Barbara.Luiza 24/06/2021O sequestro de um paísPablo Escobar é provavelmente um dos nomes mais conhecidos da Colômbia, essa figura que se solidifica no imaginário coletivo como um líder populista, apesar de narcotraficante. E não é moralismo dizer que há um grande problema neste apesar de.
Por outro lado é muito difícil acreditarmos na ‘verdade’ sobre Pablo Escobar contada em inglês. Talvez parte da simpatia latina por sua figura seja exatamente por sabermos que Escobar foi uma pedra no sapato do Tio Sam.
Nesta que é a narrativa jornalística de maior fôlego de García Marquez, tanto em páginas quanto em anos colhendo entrevistas, temos a história de um sequestro. Foram dez jornalistas ligados a políticos colombianos. Foi também O sequestro. O sequestro de um país.
O maior acerto do autor talvez esteja em colocar Escobar como partícipe da transgressão sistêmica que o narcotráfico representou na Colômbia. Ele é o líder, mas nada acaba com ele. O objetivo não é derrubar Escobar.
Às vésperas da Constituinte o que assombra os narcotraficantes é a possibilidade de extradição para os Estados Unidos, é o sonho de muitos transformado em pesadelo gradeado.
Por debaixo do véu das grandes decisões políticas que envolvem os chefões do tráfico como Escobar, figuras políticas e até mesmo um padre, há a relação cotidiana que se extende por meses entre os Extraditáveis e os sequestrados. Não há agência, ação, estão todos sujeitos ou sujeitados a decisões dos mais poderosos e mesmo em lados opostos é possível estabelecer uma relação.
Chamá-la de amizade pode ser muito forte. Mas há algo dessa cordialidade cruel que atravessa a nossa América e que faz de nós um povo cujas dores não podem ser compradas em dólar.
Há nessa obra uma tentativa de apresentar o conflito gerado pelo atravessamento de poder do narcotráfico no Estado como uma situação colombiana, latino-americana. O pior dos mundos é o que vem de fora para nos submeter a sua justiça.