Pureza Fatal

Pureza Fatal Ruth Scurr




Resenhas - Pureza Fatal


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Ramon.Amorim 15/10/2022

"As palavras que dissemos jamais serão esquecidas na terra" (Saint-Just)
1789-1794. Parte da nossa identidade enquanto seres sociais é resultado da reviravolta dada pelos franceses em seu sistema político no século XVIII. Dizer que temos uma posição política de esquerda ou de direita, algo que permeia marcadamente a nossa sociabilidade e a nossa sensibilidade, é ser tributário dessa época. "Aqui e hoje uma nova época da história do mundo foi iniciada, e vocês podem se vangloriar de terem estado presentes em seu nascimento", disse Goethe à tropa prussiana derrotada em Valmy em setembro de 1792.

Essa é a fonte que me faz curioso pela França revolucionária. Encontrar seus traços em nosso tempo, encontrar em suas lutas sociais e em seus líderes aquilo que permanece conosco como legado histórico que se prolonga e amadurece no tempo. A autora dessa biografia, Ruth Scurr, aparece como leitura obrigatória em várias ementas relevantes sobre a revolução. Ela sabe situar as atitudes individuais e os grandes eventos do país naquele tempo, de modo que os eventos sejam compreendidos dentro uma dinâmica bastante coerente, aproximando-se em muitos aspectos da visão que temos sobre o funcionamento da política e dos seus integrantes.

Scurr perscruta também os pequenos lances de sorte que determinam os destinos dessa vanguarda e a geografia dos acontecimentos, de modo que é possível construir um roteiro expandido da Revolução Francesa, percorrendo os grandes eventos, claro, mas também os pequenos, que servem como escada para os mais memoráveis episódios. Ela também amplia satisfatoriamente a gama de personagens sobre os quais vale a pena falar, acrescentando ao rol que carregamos desde os primórdios das lições sobre história contemporânea outros homens e também mulheres como Charlotte Corday, Mme. Roland, Madame de Stäel e Cécile Renault.

Várias questões descritas no livro ligam a Revolução Francesa aos nossos dias. É fartamente viável relacionar os primórdios do que hoje chamamos de "fake news" ao repertório de figuras centrais como Marat e Hébert; a instrumentalização da oratória como fator chave para a consolidação da liderança no campo político, casos de Marquês de Mirabeau e Danton; os mecanismos para a formação de identidades políticas e as regras do jogo como causa e consequência de desigualdades no acesso à política.

Alguns momentos rendem boas histórias, como os éditos de Paris de 1788; a situação dos parlamentos; a presença do futuro presidente dos EUA, Thomas Jefferson, que era embaixador em Paris até setembro de 1789; as articulações na Assembleia Nacional, a figura de Marquês de Mirabeau; o agosto de 1792, queda da Monarquia, em que Napoleão - um mero desconhecido - acompanhou, estava em Paris e nas Tulherias na ocasião, entre outros eventos.

Sobre o biografado: a imagem solidificada que temos de Robespierre é de um homem sedento por poder e defensor máximo da pena de morte. Robespierre foi o autor do projeto que impedia deputados da assembleia constituinte, como ele, de serem eleitos para o Parlamento sob a vigência da Constituição de 1792. E um ano antes, em 1791, foi um dos poucos a defender a extinção da pena de morte. Só isso já diz muito sobre a relevância desse livro para entender a complexidade do processo político francês do final do século XVIII.
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Tiago 25/03/2017

RETRATO DE UM REVOLUCIONARIO
Filho de um advogado desregrado e instável, que abandonou a família após a morte de sua esposa, Maximilien François Marie Isidore de Robespierre não parecia ser um exemplo de ícone político que o destino lhe reservará. Poucos ousariam prever que o menino pálido, frágil e retraído, que preferia às leituras solitárias as brincadeiras com os amigos, se tornaria um dos mais influentes personagens da historia de seu país, ao lado de nomes como o de Napoleão e Joana D’arck.
Em sua obra de estréia, Ruth Scurr compôs um magnífico retrato daquele que muitas vezes foi considerado o pai do totalitarismo e das modernas formas de estado policial. A obra é dividida em quatro partes que abrangem tanto o homem político como o homem comum. Na primeira vemos uma narrativa focada em seus anos de formação, desde o seu nascimento no dia 6 de maio de 1758, na pequena cidade de Arras, a separação dos irmãos, seus estudos no Louis Le Grand, a formação em Direito e sua pacata vida como advogado provinciano, que gostava de escrever poemas melosos nas horas vagas e era um admirador fervoroso das obras de Rousseau. Até os seus 32 anos de idade Robespierre levou uma vida aparentemente comum, sem nada que o evidenciasse dos demais membros de uma burguesia em evidente emergência.
Em 1789, o rei Luís XVI, assolado pela terrível crise financeira, que há anos solapava seu reino, convocou os Estados Gerais – o maior órgão deliberativo da França. Robespierre, que havia alcançado o cargo de juiz episcopal de Arras, é eleito como representante do terceiro estado. Em Paris ele inicia seus primeiro passos rumo à política e acaba mergulhando no turbilhão irrefreável da Revolução Francesa. Da segunda parte em diante a narrativa se concentra nesse conturbado período de sua vida. Em um texto veloz, bem típico das modernas biografias, vemos o memorável juramento do Jeu de Paume, a queda da Bastilha, a criação do clube dos Jacobinos, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, as cenas de violência revolucionaria nas ruas da suja e miserável Paris, a fuga da família real, a queda da monarquia e a criação da primeira República francesa, a celebre Batalha de Valmy, as execuções de Luís XVI e Maria Antonieta, o confronto com os girondinos e com os Dantonistas, seu ingresso no Comitê de Salvação Publica, o inicio do chamado período do Terror, a decretação da infame “Lei de 22 Prairial” e sua morte trágica na guilhotina aos 36 anos de idade.
“Pureza Fatal” nos apresenta ao homem que apesar de seus 1,60m de altura ficaria conhecido como um dos gigantes da esquerda política, comprovando a máxima de Napoleão que dizia que “o tamanho de um homem era determinado por seu destino não por sua natureza”. Que apesar da voz frágil seria um dos maiores oradores da Revolução e cuja retórica afiada seria sua principal ferramenta política. Em 26 de junho de 1794 (8 Termidor - segundo o calendário revolucionário) quando subiu a tribuna para pronunciar o ultimo discurso que faria na vida, o “Incorruptível” – como também era chamado - destilou seu ódio contra todos aqueles considerados “inimigos do povo”. No dia seguinte, com a mandíbula estraçalhada por um tiro de mosquete, não se sabe se por uma frustrada tentativa de suicídio ou se por um disparo acidental, ele galgou os íngremes degraus do cadafalso rumo à justiça da “navalha nacional”. Naquele momento deve ter se lembrado de suas próprias palavras proferidas no dia anterior: “A morte não é o sono eterno, mas o inicio da imortalidade.”

POR TIAGO RODRIGUES CARVALHO

site: http://cafe-musain.blogspot.com.br/2015/07/retrato-de-um-revolucionario.html
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Tais 25/01/2012

como um humanista é capaz de atos terríveis?
Foi este o motivo que me fez ler o livro. Incicia com Robespierre jovem, mas sempre inflexível em suas atitudes, até mesmo com que mais ama - esta foi sua característica até o fim.
O fato de ser inflexível, de se identificar pessoalmente com a revolução, de ter um lado invejoso ( não confirmado) e ainda de se envolver com pessoas dispostas a tudo pela França o tornou em um dos maiores líderes daquele momento.
A fase do terror, absurda se comparássemos com hoje, onde pesoas que cometem crimes de genocídio são julgadas em Tribunais Internacionais - era o que ele merecia, foi uma das piores da história da França. Tudo em nome da democracia.
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