Nu e As 1001 Nuccias 19/02/2016Resenha do Blog As 1001 NucciasMuitas das coisas que eu disse nas Primeiras Impressões foram ultra-confirmadas durante a leitura completa da obra. Então, apenas devo reforçar: não há como imaginar o enredo do livro fazendo comparações com obras de teor fantástico. O autor conseguiu montar uma história bem peculiar de tal forma que tentar comparar só estraga a imaginação. Tentando explicar o desenrolar da história, pode ser que alguns spoilers apareçam, mas juro que serão não intencionais.
Sobre a história: Illusa é dividida em quatro reinos. Basilleus é a cidade sede de Leindrast, o Reino do Norte, também conhecido como Reino do Sol, comandado pelo Rei Corben, o Erudito. No entanto, o Rei partiu em viagem para explorar uma mina de cristais novos e desapareceu por três anos, sem mais notícias. Todas as comitivas enviadas para procurar o Rei desapareceram também. Após tanto tempo, o Reino em declínio exige que a Rainha Aleshandra desista da busca e assuma o trono, levando o Reino adiante. O problema é que um novo Rei ou Rainha só pode assumir tendo o Anel Real, o Sol Perdido, que desapareceu com o Rei.
Os Raposas Prateadas são um grupo de ladrões ao estilo Robin Hood. Eles invadem castelos e casas de nobres para roubar jóias e tesouros, usando-os para comprar alimento ao povo do Distrito dos Vermes, a parte pobre e esquecida pela nobreza de Basilleus. Comandados por Olímpio Punho de Ferro, contam com a ajuda de Kat, uma maga; Selene, uma nobre infiltrada; Uriel, um cavaleiro negro; Hugo, o pistoleiro; Ricardo, um Raposa das antigas; Bo, um gigante de pele azul; Erik e Bliss, dois irmãos acolhidos na Toca após a morte de seu pai na guerra do Sul. Erik é um exímio ladrão, muito hábil com fechaduras, ótimo espadachim, e Bliss, sua irmã caçula, apesar de ter saúde comprometida, é perita em tecnologia de comunicação e montagem de bombas.
Então, os Raposas planejam e tentam executar um grande roubo, uma invasão ao castelo real para levar boa parte do tesouro e salvar várias famílias. O problema é que todo o planejamento cai por água abaixo, quando uma briga entre Uriel e Eric se desenrola no meio do assalto. isso faz com que o grupo seja capturado e largado nas prisões da torre.
Enquanto os Raposas planejam o "roubo do século", a Rainha e sua filha, a princesa Taíssa, também chamada de Rosa de Leindrast (por ter língua afiada como os espinhos), recebem a visita de Ismar, o irmão do Rei. Ismar, com muitas intenções ocultas, consegue controlar a vontade da Rainha através de um colar enfeitiçado. Com isso, arquiteta de enviar o grupo de ladrões até o Mosteiro de Neida, onde o Rei foi visto pela última vez, juntamente com a Princesa Taíssa, a fim de recuperarem o Sol Perdido e assim, ganharem perdão real.
Só que as coisas não saem bem como planejado. Junto com a maga real Miranda, a guardiã Páris, o general Lebreus e o templário Marco, partem em busca do Rei e do anel. No meio do voo para o Sul, a aeronave é atacada por dragões, eles caem nas Florestas de Freila, são atacados por criaturas estranhas, traídos, arrumam confusão no Porto de Galbraith, encontram seus arqui-inimigos, os Sabres Rubros, e, quando finalmente chegam ao Mosteiro, as notícias não são boas.
O que achei? Bem, apesar de ser uma história ambientada em tempo indeterminado, local completamente fora do nosso universo, e ter características de Épocas Medievais e da Monarquia, não há mais nada que lembre estas épocas. Um fato interessante é que o autor conseguiu incluir aparatos tecnológicos ultra modernos no enredo, sem que ficassem discrepantes ou que parecesse inverossímil.
Durante toda a narrativa há um "quê" de suspense, preparando o leitor para algum acontecimento importante. Você consegue perfeitamente estar ao lado do personagem quando ele escala muros, salta, desliza, usa o comunicador e sai vitorioso do local que invadiu, demonstrando que a narrativa é fluida e tranquila, sem ser enfadonha ou um fator propulsor de estados do sono. Pelo contrário, eu queria terminar logo. As descrições são, ao mesmo tempo, detalhadas e sucintas, de tal forma que o leitor consegue imaginar bem, acrescentando ele mesmo detalhes aos detalhes, sem se sentir ludibriado ou perdido.
Os personagens: Todos os personagens foram bem construídos e embasados. Nenhum personagem apareceu e sumiu por mágica, todos, incluindo os secundários, tiveram um motivo de vir, de estar ali, e alguns de ir. São bravos, misteriosos, perspicazes e, às vezes, dúbios. Apenas com o desenrolar da história você sabe se pode amá-los ou odiá-los.
As personagens femininas não são damas chatas e enjoadas que não sabem fazer nada além de um bordado. Pelo contrário, elas são inteligentes, perspicazes e capazes de lutar com armaduras mortais enfeitiçadas ou dominar artes mágicas poderosas. Se bem que, às vezes, são muito inseguras, dando vontade de estapear a criatura. tipo, já fez tanto no raio da história e no momento crucial vai fazer docinho?
Os personagens masculinos, apesar de inseridos em um ambiente fictício que lembra a era medieval com acesso à tecnologia, não são pedantes, nem porcos chauvinistas, cuspindo um jeito bronco e passando por cima das moças como bem entendem (com uma única exceção - o irmão do Rei - que está bem justificada). As interações foram todas de respeito mútuo, cada qual sabendo da importância do seu papel no grupo, seja ele uma festa da nobreza ou um jantar na Toca. Entre jovens e adultos, todos têm uma personalidade forte (bem como os corpitchos), são bons lutadores, que não se deixam abalar por qualquer magia.
Além disso, temos os personagens místicos: criaturas totalmente saídas do imaginário do autor, com nomes estranhos e descrições mirabolantes, mas nunca largados no enredo por acaso. eles têm sua vida particular, seu próprio cantinho, interações com os humanos, sejam boas ou ruins.
E a parte técnica? Como sempre, começo pela descrição da capa, ajudando assim os coleguinhas com baixa acuidade visual a sacar a imagem. A capa criada pela Editora Arwen é uma maravilha. Retrata um pôr-do-sol em Basileus, a cidade sede do Reino do Norte de Illusa, tendo ao fundo o castelo do Rei Corben, o Erudito e uma parte da cidade. Em primeiro plano, há uma pessoa, o jovem Eric, de capuz e espada em punho, de costas para a cidade, como se estivesse galgando uma trilha em uma montanha, partindo em sua jornada. Com tons alaranjados e bordas mais escuras, a capa tem o título do livro centralizado na porção superior, em fontes góticas/medievais, bem rebuscadas, o que pode ser difícil de ler para algumas pessoas, apesar de não ter sido ruim pra mim.
Este exemplar que li foi uma versão preliminar enviada pelo próprio autor, portanto pode diferir da versão impressa a ser lançada daqui a uns meses.
Achei a diagramação interna bem ajustada, margens justificadas. Os capítulos iniciam com um trecho explicativo de um livro inventado pelo autor. Foi uma sacada bacana: eram trechos de obras didáticas ou históricas ou ainda de reportagem, ou seja, várias fontes de referência que só existem no mundo de Illusa, e que explicavam o que seria tratado no capítulo, como uma introdução sagaz.
Os subtítulos dos capítulos são em uma fonte no estilo "medieval" ou gótico. O texto estava com fonte de bom tamanho. Não deu para avaliar o tipo de papel já que foi uma leitura virtual. Não achei erros de pontuação, mas achei uns de digitação (letras sobrando ou faltando). De resto, perfeito!
E minha opinião final: Acho que não preciso muito enfatizar como eu gostei do livro. Se eu não estivesse hipnotizada pelo Netflix enrolada com o meu próprio lançamento, teria lido mais rapidamente (e olha que eu levei 3 dias). É uma das obras dinâmicas mais bem escritas que li, tendo doses certas de ação, aventura, romance, tecnologia e misticismo. Eu ainda não li a obra anterior do autor, mas posso dizer, sem sombra de dúvidas, que O Sol Perdido é um livro muito bem escrito, e um dos meus livros de fantasia preferidos.
site:
http://1001nuccias.blogspot.com.br/2016/02/resenha-livro-o-sol-perdido.html