Cailes Sales 29/08/2016A Canção de Outrora tem como cenário o Sul do Texas, Estados Unidos, entre os anos de 1846 e 1867. Conta a história de sofrimento, tristeza e superação de Rose Davis. Órfã, mora com o padrasto, pois o pai morreu há anos e a mãe se casou novamente, contudo, também veio a falecer, deixando a menina sozinha e desamparada, com o monstro que transformaria sua vida num mar de agonia e desespero.
Desde os 6 anos, Rose é violentada pelo padrasto e não satisfeito em abusar da criança, o desgraçado a vende para outros homens da própria cidade em que vivem e a forasteiros, por alguns dólares ou fumo. Quando menina, não tinha como se proteger, com o passar dos anos tentava se defender como podia, todavia, mesmo já sendo jovem, tinha apenas os braços e as pernas para lutar e sua força física nunca poderia ser comparada a daqueles monstros. Assim, a garota cresce conhecendo apenas a dor e a violência, jamais o afeto, o amor.
Todos da cidade sabiam quem era Rose Davis, a mulher que era vendida pelo senhor Loreto, mas não, ele não tinha culpa, era um bom homem, cortês com todos, a prostituta era a moça que se deitava com qualquer um, era a escória da cidade, com a qual ninguém falava a não ser para escorraçar como a um cachorro, este talvez fosse mais bem tratado.
“– Por favor, me mate...
A risada maquiavélica de Drew adentrou sua mente e se instalou lá. Ela o viu retirar o revólver do coldre e apontando para a sua face, apertando o cano contra sua bochecha.
- Implore- murmurou.
Não se fez de rogada. Não suportava mais.
- Por favor, aperte o gatilho.
Fechou os olhos, sentindo, subitamente, um alívio tão imenso que nenhuma palavra poderia descrever.”
Dentre todos os abusadores, Drew Hill, filho do coronel e xerife da cidade, era um dos mais perversos e torturadores. Apesar da beleza física, para Rose, era o próprio demônio. Quando tentava fugir mais uma vez de suas garras infames, ela se depara com outro Drew, mas este é diferente, tem olhos gentis e a salva de ser violentada novamente.
Apesar de serem gêmeos idênticos, Damien é o oposto de Drew, ele é justo e tem ideias pouco aceitas para a época, principalmente no Sul, onde prevalecia a escravidão, sendo a força de trabalho baseada na mão de obra escrava. Damien é um abolicionista e mesmo vivendo em uma fazenda repleta de escravos, pois seu pai é um defensor ferrenho da escravidão, ele deixa claro seu descontentamento com a situação daquelas pessoas que são tratadas como animais e, ao contrário de todos, busca sempre trata-las com o devido respeito. Ao defender Rose Davis e tomar conhecimento de sua condição, ele passa a protegê-la de todos, ao mesmo tempo em que a ensina a se defender. Desse modo, os dois passam a ser amigos e gradativamente um novo sentimento surge entre eles. Porém, a guerra entre o Norte abolicionista e o Sul escravagista, bate as portas e Damien tem que partir, deixando Rosie mais uma vez sozinha e, talvez, para sempre.
Josiane Veiga novamente traz uma história que choca e incomoda, mas que nos faz refletir. Uma trama bem construída, com fatos históricos habilmente abordados e interligados ao cenário criado, de modo que propicia a nós leitores, uma vivência mais real e crua dos acontecimentos. A autora retrata, mais uma vez, temas complexos e importantes, como o abuso sexual e o racismo. Por vezes, foi difícil realizar a leitura do livro, principalmente a primeira parte, na qual é relatada todo o sofrimento da protagonista, tais passagens me deram repulsa, ao mesmo tempo, que me revoltaram. O que auxiliou no desenvolvimento da leitura, além da fluidez com que a autora escreve, foram as cenas entre Rosie e Damien, pois via ali uma centelha de esperança para a mocinha, a qual, para mim, foi a mais sofredora e forte de todas as mocinhas criadas pela Josi.
Os personagens construídos pela autora são sempre peculiares. Existem aqueles que odiamos profundamente e outros que amamos, essa é uma das características que mais gosto nos livros da Josiane. Alguns me lembraram seus personagens de outros de livros, principalmente Richard, ele me parece com o Richard de A Insígnia de Claymor, talvez esta tenha sido a intenção da autora, e eu gostei da ideia.
Enfim, o livro traz um romance muito bonito e envolvente, que supera barreiras para realmente acontecer. Além de ser uma história de luta, enfrentamento e vingança. É também uma leitura muito rápida de ser feita, que me prendeu do início ao fim. Indico para todos que gostam do gênero e buscam uma trama forte e emocionante.
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