helmalu 26/04/2016A jovem AlessiaA jovem Alessia é um romance de época que se passa em um local fictício, em meados do século XVIII, na França.
Alessia, a protagonista, é uma jovem de dezesseis anos que mora com o pai viúvo na vinícola La Vignette. O pai dela, o Conde Duchamp, odeia a filha com todas as forças, fazendo de tudo para que Alessia não tenha acesso à educação e a uma vida social. Alessia acreditava que tal tratamento se devia ao fato de a mãe ter morrido depois de dar à luz a ela, fazendo com que o pai a visse como a responsável pela morte da amada esposa. Contudo, Alessia é amada pelo rei Henri, seu padrinho, e pela princesa Anna, que a considera sua irmã.
Certo dia, Emilie, criada de Alessia, insiste que a jovem precisa sair e comprar tecidos para encomendar vestidos novos, o que sua ama aceita mediante os argumentos de que seus vestidos já estão curtos e ultrapassados. Ao chegarem ao mercado da cidade, a atenção de Alessia é logo captada pela visão de um jovem cavalheiro, o capitão da guarda real e fiel escudeiro do rei, Marcus de Lanpré. Concomitantemente, ele também se atrai pela jovem que nunca havia visto tão bela pelas redondezas e tenta se aproximar dela, mesmo com as advertências do amigo Louis, que lhe diz que ela jamais lhe aceitará a corte, pois se trata de uma nobre e ele, um plebeu. Ao perceber que Marcus se aproxima, Alessia, ingênua, sai correndo, mas pensando no belo rapaz que vira no mercado. Foi amor à primeira vista.
"Ora, a mocinha vira um rapaz atraente e se interessara por ele, e ele obviamente também se interessara por ela, a ponto de ter tentado vir cumprimentá-la. Mas ela era tão inocente, tão bobinha, que em vez de permitir ser galanteada, como o faria a maioria das jovens aristocratas da corte, resolveu sair correndo."
Por ocasião do aniversário da princesa, Alessia é convidada a passar uma temporada na corte, o que seu pai só permite diante da autoridade do rei, assim, a jovem se encaminha para lá. Ao chegar, é recepcionada por ninguém menos que Marcus, que já havia se informado que a moça que tinha visto no mercado era amiga da princesa e afilhada do rei. Logo, ele dá um jeito de se aproximar dela e confessar seu amor, não sem a ajuda de seu amigo Louis.
Os dois, confessos apaixonados, porém, sabem que jamais poderiam casar-se porque o pai de Alessia jamais permitiria que ela se casasse com um plebeu. Sendo assim, o rei Henri, que sempre considerou Marcus como um filho, dá a este o título de Conde de Lanpré, só assim, e mediante muita chantagem, é que o pai de Alessia aceita.
Mas essa foi só a primeira das muitas dificuldades que Marcus e Alessia encontram durante seu caminho; eles precisam lidar com os caprichos da princesa Anna, que esconde um segredo por trás de suas longas caminhadas até a fronteira. Também enfrentam muitos conflitos familiares e a cruel corrida ao trono do rei Henri, que já está velho e vê-se rodeado por um bando de víboras. Além disso, há o surgimento de um misterioso personagem que acabará por definir o destino de Alessia para sempre.
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Paixões proibidas, guerra, escândalos e mistérios - muitos mistérios - compõe esse envolvente e nada meloso romance de Louise Bennet.
Confesso que, no início, achei a narrativa muito semelhante à da rainha Jane Austen, porém, este livro tem um diferencial que me fez gostar: ele relata a vida do casal protagonista durante a vida de casados! Coisa que Jane Austen nunca fez e sempre nos deixou com aquele gostinho de quero mais (quem nunca quis saber se Mr. Darcy e Lizzie tiveram filhos etc. ?). Mas não pense que essa vida de casados de Alessia e Marcus foi uma rasgação de seda, não; morando na corte, eles precisam se esquivar dos comentários maldosos, das intrigas e segredos dos nobres.
Os personagens são muito bem construídos, de modo que nos afeiçoamos a alguns e odiamos outros. Posso dizer que Alessia foi uma personagem que eu gostei, apesar de em alguns momentos achar que ela era inocente e perfeita demais, isso dá um tom bucólico a ela que justifica a sua criação isolada do mundo. Apesar disso, ela se mostra sensível às injustiças que a rodeia: se indigna com os luxos da nobreza, as traições que assolam seu padrinho, o rei, e a futilidade das pessoas da corte. Mas a característica da personalidade de Alessia que me fez admirá-la foi sua independência. Algumas vezes, constatou o machismo que a rodeava e, ao invés de ficar parada, tratou de aprender a se defender sozinha; aprendeu esgrima, ajudava o marido em seu ofício e não se reclinava à opinião dos outros, sempre mantendo a educação apesar de suas inclinações políticas serem terminantemente contra as injustiças sociais que via ao seu redor.
A escrita de Louise é de uma estilística impecável, fazendo jus ao gênero, ela emprega formas verbais e palavras rebuscadas, muitas vezes lançando mão de próclises e mesóclises, embora seja perceptível que a narrativa tem um tom moderno, sem deixar a leitura difícil. Em alguns momentos, a narrativa se tornou um pouco parada, e isso me fez arrastar um pouco a leitura, contudo, nos últimos capítulos não conseguia parar de ler diante de tantas revelações e acontecimentos bombásticos.
Indico a leitura desse livro para aqueles que gostam de um bom romance de época, a escrita é rica, mas ao mesmo tempo fluída. O romance aparece em uma dose certa, sem enjoar o leitor (já deu para perceber que não gosto de romances melosos, né) e há aquele toque, ainda que pequeno, de crítica social que tanto admiro nos romances históricos.
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