Fábio Valeta 19/02/2020
O século XIV (1301-1400) foi um período bastante conturbado para a História Europeia. O período ficou conhecido por vários anos seguidos de colheitas abaixo do esperado, provocando fome. A guerra dos Cem anos (1337-1453) entre a Inglaterra e a França arrastou outros países em sua disputa e para piorar, uma doença desconhecida passou de forma avassaladora por todo o continente. Conhecida como Peste Negra, apenas ela foi responsável pela morte aproximada de 1/3 da população europeia. A Fome e a Guerra provocaram ainda mais mortandade.
E quando se junta FOME, PESTE, GUERRA, provocando MORTE, boa parte da população religiosa tinha absoluta certeza de que os Quatro Cavaleiros do Apocalipse eram o princípio do fim do mundo.
É nesse período conturbado que se desenrola a História de “Mundo sem Fim”, continuação de outro romance do autor: o excelente “Pilares da Terra”. O Follett usa do mesmo terreno, a fictícia cidade de Kingsbridge (de acordo com o autor, existem várias vilas inglesas com o mesmo nome, mas que ele não descreveu nenhuma em particular), para narrar a história de 04 crianças que presenciam um crime, e como suas vidas se desenrolaram pelo período de mais de três décadas após esse fato.
Enquanto em Pilares é mostrado a construção de uma grande Catedral e consequentemente o surgimento de uma cidade ao redor dela, aqui temos uma Kingsbridge em clara decadência. Sua orgulhosa Catedral possui grandes rachaduras e parte dela corre o risco de desabar, sua ponte é precária e pequena, e o comércio está diminuindo a olhos vistos. Sua liderança tem pouca visão para resolver os problemas da cidade, fazendo com que um sentimento de nostalgia em relação a um passado grandioso vez ou outra apareça (dando ao autor a possibilidade de citar nomes como Phillip e Jack Builder, protagonistas do livro anterior, e mortos já há duzentos anos).
A partir das 04 crianças protagonistas, somos apresentados às classes sociais do período: Burguesia, Artesãos, Nobres e Servos. E presenciamos os conflitos de poder em uma sociedade em plena transformação. Apesar do período ser considerado como “Medieval”, a sociedade inglesa mudava rapidamente, seja devido aos servos que buscavam melhores condições de vida, seja a burguesia que não queria mais a intromissão da igreja e da nobreza em seus negócios. E é justamente essa transformação que é o foco de Follett ao narrar a história.
Enquanto em Pilares da Terra o ponto focal da trama era em torno da construção da Catedral e os mistérios envolvendo uma obscura execução, Mundo Sem Fim não possui exatamente uma trama norteadora. Existe um mistério, assim como no livro anterior, mas ele é bem menos importante. E a trama se move lentamente à medida que seus personagens crescem, se apaixonam, brigam, prosperam ou vão à ruína. Sempre misturando os acontecimentos fictícios com a História Inglesa.
Esse é o segundo livro do autor que leio, e sua capacidade em criar uma grande obra é repetida aqui. Mundo sem Fim é um livro enorme, tanto devido ao tamanho, com suas 1100 páginas, quanto pelo poder de sua narrativa.
Uma leitura altamente recomendada. "Coluna de Fogo", que continua a história de Kingsbridge no século XVI será minha próxima leitura.