Linha M

Linha M Patti Smith




Resenhas - Linha M


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Daniel 12/04/2016

Memórias e Reflexões
"_ Não é fácil escrever sobre nada."
Esta frase abre o livro de Patti Smith, Linha M. Ao final da leitura temos a impressão que, pelo menos para Patti, é sim, muito fácil escrever sobre nada. E o que seria este nada? Pensamentos, sonhos, lembranças, reflexões, impressões. Tudo isso serve para preencher as páginas e encher o leitor de contentamento. Com uma sensibilidade ímpar, Patti Smith nos emociona sem nunca pesar a mão, nem ser melodramática...

Ela nos descreve seu dia a dia, seus hábitos: suas viagens; a mania de tomar café sempre na mesma cafeteria; escrever, ler ou desenhar; assistir seriados policiais na TV; visitar e fotografar túmulos de escritores; lembrar de pessoas queridas que já se foram ("Por que só compreendemos totalmente nosso amor por alguém quando eles já morreram?"). E por conta de viver divagando, Patti está sempre perdendo coisas - um livro, fotografias, um casaco velho - e se lamentando depois.

Há momentos tão pungentes que dão aquele nó na garganta, mas há sempre, ao mesmo tempo, uma lufada de ar fresco, uma ponta de esperança no futuro, apesar das perdas e das mudanças, um entendimento que a vida é assim mesmo e temos que aceitá-la, com suas bênçãos e seus reveses.

"Eu precisava ser lembrada do quanto a permanência é passageira."

É o tipo do livro para ler, marcar trechos, reler...
Carla Porto 12/04/2016minha estante
nossa daniel, que resenha maravilhosa. estou agradecida e ansiosa para ler.


Babi 12/04/2016minha estante
a resenha que ele fez de o sol e o peixe da virginia, maravilhosa também, agradecida. li e amei.


Carla Porto 12/04/2016minha estante
o carlito azevedo escreveu isto aqui há duas horas no face.
17:30. Pausa para o café. E, enquanto a água ferve, lanço um olho na chaleira e outro na tela do computador. E percebo que, por um tempo, tudo na minha vida girará em torno a Patti Smith. Até esse poema de Yehuda Amichai é outro depois de ler "Só Garotos" e "Linha M". Penso que foi escrito para Patti e Robert Mapplethorpe, para Patti e Fred (Sonic) Smith. Penso em como é bonito que ela tenha resolvido escrever tanto quando toda a sua geração vai desaparecendo. Às vezes penso que o mundo de onde eu vim está acabando, acabado, mas esses livros são uma mensagem vinda de lá, dizendo "estamos todos bem, o fim não existe, aguarde o próximo contato".
O CORPO É A CAUSA DO AMOR
Primeiro o corpo é a causa do amor
depois a fortaleza que o protege
por fim seu cárcere.
E quando o corpo morre, o amor jorra
caudalosamente
como de um caça-níqueis clandestino quebrado
jorram de súbito
com estrondo todas as moedas de gerações
e gerações entregues à própria sorte.


Babi 13/04/2016minha estante
!




Alexandre Kovacs / Mundo de K 12/04/2016

Patti Smith - Linha M
Editora Companhia das Letras - 216 páginas - tradução de Claudio Carina - Lançamento 21/03/2016.

Um livro inspirador e que não pode ser classificado em uma única categoria, seja ela autobiografia, ficção ou ensaio, simplesmente porque é tudo isso ao mesmo tempo, assim como a performática Patti Smith que assume múltiplas formas de expressão artística, tais como: música, artes plásticas e poesia, não necessariamente nesta ordem. Preparem-se para uma viagem sem destino e, de preferência, sem pressa também, pelo sensível "mind train" da autora, vivendo a intimidade do seu processo criativo através de lembranças dos lugares que visitou ao redor do mundo e das perdas e conquistas da sua vida pessoal.

Diferente de "Just kids", vencedor do National Book Award de 2010, que descrevia o período da sua carreira desde a chegada em Nova York, no verão de 1967, até o lançamento do álbum de estreia, Horses, em 1975, em "Linha M" o foco está no presente, com inserções de lembranças aleatórias de um passado mais recente, principalmente da sua relação com a família e o marido, o guitarrista Fred (Sonic) Smith, que faleceu vítima de um infarte em 1994, aos 45 anos, mas com a narrativa voltando sempre aos momentos passados no Café 'Ino no Greenwich Village onde ela marcava presença diariamente, sempre na mesma mesa e com o seu inseparável caderno de notas, tentando registrar a passagem do tempo e as suas impressões sobre sonho e realidade.

"Fecho meu caderno e fico sentada no café pensando sobre o tempo real. Será que o tempo é ininterrupto? Só abrange o presente? Será que nossos pensamentos são apenas trens passageiros, sem paradas, destituídos de dimensão, zunindo com grandes cartazes de imagens repetidas? Captando um fragmento de um assento na janela, com um idêntico fragmento no próximo quadro? Se eu escrever no presente, com digressões, ainda será em tempo real? O tempo real, raciocinei, não pode ser dividido em seções, como números no mostrador de um relógio. Se eu escrever sobre o passado enquanto lido simultaneamente com o presente, ainda estou em tempo real? Talvez não exista passado nem futuro, somente um perpétuo presente contendo essa trindade da memória. Olhei para a rua e notei a luz mudando. Talvez o sol tenha se escondido atrás de uma nuvem. Talvez o tempo tenha escapado." (págs. 74 e 75)

O que mais surpreende no cotidiano de Patti Smith é o ascetismo de sua vida pessoal, uma vida solitária e muito distante do estereótipo que costumamos fazer de uma estrela de rock. O combustível do seu processo criativo não tem origem no álcool ou nas drogas, mas simplesmente nas inúmeras xícaras de café e no hábito de escrever diariamente. A convivência com os seus gatos, o prazer de assistir às séries de detetives preferidas como "The Killing", "Law and Order" e "CSI: Miami", a presença dos livros (muitos livros) e a fixação por fotos polaroides de objetos inusitados, tais como a cadeira onde Roberto Bolaño escreveu seus romances (incluindo 2666 que ela considera a primeira obra-prima do século), a bengala de Virginia Woolf, as muletas de Frida Kahlo, as sapatilhas de balé de Margot Fonteyn e os túmulos de Bertold Brecht, Arthur Rimbaud, Yukio Mishima, Akira Kurosawa, Jean Genet e Sylvia Plath.

As citações às suas paixões literárias são um atrativo adicional para os leitores compulsivos. No campo da poesia há referências à obra mística de William Blake, o romantismo alemão de Friedrich Schiller e Goethe, os simbolistas franceses Charles Baudelaire, Paul Verlaine e Arthur Rimbaud, sem esquecer dos poetas russos Vladímir Maiakóvski e Anna Akhmátova, o legado de sofrimento e redenção de Sylvia Plath chegando até a geração beat com Ginsberg e William Burroughs. Na literatura em prosa uma profusão surpreendente de autores de diversas épocas e estilos, entre eles: Albert Camus, Jean Genet, Mikhail Bulgákov, Vladimir Nabokov, Herman Hesse, Bruno Schulz, Henry Miller, Roberto Bolaño, Haruki Murakami, W. G. Sebald, Yukio Mishima, Rynosuke Akutagawa e Osamu Dazai.

"Linha M" é muito fácil de ler, mas difícil de resenhar porque não segue uma estrutura narrativa linear ou uma sequência "lógica" de assuntos relacionados. Na verdade, representa uma jornada individual (que se torna universal) em uma espécie de colagem que segue unicamente o instinto poético e sensibilidade da autora. As suas lembranças partem de Saint-Laurent-du-Mer na Guiana Francesa, onde Jean Genet ficou preso aguardando a transferência para a Ilha do Diabo (que nunca ocorreu) para um improvável encontro na Islândia com Bobby Fischer, um dos maiores jogadores de xadrez do século XX, pulando para uma visita à Casa Azul no México onde Frida Kahlo e Diego Rivera viveram e viajando para uma temporada no Japão para visitar o templo dourado em Kyoto e o túmulo de Yukio Mishima. Enfim, cada capítulo é sempre uma surpresa para o leitor que nunca sabe qual será a próxima estação desse trem desgovernado no tempo e no espaço, algo muito parecido com o nosso destino, não é mesmo?

"Tenho vivido de acordo com o meu livro. Um livro que nunca planejei escrever, registrando o tempo para trás e para a frente. Já vi a neve cair no mar e segui os passos de um viajante que há muito se foi. Revivi momentos que foram perfeitos em sua certeza. Fred abotoando a camisa cáqui que usava nas aulas de voo. Pombos voltando para o ninho na nossa sacada. Nossa filha Jesse estendendo os braços de pé na minha frente.
Ah, mamãe, às vezes eu me sinto como uma árvore nova.
Desejamos coisas que não podemos ter. Tentamos conservar certos momentos, sons sensações. Quero ouvir a voz da minha mãe. Quero ver meus filhos ainda crianças. Mãozinhas pequenas, pés ligeiros. Tudo muda. Garoto crescido, pai morto, filha mais alta que eu, chorando por causa de um sonho ruim. Por favor, fiquem aqui para sempre, digo para as coisas. Não vão embora. Não cresçam." (pág. 170)
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Brenda 02/12/2023

"M Train" is my third experience with Patti's prose. What can I say? She is one of the best storytellers, an absolutely talented woman capable of transforming her experiences into a personal conversation between her sensitive and brilliant lyricism and the reader. In this particular work, Patti leads us into her grief, which isn't expressed in whining but in her routine, discreetly revealing her pain. I could see my mother, after my father passed away, in her frequency of watching television series, passing through the days with subdued doldrums. Anyway...I love this book and highly recommend it.
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Mari 15/04/2021

"Ansiosa por alguma permanência, acho que precisava ser lembrada do quanto a permanência é passageira."

Comecei a ler 'Linha M' evocando o deslumbramento que tive com 'Só Garotos', que li em 2016. Já de início, as diferenças foram se apresentando, e cheguei a lamentar ser um livro que não parecia ser, em nada, a esperada 'continuação' do anterior.
Bobagem. 'Linha M' é outro momento da vida de Patti, que ela conta com menos linearidade, com mais instrospecção, mas nada disso prejudica a leitura. Pelo contrário - ler este livro, neste momento, só me trouxe mais forte a sensação de que estamos perdidas num tempo banal, convencional, enquanto a vida pulsa sob a superfície dos detalhes, das divagações, das memórias, das intuições, do espaço que precisamos abrir para que as sensações fluam, e as expectativas não nos matem.

É um livro extraordinário. É Patti Smith sendo, mais uma vez, extraordinária.
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Fabi 16/06/2023

Mais uma vez me perdi e me encontrei na escrita da Patti. Ler o que ela escreve e compoe me faz ter muita inveja da sensibilidade dessa mulher, cê é loko.

Vale a pena ler essa mistura de memórias, sonhos e devaneios para quem já é fã da autora, mas para quem não é também, especialmente porque um dos temas centrais dos capítulos acomete a todos nós: perdas. :)

Alguns foram um soco no estomago, mas sem muito melodrama. Só a vida como é, já foi o suficiente para mexer comigo... E ler algumas coisas pós-pandemia ganhou uma relevancia maior para mim.

Ai, recomendo!
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olivromefisgou 15/07/2023

Apesar de ter sido o livro dela de que menos gostei, ainda é sempre um prazer acompanhar Patti Smith por esse mundão (exterior e interior tbem).
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Paty 22/06/2020

É a mente de uma artista, e não tem preço visitar esse espaço tão raro, tão criativo, tão incrível.
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deborafv 01/03/2021

Caco a caco somos libertados da tirania do que se chama de tempo.
Conheci Patti Smith primeiro como escritora, através do seu famoso livro "Só Garotos", e logo me apaixonei pela sua escrita e sua visão de mundo, depois, conheci a Patti Smith cantora/compositora, e aí eu tive certeza que tinha conhecido uma grande artista.

Em "Linha M" nós temos um vislumbre de como funciona seu fluxo de pensamentos, conhecemos mais histórias sobre sua juventude e seu passado recente. E que vida! Uma ida ao Japão para limpar os túmulos de Yukio Mishima ou de Osamu Dazai, uma viagem à Guiana Francesa para recolher algumas pedras do local onde Genet esteve preso, um passeio pelo México onde ela ficou horas sentada em um café apreciando a bebida com a certeza de que ela "nunca mais tomaria um café tão extasiante quanto o dele". Ideias quixotescas, como ela mesma define, mas que não deixam de me encantar pela sensibilidade. Sensibilidade que define cada colocação da autora. Ela consegue tocar em assuntos tristes com muita sutileza mas sem diminuir em nada sua importância. 

Terminei este livro ainda mais apaixonada do que já estava e como a Patti Smith não tem muitos livros publicados, recomendo o Instagram da autora (@thisispattismith) pois em cada foto que posta, ela deixa um poema na legenda, o que eu achei um complemento incrível ao próprio "Linha M" para entendermos melhor as fotos de seu acervo pessoal disponíveis no livro.
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Kirley 13/03/2021

Quero envelhecer igual a Patti Smith: observando a beleza e melancolia da vida, aceitando os erros e as perdas, acompanhada de um bom café.
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gabibs 10/08/2022

esperava bem mais pq just kids é tipo meu livro preferido mas tudo bem, patti segue incrível eu só achei muito monótono não me prendeu só com a narração (mas amei as observações sobre murakami e sylvia plath)
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Nata 15/04/2020

Perfeita poesia, nesse passeio por mais alguns anos da vida dessa lenda viva, que é Patti Smith.
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Erica 12/10/2020

um relato íntimo e pessoal
Patti Smith nos convida a um passeio dentro de suas memórias e pensamentos, fazendo o leitor sei identificar profundamente com o que há de mais simples e humano em uma das personalidades mais icônicas do rock. Seu trabalho com as palavras é primoroso e esse livro alimentou minha alma por muito tempo, pois não queria que acabasse. Infelizmente, chegou a hora de dizer adeus à experiência de estar lendo-o pela primeira vez, mas estou certa de que as releituras me proporcionarão uma nova experiência, um novo prazer melancólico.
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Ana Aymoré 20/07/2020

A segunda parte de uma jornada autobiográgica
Linha M (2015), é o segundo relato memorialístico de Patti Smith, publicado cinco anos após o cultuado Só garotos. Se na primeira incursão autobiográfica a icônica multiartista norte-americana revisitava seus anos de juventude em meio à contracultura de vanguarda dos anos 1970, e através de seu relacionamento com Richard Mapplethorpe - companheirismo duradouro que propicia, a ambos, um processo de autodescoberta e suporte mútuo no desenvolvimento respectivo de seus talentos -, em Linha M ela evoca seus anos de maturidade, entre cafés, viagens, gatos e séries de detetive, nos quais a literatura, sua mais antiga paixão, volta a ocupar um papel central (aliás, um atrativo a mais deste livro se encontra justamente nos comentários de Patti sobre suas paixões literárias), mas um tempo também devastado, em meados dos anos 1990, pelas mortes consecutivas do marido Fred Sonic Smith e do irmão Todd.
.
A ideia de um livro (impossível) sobre o nada, que se apresenta a nós desde a frase de abertura e cristaliza-se no ideograma Mu (nada) na lápide de Yasujiro Ozu, traduz-se, então, nas múltiplas dimensões da perda. O esquecimento de objetos os mais variados (uma câmera Polaroid, a Crônica do pássaro de corda de Murakami, as fotografias do túmulo de Sylvia Plath), ou aqueles outros, como o velho casaco preto do poeta, que partem misteriosamente para habitar o Vale dos Perdidos, ou, ainda, o esquecimento, como a inquietante constatação de não lembrar mais nada do conteúdo de um livro favorito - todos os desdobramentos cotidianos da dor mais aguda de uma perda que é irremediável, do ser amado. E todas as tentativas inúteis ou frustradas de reparação: reter, guardar, memorizar, fotografar. Polaroides em preto-e-branco de palavras e imagens que, a cada página, espalham-se diante de nós como cartas de tarô, a mercê da dissolução inevitável, mas que, enquanto isso, testemunham a verdade dessa mulher extraordinária, despida de qualquer traço de arrogância, que nos estende as mãos alongadas de sacerdotisa (ou artista, ou poeta): "ofereço meu mundo numa bandeja cheia de ilusões".
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Lara.Martins 29/05/2021

passado, presente e futuro
tudo que patti escreve me faz sentir uma imensidão.

a forma que ela avança no tempo, olhando para o passado simultaneamente tornando a leitura do presente tão viva, tão única.

é muito gostosa a leitura porque Patti não é pretensiosa, muito pelo contrário, ela segue na busca constante pelo lugar e o espaço dela enquanto artista. talvez não faça sentido para todo mundo da mesma forma; me faz querer viver, não somente para ter experiências para contar, mas porque existe uma infinidade de coisas a serem vistas, sentidas, tocadas além do que nossos olhos alcançam.
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