelo menos, é uma certeza.

Anteriormente tratava-se de saber se a vida devia ter um sentido para ser vivida. Agora parece, pelo contrário, que será tanto melhor vivida quanto menos sentido tiver.

Página 68
O contrário do suicida é, precisamente, o condenado à morte.

Página 69
Compreendo então por que as doutrinas que me explicam tudo ao mesmo tempo me enfraquecem. Elas me livram do peso da minha própria vida, e no entanto preciso carregá-lo sozinho.

Trata-se de morrer irreconciliado, não de bom grado. O suicídio é um desconhecimento. O homem absurdo não pode fazer outra coisa senão esgotar tudo e se esgotar. O absurdo é sua tensão mais extrema, aquela que ele mantém constantemente com um esforço solitário, pois sabe que com essa consciência e com essa revolta dá testemunho cotidianamente de sua única verdade, que é o desafio. Isto é uma primeira consequência.

Página 70
Ora, se o absurdo aniquila todas as minhas possibilidades de liberdade eterna, também me devolve e exalta, pelo contrário, minha liberdade de ação. Tal privação de esperança e de futuro significa um crescimento na disponibilidade do homem.

Página 73
Também a morte tem mãos patrícias que esmagam porém libertam.

A divina disponibilidade do condenado à morte diante do qual em certa madrugada as portas da prisão se abrem, esse incrível desinteresse por tudo, exceto pela chama pura da vida, a morte e o absurdo, são aqui, nota-se, os princípios da única liberdade razoável: aquela que um coração humano pode sentir e viver. Isto é uma segunda consequência.

Página 77
O presente e a sucessão de presentes diante de uma alma permanentemente consciente, eis o ideal do homem absurdo. Mas a palavra ideal tem aqui um som falso. Não é sequer sua vocação, é apenas a terceira consequência do seu raciocínio. Partindo de uma consciência angustiada do inumano, a reflexão sobre o absurdo retorna, no final de seu percurso, ao próprio seio das chamas apaixonadas da revolta humana.

Extraio então do absurdo três consequências que são minha revolta, minha liberdade e minha paixão. Com o puro jogo da consciência, transformo em regra de vida o que era convite à morte - e rejeito o suicídio

Página 81
Seguro de sua liberdade com prazo determinado, de sua revolta sem futuro e de sua consciência perecível, prossegue sua aventura no tempo de sua vida. Este é seu campo, lá está sua ação, que ele subtrai a todo juízo exceto o próprio.

Página 86
Os tristes têm duas razões para estar tristes, eles ignoram ou eles têm esperança.

Página 88
Aqueles que são afastados de toda a vida pessoal por um grande amor talvez se enriqueçam, mas certamente empobrecem os escolhidos pelo seu amor.

Página 93
O homem cotidiano não gosta de demorar. Pelo contrário, tudo o apressa. Ao mesmo tempo, porém, nada lhe interessa além de si mesmo, principalmente aquilo que poderia ser. Daí seu gosto pelo teatro, pelo espetáculo, onde lhe são propostos tantos destinos que lhe oferecem a poesia sem lhe impor sua amargura.

Página 107
Eles não tentam ser melhores, tentam ser consequentes. Se a palavra sábio se aplica ao homem que vive do que tem sem especular sobre o que não tem, então estes são os sábios.

Página 112
"A arte, e nada mais do que a arte", diz Nietzsche, "temos a arte para não morrer ante a verdade."

Página 139
Este mito só é trágico porque seu herói é consciente. O que seria a sua pena se a esperança de triunfar o sustentasse a cada passo?

Página 141
A própria luta para chegar ao cume basta para encher o coração de um homem. É preciso imaginar Sísifo feliz.
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Gleidson Pedro 03/03/2024

O Absurdo "Só existe um problema filosófico realmente sério, o suicídio."
"A própria luta para chegar ao cume basta para encher o coração de
um homem. É preciso imaginar Sísifo feliz."
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isnarbru 27/02/2024

É preciso imaginar Sísifo feliz
Como no título evidência, a proposta do livro é de te trazer uma nova visão perante à uma dificuldade. Posso afirmar que desde quando o li em 2023 até agora me ajudou muito com diversas ocasiões
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