Bruno 13/08/2016
A Criança Amaldiçoada
APRESENTAÇÃO
Harry Potter é sem dúvidas um dos maiores sucessos literários de todos os tempos e não há o que discutir. A saga como um todo vendeu mais de 450 milhões de cópias e foi traduzida para mais de 79 línguas. A obra em filmes, com 8 títulos lançados, é dona da marca de maior bilheteria de todos os tempos, com cerca de $7,7 bilhões de dólares. Dito isso, Harry Potter pode não agradar a todos, mas é uma obra colossal.
Este livro se trata de uma continuação direta de Harry Potter e as Relíquias da Morte, e embora muitos o considerem um fanfic, já que a autora não escreveu sozinha, a Criança Amaldiçoada é o 8o livro da série do bruxo mais famoso do mundo. Nessa história, acompanhamos os amigos Harry, Rony e Hermione 19 anos após a guerra conhecida como a Batalha de Hogwarts, que culminou com a queda e morte de Voldemort, o Lord das Trevas. Embora acompanhemos os nossos conhecidos amigos, o foco da história é em Alvo Severo Potter, filho do meio de Harry e Gina Weasley, que cresce em meio à sombra do famoso pai, as inseguranças da juventude, amizades improváveis e uma trama que mais uma vez envolve mistérios, profecias, perseverança e lealdade.
Pegue seu malão do guarda-roupa, recolha seus livros, seu caldeirão, suas vestes, sua vassoura e seu mascote. Nos encontramos na Plataforma 9.3/4 da estação King’s Cross, onde o Expresso de Hogwarts já está quase partindo. O destino? O mundo mágico e fantástico de Harry Potter!
RESENHA
“--- Aqueles que amamos nunca nos deixam, Harry. Existem coisas que a morte não pode tocar. Pinturas… e memórias… e amor.
Antes de começarmos, acho importante informar que este livro não é uma obra novelizada. Harry Potter e a Criança Amaldiçoada é um roteiro feito para uma peça teatral homônima, cuja estreia em Londres, foi considerada um enorme sucesso ao vender mais de 175.000 ingressos em menos de 8 horas! Importante mencionar que J.K Rowling, mesmo sendo peça chave, dividiu a obra com John Tiffany, o diretor da peça e Jack Thorne, responsável pelo script.
No livro, começamos exatamente onde o epílogo de HP e as Relíquias da Morte nos deixou. Estamos na estação King’s Cross, assistindo ao embarque dos filhos dos três amigos Harry, Rony e Hermione no expresso de Hogwarts, 19 anos após os acontecimentos que abalaram o mundo bruxo.
Tiago Sirius Potter, o primogênito, filho de Harry com Gina Weasley, está indo para o 3o ano e o nosso protagonista, Alvo Severo Potter está perto de encarar o seu 1o ano e a árdua tarefa de se encontrar com o Chapéu Seletor pela primeira vez. Conhecemos também a caçula, Lílian Luna Potter, que naquele momento não possui idade para frequentar Hogwarts. Do lado do casal Rony e Hermione, conhecemos Rosa Granger-Weasley, que assim como Alvo, está prestes a iniciar o seus estudos e ainda o caçula da família, Hugo Weasley, também sem idade para frequentar a escola de magia.
Durante essa primeira viagem de trem, Alvo acaba conhecendo uma pessoa que daquele momento em diante mudaria a sua vida: Escorpio Malfoy, filho de Draco com Astória Malfoy. O garoto e Alvo rapidamente encontram muitos pontos em comum e tornam-se amigos a despeito do ódio, agora velado, entre seus pais.
“--- O mundo muda e nós mudamos com ele. Eu sou melhor neste mundo, mas o mundo não é melhor. E eu nem quero que ele seja… - Escorpio Malfoy
Os garotos possuem pela frente a ansiedade de conhecerem pessoas novas, de conhecerem a grandiosa escola de magia, de conhecerem seus novos professores e também de encararem a sempre enigmática escolha do surrado Chapéu Seletor, na qual em uma das quatro grandes casas, serão devidamente alocados. Entre esses anseios, ambos também sofrem grandes angústias e se unem ainda mais, enquanto a trama começa a se apresentar e se desenrolar.
Alvo, com uma personalidade muito mais emotiva, vive à sombra de seu pai, conhecido como o grande herói do mundo bruxo por derrotar o Lorde das Trevas, Voldemort, durante a conhecida Batalha de Hogwarts. O garoto tenta dirigir todas as suas ações a serem tão grandiosas quanto as de Harry quando o mesmo tinha a sua idade, e com isso, coloca uma enorme pressão em seus próprios ombros. As falhas constantes fazem com que Alvo encare ser filho "d’O garoto que sobreviveu” como uma enorme maldição, criando assim, um abismo sentimental e um grande desgaste familiar na casa dos Potter. Além desse fardo, o protagonista também vive com o imenso peso de carregar os nomes de dois diretores de Hogwarts. Dois dos maiores bruxos de todos os tempos: Alvo Dumbledore e Severo Snape.
Do lado dos Malfoy, Escorpio cresce com o legado sombrio de sua família, onde o pai e seus avós serviam ao Lorde das Trevas como Comensais da Morte no momento de sua reascenção e queda. O doce e amigável garoto precisa lidar também com a doença (chamada de maldição) de sua mãe e com as provocações e ofensas constantes que sofre dos outros alunos. Escorpio e sua família sofrem com horríveis boatos nos quais dizem que o garoto não é filho de seu pai, pois Draco Malfoy seria estéril. É tido que o garoto é filho de um outro poderoso bruxo, também presente neste universo (leiam para descobrir).
“--- Quanto tempo faz desde que sua cicatriz doeu pela última vez? - Gina pergunta
- Vinte e dois anos - Harry responde
Nesse meio no qual somos inseridos, cheio de angústias, traumas e anseios, a trama se desenrola de forma rápida, até porque como uma peça de teatro, o ritmo precisava ser diferente.
Enquanto acompanhamos a saga dos amigos crescendo em Hogwarts, também vislumbramos o que o futuro reservou para os nossos queridos e antigos personagens. Harry e Hermione ocupam cargos importantes dentro do Ministério da Magia, enquanto Rony assume o legado e os negócios da família. Conseguimos até, como fan-service, dar uma pequena espiadela no futuro do secundário e importante Neville Longbottom (cuja escolha da profissão foi muito bem bolada e condizente com o personagem).
Quando um objeto tão raro e tão poderoso quanto um Vira-Tempo entra em cena, presente e passado se misturam e antigos perigos enterrados voltam para assombrar o mundo dos bruxos. Até que ponto o mal está disposto a voltar no tempo para comprometer a paz? O quanto a ingenuidade dos nossos novos personagens pouco familiarizados com os acontecimentos do passado podem ajudar uma antiga e maligna profecia a se concretizar? O enredo se envereda por questões sobre amizade, sobre perdão, sobre visitas a lugares conhecidos e suas histórias. Como o grande e mortal Torneio-Tribruxo, ocorrido há anos e anos pode se encaixar como palco dessa misteriosa trama? Existem perigos que nem os próprios bruxos mais experientes estão preparados para enfrentar, e mexer com um passado tão sombrio pode ser um deles.
Deixando vocês contextualizados do universo no qual nos encontramos, fica o restante a cargo da curiosidade, pois falar mais sobre o plot e sobre o que os personagens perseguem, comprometeria a leitura. O que posso colocar aqui, como mais alguns fatores incentivadores: Temos legados familiares, temos presente e passado se fundindo, temos personagens queridos, temos bons diálogos, temos profecias, temos bruxos das trevas e temos todo aquele universo conhecido do qual sempre gostamos.
Vejo e compreendo que muitos torceram o nariz pelo livro ser roteirizado e não conter as magistrais descrições do mundo bruxo feitos por J.K Rowling. É isso mesmo, a Criança Amaldiçoada é uma obra totalmente centrada em diálogos, mas por conhecer toda aquela ambientação e todos aqueles cenários, isso não me incomodou. O livro sempre descreve aonde os personagens se encontram e em todos os lugares em que a história se passa, e a partir daí, você consegue rapidamente montar a imagem mental com tudo o que já leu ou assistiu.
A obra é recheada de pequenos e grandes fan-services, trazendo muitas coisas que sem dúvidas contribuíram demais para uma leitura agradável e nostálgica. Temos também inúmeras referências à monstros, personagens e objetos, portanto, o conhecimento dos livros anteriores se faz totalmente necessário e também contribuem para uma leitura mais fluida na qual você não precisa parar para consultar do que se trata.
“--- Em todo momento de felicidade existe uma gota de veneno: saber que a dor virá novamente algum dia. - Dumbledore
Como nem tudo são flores, algumas coisas me desagradaram, nas quais não posso deixar de citar, a descaracterização de alguns personagens. Rony Weasley sem dúvidas é o grande desastre da obra. Completamente sem propósito e com um papel bem diminuto, o futuro do nosso adorado personagem é mal escrito e não traz relevância para a história. Por outro lado, outros personagens foram muito bem fortalecidos, citando como exemplos temos Gina Weasley e o próprio Draco Malfoy, que foram duas grandes surpresas durante a leitura.
Como ponto extra, elogio a arte da capa trazida pela Scholastic (e também mantida na edição brasileira). Uma criança em um ninho, abandonada e solitária, rodeada com duas grandes asas de abutre que reforçam a ideia de maldição. Leiam e desvendem esse intrigante mistério.
A Criança Amaldiçoada é um bom livro. Não é excelente, até porque, acho que nunca foi o intuito. É apenas um roteiro escrito e nunca poderá ser comparado a nenhuma das obras anteriores da autora. Por isso, peço aos que tem interesse: Encararem essa história como o que é. Podem até praguejar, mas não é fanfic. A obra é assinada e é canônica. Harry Potter, livro 8, vai trazer nostalgia, vai trazer boas memórias, vai trazer bons diálogos e vai trazer boas sensações. A quem? A você! Se você permitir, é claro.
Espero que tenham gostado. Deixe aqui seu comentário com relação ao livro. Gostou? Não gostou? Vamos bater um papo e expor nossas opiniões.
Vejo vocês por aí. Abraço