Léia Viana 19/04/2023
Clube de leitura Clarice Lispector ano I Lendo Clarice em ordem cronológica O lustre publicado em em 1946.
Percebo que com essa releitura compreendi muito mais a história, seus personagens e entendi que tornou-se impossível ter uma impressão definitiva do que é essa obra. E, é importante salientar que não consegui chegar nas conclusões que cheguei sozinha, a melhor coisa que fiz foi ter entrado no Clube de Leitura Cronológica da Clarice Lispector, da Juliana Gervazon. Foi um aprendizado e tanto!
Segundo livro de Clarice publicado, pouco comentado entre seus amigos e bastante criticado, "O Lustre" não teve uma boa repercussão à época de sua publicação, é uma obra difícil, não linear e pouco fluída, mas que carrega algumas similaridades com outra personagem Clariciana: Macabéa; talvez isso tenha sido uma falha por parte de Clarice nessa obra, por criar Virgínia, em certos momentos, tão similar a Macabéia, o que não encaixava exatamente na história com a personagem criada; até mesmo em seu fim, mas enquanto Macabéa tem um final um tanto "filosófico": "hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci.”, Virgínia tem em seu fim a humilhação!
Entre algumas passagens, até mesmo do diálogo entre Miguel, o porteiro, com Virgínia, destaco essa que é uma mistura das personagens Macabéa e Virgínia:
"- Não, não gosto... tão... tão intrometida... - seu rosto desfez-se em seguida, a expressão debaixo emergiu engurgitada, surpresa infantil porque ele abria os olhos castanhos atrás dos óculos, tentava compreendê-la, o espanto dele dizia envergonhado, benevolente: mas Virgínia..., O que é isso, Virgínia? Sim, avançar a demais como podia a música ser intrometida?"
Mas a pergunta que permaneceu em mim é: quem é Virgínia? essa personagem que não é vazia por dentro, é contraditória, passiva e sempre à espera de um futuro que não chega, mergulhada no abismo de uma solidão.
"Olhava-se ao espelho; era ainda bem bonita com suas virgens rugas de esperança."
E quanto a Esmeralda?
"Deus abrisse seu coração, que lhe permitisse enxergar dentro de si e, o medo expulso, pudesse enfim dizer a morte, Vivi."
Tão solitária quanto Virgínia. Tão desejosa de ter ido se aventurar na cidade como a irmã o fez.
"Com horror ela já viverá a sua vida."
Mas não há vida alguma.
Quanto ao título do livro, "O Lustre", a um primeiro momento é o objeto mais vivo da casa:
"Mas o lustre! Havia o lustre. A grande aranha com vc escandecia. Olhava-o imóvel, inquieta, parecia pressentir uma vida terrível. Aquela existência de gelo. Uma vez! Uma vez a um relance - o lustre se espargia em crisântemos e alegria. Outra vez - enquanto ela corria atravessando a sala - ela era uma casta semente o lustre. Saia pulando sem olhar para trás."
Por um único acontecimento na família, o lustre perde todo seu brilho e sua vida.
Apreciei e aprendi muito mais com esta releitura do que da primeira vez. É uma obra hermética? Sim. É uma obra difícil? Também, mas é sensacional todas as análises e todas as reflexões que o leitor ganha com esse livro.