Maria - Blog Pétalas de Liberdade 30/04/2016Arco de virar réu Eu recebi um e-mail da Editora Alaúde apresentando a obra e perguntando se eu gostaria de lê-la e resenhá-la. Aceitei, pois queria ler algo da editora e a capa, que sugeria a presença de elementos indígenas na trama, me chamou a atenção (li recentemente um outro livro com temática indígena, "Na esquina do mundo", e queria mais leituras com o tema). Para mim, "Arco de virar réu" é um livro bem difícil de resenhar, pois é daquele tipo de obra onde a interpretação do leitor faz toda a diferença, mas tentarei fazer o meu melhor.
"Tudo parecia se encaixar aos poucos na normalidade, à exceção do Pedro, que gradativamente se tornava mais reservado, arredio, cada vez menos disposto às atividades que incluíssem pessoas e espaços livres." (página 20)
A história é narrada em primeira pessoa, pelo protagonista a quem chamarei de Bristol. Ele tem um irmão mais novo chamado Pedro, que tem problemas mentais e fala constantemente sobre operações militares, soldados e guerras. Bristol tenta encontrar nas falas de Pedro alguma coisa que tenha conexão com a realidade, e talvez seja isso que lhe custe um alto preço, o preço da sua sanidade. O protagonista, que trabalha com pesquisas sobre a cultura indígena, passa a ter pesadelos constantes, que vão evoluindo cada vez mais até o desfecho.
"O Pedro não se dava conta de que, ao assumir aquele comportamento, estava se desarmando para a batalha de uma guerra que poderia durar por toda uma vida." (página 20)
Na maioria das vezes, eu não gosto de livros que não sejam totalmente claros ou que sejam narrados por um personagem insano, mas mesmo com uma linguagem um pouco mais elaborada (Antonio Cestaro conseguiu evitar ultrapassar uma tênue linha que poderia ter tornado seu texto enfadonho, algo que nem todo autor consegue) e não revelando os acontecimentos em sua totalidade, eu gostei de "Arco de virar réu". Consegui sentir empatia pelo protagonista, fui tocada pelo que lhe acontecia e pelo que ele sentia, gostei da forma como a história foi dividida em quatro partes, permitindo ao leitor acompanhar a degradação mental do personagem.
"Histórias distintas em mundos diversos, conflagrações que usam de forma oportunista os meus temores e os sobrepõe aos desvarios do Pedro. Que me fazem pagar por mim e por ele um preço para além da minha resistência." (página 67)
Na contracapa, há uma informação que eu não consegui identificar na leitura, mas que talvez em uma releitura me fique mais clara e me faça compreender melhor a relação do narrador com um determinado personagem, assim fica a sugestão para que se leia a contracapa antes de começar a leitura da obra.
Sobre a parte visual: quando tive o livro em mãos, fiquei pensando que a capa estava suja, e acho que se tivesse visto ele em uma livraria, acharia o mesmo e acabaria não o comprando. Foi uma escolha ousada da editora, mas que certamente já chamaria a atenção para a obra. Eu gostei da escolha das fontes e das cores, desse tom forte laranja que também está no interior da capa. As páginas são amareladas, as margens, a letra e o espaçamento são grandes, e a obra está muito bem revisada.
Enfim, "Arco de virar réu" é uma indicação para quem gosta de histórias que falem sobre (in)sanidade e para quem procura uma leitura (que pode ser) rápida. Agradeço a editora Alaúde por ter disponibilizado o livro para resenha. Por hoje é só, espero que tenham gostado.
"Sei que pertenço ao outro mundo, aquele onde um travesseiro apoia a minha cabeça, mas não estou totalmente seguro. Sou um pacote de incertezas transitando entre o subconsciente e uma realidade que, para ser razoável, não tenho clareza se é tão real." (página 70)
* Acesse o blog para ver fotos do livro.
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