Thais645 14/03/2021
Uma letargia delirante, sufocante e perturbadora. São essas palavras me vêm à mente quando penso sobre este livro.
Narrado em terceira pessoa, ele conta a história de Júnior, um homem de quarenta e três anos que repentinamente entra num quiprocó com a esposa (a mulher o trai com o amigo adolescente do filho). Ele abandona o emprego e então busca abrigo no apartamento do pai, que tem como inquilina uma jovem chamada Bruna, uma estudante de artes e por quem Júnior desenvolve uma espécie de paixonite.
Sem dinheiro para mais nada, Júnior começa a extrair grana dos pertences da jovem. No entanto, não há reflexão moral, de ordem ética ou existencial por parte do narrador em nenhum momento. A linguagem é crua e as frases são secas e curtas.
Mergulhado num tédio e vazio existencial crescente, ele vê seus dias se repetindo numa espiral de acontecimentos que se resumem a idas a padarias e botecos (onde começa a se afogar na bebida) e no retorno ao velho sofá da sala. É de lá pra cá, de cá pra lá, sucessivamente. Até que... Júnior começa a receber misteriosos pacotes anônimos com recortes de velhas notícias envolvendo o escritor William Burroughs, que matou a mulher acidentalmente durante um "brincadeira" com uma arma de fogo.
A partir desse evento, Júnior é arrastado pelas horas e dias, perdendo-se num labirinto psicológico (representado pelos desenhos que começa criar obsessivamente) sem vislumbrar uma saída (e ele não parece se importar em encontrá-la). E não vou me estender aqui, para não dar spoiler.
Particularmente, achei que faltou um pouco de ironia (e até humor) para atenuar o ritmo da história em alguns momentos (chega a ser um pouco cansativa), e que passa a se tornar cada vez mais sombria, caótica e asfixiante, e que nos leva (e traga) junto com Júnior para um labirinto aparentemente sem saída.
Resumo da ópera: uma história bem contada, com algumas passagens e descobertas surpreendentes, apesar dos pesares.