Murphy 05/10/2023
"Tenho um medo seco de enfrentar pessoas que me ouvem."
Difícil, hein? Esse aqui foi meio complicado de lidar. Se trata de uma coletânea de contos e textos que capturam a natureza pura e enigmática de Clarice. E se me permitem dizer, é uma bomba, por ser sobre vários assuntos, a única linha tênue que possui é o da loucura e a liberdade. Continua sendo mais um livro desafiador e fascinante, mas, é como uma bigorna caindo na sua cabeça.
Tenho uma profunda admiração e curiosidade sobre a autora, porque a mulher simplesmente disseca o corpo e a alma do leitor apenas com algumas frases, então me aventurei em procurar entrevistas de pessoas falando sobre ela (já que a própria não gostava de ser entrevistada), foi ai que achei uma entrevista com Chico Buarque, que tentou desvendar e repassar um pouco sobre a natureza de Clarice. Confesso, que a situação foi peculiar, até meio cômica, pois era evidente o desconforto que ele sentia ao tentar descrevê-la. Ele compartilhou o impacto que ela causava nele e em todos ao seu redor quando chegava a algum lugar. Descreveu essa intensidade igualmente como a do Chapeleiro Maluco, na festa do chá, quando começava a proferir palavras e fazer perguntas desconcertantes antes de desaparecer e deixar os outros perplexos e confusos.
Chico também mencionou que, apesar de sua aura maternal, Clarice intimidava a todos. Acredito que o charme de Clarice residia em sua franqueza e clareza. Qualquer mulher misteriosa que nos fizesse questionar a origem dos nossos sentimentos sem nome, aqueles que nos tornam profundamente humanos e nos levam a um abismo de introspecção, explorando a vastidão de um vácuo eterno de sensações entre o ser e o não ser, é, de fato, intimidante.
Enfim, o livro é isso. É sobre o bicho Clarice. Sobre ela e seus pensamentos. Sobre fatos cotidianos, aparentemente normais, mas com aquela pitada de sentimentalismo e pensamentos altamente pensantes (muito parecido com o que temos antes de dormir (sabem, aqueles que te dão insônia)).