A Máquina de caminhar

A Máquina de caminhar Cristovão Tezza




Resenhas - A Maquina de caminhar


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Henrique Fendrich 11/09/2019

A experiência de Cristóvão Tezza com a crônica
Vez ou outra um jornal resolve ceder um espaço em suas páginas para que um escritor local escreva crônicas, ainda que ele não tenha nenhuma experiência com o gênero. Foi este o caso de Cristóvão Tezza, que, ainda na esteira do sucesso do romance “O Filho Eterno”, foi convidado em 2008 para assinar uma crônica semanal na Gazeta do Povo, o jornal de maior circulação em Curitiba. Depois de alguma hesitação, já que realmente nunca havia escrito uma crônica, Tezza aceitou o convite, animado pela possibilidade de alcançar uma maior visibilidade. Assim, teve que aprender sobre a crônica na prática, e se entregou a esse exercício por seis anos, até o final de 2014. De todas as 335 crônicas que fez, é possível encontrar uma amostra nos livros “Um operário em férias” (Record, 2013) e, mais recentemente, “A máquina de caminhar” (Record, 2016). Neste último também há um ensaio em que Tezza fala sobre a crônica e, a partir do seu aprendizado, esboça algumas características gerais que favorecem a criação de uma teoria a seu respeito.

Destaca-se, nas considerações de Tezza, a importância que atribui ao jornal na feitura da crônica. Longe de se acomodar na clássica definição do gênero como um “híbrido” do jornalismo com a literatura, o escritor prefere considerar a crônica como um subproduto ou um subgênero (sem juízo de valor) do jornalismo. Para ele, a crônica é “jornalismo desgarrado”, que se liberta da amarra pragmática do puro jornalismo para se apropriar das marcas e do repertório das linguagens literárias, prosaicas e poéticas. O gênero seria quase uma “representação” da literatura, amostra de seus recursos, que brilham aqui e ali, num cruzamento de intenções e linguagens. Ao avaliar uma crônica de Machado de Assis, Tezza consegue observar que ela “não é literatura em sua inteira liberdade”.

Sendo um homem da literatura, que nunca passou pela redação de um jornal – serviço militar obrigatório do cronista, como ele diz –, Tezza notou a mudança de perspectiva a que estava sujeito na crônica: de repente, era sempre ele que respondia pela opinião do texto, e não mais um personagem. Porque a crônica é basicamente um texto de opinião, e todos os teóricos do jornalismo a incluem entre os seus gêneros opinativos. Só que a opinião na crônica difere daquela do artigo ou do editorial: “tem um toque carnavalesco, indireto, humorístico, essencialmente cordial”. Ao dar uma opinião, o cronista não quer criar caso nem ofender – é como se não gostasse de opinar, mas se visse obrigado a isso, pois o comentário da vida cotidiana está no seu DNA. E ainda por cima tem o leitor.

Ah, o leitor, o fantasma do leitor! Foi ele quem deu o primeiro susto em Tezza quando sentou para escrever a primeira crônica. Sua presença era real, de uma maneira que não havia encontrado na literatura. Tezza reconheceu, com a prática, uma “etiqueta” típica do cronista, dos temas às formas, um código de civilidade e boas maneiras com o leitor. Não podia, por exemplo, escrever palavrões, ou descrever um ato sexual. É interessante a conclusão que tirou a esse respeito: o leitor da crônica não é apenas um pressuposto do texto, mas um personagem mesmo, “parte integrante e inseparável da crônica”. Como cronista, cabia a ele entendê-lo e domesticá-lo – era a pressão que sentia ao escrever.

Também chama atenção a observação de Tezza de que o “tom” da crônica seria capaz de contaminar outros gêneros, mais específicos e direcionados, do jornalismo, como as colunas de comentário político, econômico ou cultural – chamados por ele de “primos da crônica”, mas que não se confundem com ela. De fato, essa espécie de camaradagem atribuída à crônica é recurso de outros gêneros do jornal para atrair a simpatia popular. No entanto, também é verdade que os outros gêneros do jornal influenciam a crônica – com frequência, o cronista de hoje é apenas um articulista mais descompromissado.

A natureza da crônica não apenas admite a absorção de outros gêneros, mas praticamente a exige, pois é dela que se constitui. O próprio Tezza reconheceu que a ficção, a filosofia, a poesia, o ensaio, a história, a biografia não são estranhos à crônica, embora também não se confundam com ela. No fundo, a crônica é mesmo um espaço a ser preenchido, obedecendo a determinadas características de linguagem herdadas do jornalismo.

Não há atributos fixos, sobretudo depois da Internet, que de um só golpe derrubou a necessidade de um veículo impresso e a sua rígida limitação de caracteres – apesar de a crônica muito longa geralmente sair perdendo. A própria unidade de tema e estrutura não é um critério obrigatório – Paulo Mendes Campos fez várias crônicas preenchidas com assuntos estranhos entre si. Esses seriam, para Tezza, casos fora da curva, clássicas exceções, e a princípio são mesmo, mas que também precisam ser considerados se um dia quisermos elaborar uma grande teoria da crônica. O escritor sugere como o ponto central do gênero o tom de “conversa fiada”, não negando a existência de crônicas mais sérias e sisudas, que vê de forma negativa. E faz sentido, se pensarmos que o papel que a crônica geralmente ocupa dentro do espaço do jornal é o de negar a sua retórica tradicional.

Curiosamente, o próprio Tezza escreveu crônicas que se aproximam do artigo ou do editorial, como revela a leitura do seu novo livro. Há mesmo um certo tom professoral em algumas delas, a ponto de colocar entre parênteses, por exemplo, os anos em que nasceram e morreram Balzac e Dostoievski. Tezza escrevia bastante sobre suas leituras, às vezes presumindo que o leitor não estava habituado ao tema, e em outras parecendo supor que o assunto lhe interessasse de maneira especial. Também são bem frequentes as crônicas com opiniões diretas, sobretudo relacionadas à situação do país, nas quais Tezza parece ter elevado o tom mais do que ele mesmo acredita o ideal para a crônica.

Quando recebeu o convite para se tornar cronista, Tezza cogitou uns temas iniciais para as primeiras semanas, e se lembrou de que relatos da infância vinham a calhar com o gênero. Mas esse tipo de crônica, beirando a nostalgia, não está presente neste livro, e uma análise empírica sugere que foram justamente os temas atuais, presentes no noticiário, que renderam a maior parte dos seus temas. E, na leitura, quase não se enxerga Tezza em seus momentos de intimidade – apesar das suas viagens, apesar do lagarto em sua casa de praia. A impressão que se tem, pelo recorte deste livro, é que Tezza não se expôs tanto quanto seria possível na sua experiência com a crônica.

O curioso é que o seu primeiro livro deixou impressão diversa, pois, embora também discutisse assuntos relacionados ao país e ao universo da leitura, é possível encontrar o cronista em muitos momentos cotidianos que renderam episódios e observações bem humoradas, várias delas relacionadas à sua vida pessoal. No novo livro esses momentos são raros, e o que se privilegia são temas densos e áridos, nada estranhos ao restante do jornal que os divulgou. Embora Tezza tenha pegado vários dos cacoetes de cronista (entre eles o de destacar o número reduzido de seus leitores), eles não funcionam tão bem quando ele se propõe a discutir seriamente um assunto.

De toda forma, a experiência de Tezza com a crônica se mostra interessante, até mesmo digna de estudos mais detalhados, pelo inusitado de um escritor reconhecido por sua obra de ficção precisar aprender na prática um gênero criado em jornal. E em relação às conclusões que chegou e às observações que fez em seu ensaio, pode-se dizer que está até bem à frente de muitos críticos literários, que ainda consideram o jornal como mero empecilho para a realização da crônica. Sua contribuição, portanto, é válida e muito bem-vinda.

site: http://rubem.wordpress.com
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Mariana 13/10/2018

Um toque carnavalesco, uma conversa de boteco
Crônicas são tudo de bom né?

"Já se disse que se trata de um gênero nativo brasileiro, como a jabuticaba – faz sentido, é verdade, o papo cordial, rápido, diversionista, mais ou menos inútil porém bem-humorado, sobre todas as questões do mundo, acompanhado daquele tapinha gentil nas costas que torna a vida mais leve assim que devolvemos a xicrinha de café ao pires"

Gostei muito do Cristóvão Tezza cronista, que me fez querer ler o Cristóvão Tezza romancista. Ele tem o dom do estilo gracioso dos teóricos de fenomenologias de boteco. Recomendo!
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Biblioteca Álvaro Guerra 30/04/2018

Livro inédito e ilustrado do autor de O filho eterno Por mais de seis anos, Cristovão Tezza assinou uma coluna de crônicas no jornal paranaense Gazeta do Povo, revelando a seus leitores uma nova faceta, a de observador fino e bem-humorado do cotidiano. Segundo livro saído da contribuição desse cronista tardio às páginas do jornal, A máquina de caminhar reúne 64 crônicas, selecionadas por Christian Schwartz e ilustradas por Benett, que comprovam a maestria do autor em extrair do circunstancial e do provisório pequenas pérolas literárias. Completa esta coletânea um saboroso ensaio sobre a crônica, com a marca do humor, em que Tezza faz uma brilhante análise de dois exemplos da pena de nosso maior prosador, Machado de Assis. A partir deles, procura definir as marcas deste gênero brasileiríssimo ao qual se dedicou de maneira quase acidental e de que este livro é uma bela amostra.

Empreste esse livro na biblioteca pública

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788501104694
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ViagensdePapel 30/03/2017

Eu ainda não conhecia o lado cronista de Cristovão Tezza, apesar de ele ter escrito por alguns anos, de 2008 a 2014, no maior jornal da minha cidade – a "Gazeta do Povo". Esse livro reúne algumas das crônicas escritas durante esse período. O mais legal é que no fim do livro o autor conta um pouco sobre esse gênero e como aceitou o convite para escrever para o jornal. A princípio, contou ele, ele recusou a oferta, já que ficou com medo de não ter assunto, de não saber sobre o que escrever. Mas ele ficou com vontade de arriscar e durante seu período como cronista, sua coluna semanal deixou de ser publicada apenas meia dúzia de vezes, como destaca Christian Schwartz, organizador, na apresentação da obra.

A máquina de caminhar reúne 64 crônicas sobre variados assuntos do cotidiano, como a cidade, literatura, futebol, viagens, política, entre tantos outros. O autor escreve de maneira simples e deliciosa, sempre fazendo o leitor se identificar de alguma maneira. A maioria de suas crônicas traz pitadas de humor e ironia, o que deixa a leitura ainda mais prazerosa. Dentre os temas abordados, gostei muito de ler as crônicas sobre literatura, tanto aquelas em que Tezza falava sobre os livros que estava lendo no momento, ou os textos sobre importantes autores como Gabriel García Márquez e Millôr Fernandes. É interessante vê-lo falar sobre suas influências literárias.

O livro é curtinho e muito rápido de ler. Dá vontade de ler uma crônica atrás da outra, visto que Tezza lida com as palavras de forma bem natural e os textos são despretensiosos ao mesmo tempo em que únicos. As crônicas abordam o cotidiano e mostram a visão especial que o autor tem sobre as coisas. A obra conta ainda com ilustrações de Bennet, que completam e dão ainda mais sentido aos textos. Para quem ainda não conhece a escrita de Tezza, A máquina de caminhar é uma boa forma de começar e se deixar encantar pelo autor. Uma obra deliciosa, divertida e ótima para passar o tempo.


Leia a continuação da resenha, acesse o link abaixo:


site: http://www.viagensdepapel.com/2016/05/08/resenha-maquina-de-caminhar-de-cristovao-tezza/
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Fêh Zenatto 07/10/2016

RESENHA - BLOG COISA E TAL
Minha história com Tezza começa exatamente 6 anos atrás, quando eu ainda era uma vestibulanda e, entre as leituras obrigatórias da UFRGS, estava O Filho Eterno; eu não apenas li e amei o livro, como fui a uma palestra com o autor e fiquei completamente fascinada pelas palavras dele. Desde então, virei fã e, é óbvio, solicitei essa reunião de crônicas para a Editora Record para ser minha leitura.

Minhas expectativas eram altas e foram todas cumpridas. O livro é extremamente agradável de ler, as crônicas são curtas e leves e mesclam temas como cotidiano, vida no interior, tecnologia, livros e leitura, política e a arte de escrever. Tezza se sai bem em todos esses assuntos.
As crônicas são relativamente organizadas por temas e conseguimos perceber pelas datas como os temas complementam-se após alguns meses ou anos. Nunca tinha lido um livro de crônicas com essa organização e adorei!

Leitura leve e rápida, ideal para quem nunca leu nada do escritor mas tem vontade de conhecer seu estilo e como ele lida com as palavras. Eu garanto que é completamente fascinante e viciante, além de dar vontade de passar uma tarde inteira deitada na rede apreciando os textos curtos!
Minhas crônicas preferidas foram: O tempo, a culpa e o tédio; Partidos, pessoas e poemas e Na praia; além de Um discurso contra o autor (onde Tezza assume seu lado romancista e, é claro, me encanta ainda mais!).

site: http://www.blogcoisaetal.com/2016/10/amaquinadecaminhar-cristovaotezza.html#.V_c-gPArLIU
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Pedro 30/05/2016

A Máquina de caminhar
Cristovão Tezza é um nome bem forte em nossa literatura contemporânea, tendo seu Romance O Filho Eterno consagrado com os principais e mais importantes prêmios literários do Brasil, entre eles o Jabuti, além de traduções para uma dezena de países. Quando a record anunciou o lançamento de A Máquina de Caminhar, fiquei na vontade solicitar para conhecer a escrita do autor, e foi o que fiz.

Neste livro, encontramos 64 crônicas escolhidas por Christian Schwartz. Todas elas foram publicadas anteriormente no jornal paranaense Gazeta do Povo, onde Tezza trabalhou por mais de seis anos como cronista e recebendo ilustrações do artista Benett.

Nos pequenos textos que não passam de três páginas, encontramos o Tezza em pessoa, não escondido atrás de um romance e um história ficcional, mas suas ideologias e pensamentos acerca do mundo e tudo o que acontece a sua volta. E é a partir de pequenos acontecimentos do cotidiano que ele fala, seja numa ida a praia, ou a um jogo do Atlético paranaense, sobre os pequenos fatos da vida de uma forma despretensiosa e clara. Em uma das crônicas, a mais tocante, é a que ele fala da morte do Gabriel García Márquez, o grande autor colombiano ganhador do nobel e autor de "Cem Anos de Solidão".

O que ganha destaque em suas crônicas, além da simetria em manter sempre as 2.800 palavras, são as crônicas em que o autor falar de outros autores e como bom leitor, de outras obras literárias. Leitor ávido, era impossível não falar de literatura também e acabou que sendo as crônicas mais calorosas e convidativas para devorar as obras e autores citadas.

O humor sagaz do autor é divertido e traz às crônicas um tom mais refinado, por exemplo, em "Fernanda e Gabriela", ele dialoga com as vozes do seu GPS e as trata como pessoas. Da comédia, ele passa pela melancolia em "Solidão Lunar" (que também é uma homenagem ao autor de ficção cientifica Ray Bradbury), depois navega pelas mazelas do século: a violência na internet; a falta de empatia e intolerância religiosa... Sem esquecer da politica e claro, o grande bloqueio de escrita, e o ócio do escritor sem assunto.

Para quem gosta de um livro para se ter na cabeceira e realizar uma leitura aos poucos, "A Máquina de Caminhar" é uma ótima pedida, cheio de indicações literárias, textos políticos reflexivos e no final um ensaio chamado "Um discuso contra o autor", que é mais um analise do gênero essencialmente brasileiro que é a crônica e suas definições.

site: http://decaranasletras.blogspot.com.br/2016/05/resenha-174-maquina-de-caminhar.html
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ricardo_22 27/05/2016

Resenha para o blog Over Shock
A máquina de caminhar, Cristovão Tezza, seleção de Christian Schwartz, ilustrações de Bennet, 1ª edição, Rio de Janeiro-RJ: Record, 2016, 192 páginas.

Organizando eventos literários em minha cidade há quase quatro anos, tive o prazer de conhecer imortais da Academia Brasileira de Letras, escritores premiados e outros que incentivaram o meu hábito da leitura, figuras polêmicas e alguns que não se enquadram em nenhuma dessas categorias. Mas posso afirmar que nenhuma experiência foi tão marcante quanto a viagem de duas horas acompanhado de Cristovão Tezza, que faz parte do time dos premiados.

Quando o amigo Zaga Tessarine me convidou para buscar Tezza, no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, tive de pensar por alguns instantes. Ele participaria, no dia seguinte, da III Semana Edgard Cavalheiro e, como um dos organizadores, ainda precisava acertar os últimos detalhes para que tudo saísse como o planejado. Mas deixei isso de lado e não demorei a aceitar o convite, sem imaginar que essa se tornaria uma das decisões mais acertadas.

Papo vai, papo vem e durante a viagem em direção à Serra da Mantiqueira falamos sobre cachaça, café, altitude, literatura e A máquina de caminhar. Ainda que brevemente, Cristovão Tezza comentou que dentro de alguns meses seria lançado, pela editora Record, um livro que reuniria algumas de suas crônicas, não por menos a leitura desta obra foi para mim como uma extensão daquele riquíssimo e inesquecível papo com um dos maiores nomes da literatura brasileira.

Através de uma seleção brilhantemente realizada por Christian Schwartz, o novo livro do ganhador do Prêmio Jabuti reúne crônicas publicadas por ele em sua coluna do jornal paranaense Gazeta do Povo. Durante mais seis anos, o escritor escreveu semanalmente, com exceção de raras ocasiões, sobre diversos assuntos que confirmam a sua importância para o cenário brasileiro. Mas saber que o escritor abandonou a publicações de suas crônicas foi suficiente para perceber que quem saiu perdendo, com o fim da coluna, foram os leitores, que ficaram órfãos de um grande observador.

Em suas 64 crônicas, A máquina de caminhar naturalmente reúne temas sobre o cotidiano, alguns de interesse geral e outros nem tanto, mas acima de tudo mostra como o escritor trata todos os assuntos se utilizando de um humor inteligente — embora não seja o mais cômico dos livros. Foram diversas as vezes que me encantei por sua visão do mundo e me diverti com comentários que em um primeiro momento pareciam despretensiosos, mas que rapidamente se revelaram de uma profundidade única.

Como não poderia deixar de ser, particularmente foram as crônicas sobre viagens e experiências literárias as que mais me agradaram, destaque para “Dois dias em Macau” e “Jogador ou escritor?”, textos em que os títulos deixam bem claro o assunto tratado. No entanto, até mesmo crônicas políticas vez ou outra chamaram a minha atenção, mas nada se compara com o encanto, para não dizer curiosidade, de ler um escritor consagrado narrando a sua própria dificuldade em encontrar um assunto para seus textos.

Curiosamente é sobre a falta de assunto que Tezza inicia o brilhante ensaio que encerra essa edição. Apesar de não ser um grande leitor de ensaios, não tenho medo em afirmar que “Um discurso contra o autor” é uma verdadeira obra-prima do gênero, que começa narrando como o autor quase recusou o convite para assinar a coluna de onde todas as crônicas saíram e segue fazendo várias constatações sobre o gênero que agrada os brasileiros desde Machado.

site: http://www.overshockblog.com.br/2016/05/resenha-386-maquina-de-caminhar.html
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Maria - Blog Pétalas de Liberdade 05/05/2016

Um livro de crônicas muito bom!
(Acesse o blog Pétalas de Liberdade para ver algumas fotos do livro e das ilustrações.)

Em "A máquina de caminhar", estão reunidas 64 crônicas escritas pelo curitibano Cristovão Tezza, que foram publicadas originalmente em uma coluna semanal do jornal Gazeta do Povo (o autor escreveu mais de 300 crônicas para a coluna durante quase 6 anos). Pelo fato de a coluna ter um tamanho fixo, todas os textos tem quase o mesmo tamanho: menos de duas páginas. E eles estão organizados por temas, no final de cada um consta a data em que foi publicado, o que ajuda a situar o leitor na época em que foi escrito (o que é muito útil, já que alguns tem uma notícia como ponto de partida). Só por essas 3 características, "A máquina de caminhar" já é um livro de crônicas diferente de todos as outras obras do gênero que eu li. Acrescente aí o fato de haver algumas ilustrações.

Eu gostei muito de "A máquina de caminhar" e é um livro que eu recomendo a leitura. Não concordo com tudo o que o autor diz, mas a cada texto lido, a presença do escritor se faz mais forte, é como se ele estivesse conversando com o leitor. Há originalidade, há identidade, há alguém (com um jeito bem curitibano de ser) que colocou no papel as suas ideias, mesmo quando dizia não saber o quê escrever.

Seria impossível citar todas as crônicas que eu gostei, teria que falar de mais da metade do livro, assim como seria difícil escolher minha preferida, já que muitas me agradaram. O autor fala sobre política, o Brasil, as novas tecnologias (especialmente a internet) e como elas mudaram a vida das pessoas, o tempo (seja pelo tédio que aparece quando temos ele sobrando, seja para voltar ao passado), sobre a arte de escrever e também sobre suas leituras, entre outras coisas.

A crônica "A violência na internet" traz situações pelas quais todo internauta certamente já passou, seja por se tornar "empregado" do banco, seja ao se deparar com comentários maldosos, e também nos ajuda a refletir sobre a violência no país, que pode começar a ser erradicada se pensarmos mais no que vamos escrever ao comentar sobre algo:
"Hoje somos nós que viramos todos funcionários dos bancos, trabalhando de graça aos sábados, domingos e feriados, fazendo pagamentos, transferências, aplicações, docs e o que for preciso – e o incrível é que achamos isso maravilhoso." ("A violência na internet", página 39)

"Fi­­quei impressionado com a violência dos comentários, o grau de agressividade, o pri­­marismo argumentativo, o desejo de ferir – enfim, a estupidez pura e simples em que tanto o bom como o mau domínio da escrita se mesclam com o desejo de sangue a qualquer custo." ("A violência na internet", página 40)

"As estatísticas mostram que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo, e no conforto da classe média tendemos a achar que isso é um problema distante. Mas, no escurinho da internet, vemos que o país real está muito próximo e mostra os dentes em toda parte." ("A violência na internet", página 41)

Essa questão da violência é tratada de forma leve, mas certeira, violência que teve um de seus períodos de maior expressão em nosso país na recente ditadura militar:

"Ou, muito pior ainda, quando a simplificação mental nos leva a achar que, no descalabro geral, 'só a força resolve' – o Brasil viveu duas décadas de ditadura e até hoje não se recuperou dela, afundado na prepotência, na incompetência, na falta de projetos ou no simples terror de Estado." ("Terraplanagem política", página 45)

"Comparar o monumental poder do Estado – a gigantesca máquina do governo, controlando Exército, Marinha e Aeronáutica, mais todas as polícias do país – com a ação de meia dúzia de guerrilheiros, ou idealistas, ou terroristas, ou delinquentes, ou idiotas, ou lunáticos (o leitor faz sua escolha), além de vítimas avulsas, como Herzog ou Rubens Paiva, presos e assassinados, como se se tratasse de uma 'guerra' – e em que espécie de guerra é preciso desmembrar os mortos e fazê-los desaparecer nos rios? –, é torturar mais uma vez a inteligência do cidadão." ("O Estado e o cidadão", página 158)

Cristovão Tezza também parece gostar de compartilhar suas leituras, é quase um blogueiro literário, ele tem o hábito de ler mais de um livro por vez, como conta em "Leituras Disparatadas" e "Solidão Lunar" (onde ele fez uma maldade que não se faz com um leitor: começou a contar o que acontece em um dos contos do livro "As crônicas marcianas" e não terminou! Me deixou super curiosa para saber o que acontece e agora vou ter que colocar mais um livro na minha extensa lista de desejados! Mas talvez ele nem se lembre mais de como termina a história, já que passaram o cinco [roubaram] no exemplar dele [se bem que foi ele quem emprestou para alguém que nunca devolveu, quem nunca?]). E em "O que está acontecendo com a literatura brasileira", ele aponta algumas causas para o fato de, aparentemente, a literatura nacional estar sendo menos valorizada que a estrangeira nas últimas décadas, tais como a saída recente de uma ditadura e o aumento do número de alfabetizados, um debate que sempre rende.

E o Cristovão Tezza ainda tem umas ideias bem legais, tipo exportar os presos do superlotado sistema penitenciário brasileiro para as prisões suecas que "por falta de planejamento" ficaram vazias e sem utilidade, ou ainda, a ideia de criar um Ministério das Crônicas, já são tantos que um a mais não faria diferença, além de ser importante, já que uma boa crônica pode mudar seu dia!

Sobre a parte visual: a edição está ótima! A capa dá a impressão de ser um papel dobrado, amassado; as cores, figuras e fontes foram bem escolhidas. Na diagramação, margens, letras e espaçamento tem bom tamanho. As páginas são amareladas. Há algumas ilustrações, pequenas mas muito significativas. E eu creio que não haja nenhum erro de revisão!

"palavras são como pessoas; quando você pega raiva de alguma, você quer distância." ("A vingança dos revizores" página 99)

Enfim, fica a dica de um livro que vocês merecem ler (e também uma sugestão para presentear) independente da idade que tenham! Seja para se divertir ao se identificar com o autor ou pelo seu senso de humor e suas ironias, seja para refletir sobre algum assunto importante da sociedade, seja para aprender alguma coisa nova. "A máquina de caminhar" é um livro que eu tenho certeza que vai trazer algo de bom para o leitor! Leiam!

site: http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2016/05/resenha-livro-maquina-de-caminhar.html
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Valnikson 03/05/2016

Sobre Crônicas
A interessante coletânea 'A Máquina de Caminhar', organizada pelo jornalista e tradutor Christian Schwartz, mostra um pouco da incursão do escritor Cristovão Tezza no jornal paranaense Gazeta do Povo. Convidado a assinar crônicas semanais, o consagrado romancista catarinense aprendeu as artimanhas, limitações e potenciais do gênero na prática, desenvolvendo, aos poucos, a segurança necessária à publicação regular. Em pouco mais de seis anos, ele produziu exatos trezentos e cinquenta e cinco textos curtos (dos quais, sessenta e quatro compõem a antologia) que dissertavam sobre cotidiano, futebol, política, viagens, leitura, leitores, influências, além de seu respectivo fazer literário e bloqueio criativo. (Leia mais no link)

site: https://1001livrosbrasileirosparalerantesdemorrer.wordpress.com/2016/05/03/literafilia-sobre-cronicas/#more-2186
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@retratodaleitora 28/04/2016

Impossível não se encantar com Cristovão Tezza e sua visão única sobre o cotidiano
Cristovão Tezza, é um escritor brasileiro autor de obras importantes como o premiado romance O Filho Eterno, que teve grande impacto no panorama ficcional de nosso país.
Depois de anos escrevendo apenas ficção, Tezza recebe a proposta de assinar uma coluna semanal como cronista para o jornal Gazeta do Povo, onde permaneceu por 6 anos.
Suas crônicas ganharam uma seleção em 2013, levando o título Um Operário em Férias, organizados por Christian Schwartz, que também seleciona as 64 crônicas de A Máquina de Caminhar.

Não sou leitora assídua do gênero, porém assim que bati o olho neste livro senti a necessidade de lê-lo. Os temas que permeiam as páginas deste livro são os mais variados; desde futebol até literatura, passando por viagens e política, assunto é algo que não falta para Tezza, que consegue manter o leitor interessado e presente mesmo quando o assunto da vez é política, um natural divisor de opiniões que está presente em nosso cotidiano.

As crônicas que falam sobre literatura, leitura e leitores foram as melhores em minha opinião. Apesar de não concordar com uma coisa ou outra (e isso é totalmente saudável), me vi em muitos relatos do autor, inclusive na crônica Leitura Disparatadas, onde o autor diz ler vários livros ao mesmo tempo, e cada um deles seguindo um critério. Por exemplo, um livro para se ler em viagens não podem ter mais de 250 páginas; ao passo que os livros de cabeceira têm mais de 300.

(...) bons escritores imaginativos são raros, porque a imaginação realmente interessante não é o delírio sem raiz, um sonho à solta, mas uma projeção que mantém com a realidade uma ligação."

O autor discorre um pouco também sobre processo de escrita, revisores e grandes nomes da literatura mundial, como Gabriel García Marquez, Machado de Assis e Ray Bradbury; além de citar autores contemporâneos nacionais e estrangeiros, e também falar sobre gêneros, linguagem e bloqueios criativos.

"(...) mas palavras são como pessoas; quando você pega raiva de alguma, você quer distância."

Na última parte do livro, temos Um Discurso Contra o Autor, onde Cristovão Tezza fala sobre o período em que atuou como cronista para a Gazzeta, porque aceitou o cargo, e, antes, porque o rejeitou. Também fala sobre os bloqueios que teve, a falta de assunto e as dificuldades;

"Um cronista com medo do leitor está perdido, e enfrentar o fantasma foi outro duro aprendizado. Mas de onde ele vinha, se não era apenas reflexo da atividade jornalística, que afinal gira objetivamente em torno do leitor? Logo percebi o óbvio: o leitor não é um simples pressuposto da crônica, como de qualquer outro texto de jornal - ele é personagem mesmo, parte integrante e inseparável do texto, consequência direta das marcas estilísticas do gênero: o tom cordial, a ironia discreta, o bom humor, as acusações pitorescas, as mãos erguidas, o sorriso, a lógica de bar, a conversa. Tire-se o leitor da crônica e ela empalidece, esfria, empalha-se."

Neste discurso o autor fala da crônica de um modo mais amplo, mais estruturado e estudado. Um texto realmente muito bom e com o qual aprendi bastante sobre o gênero.


"... a crônica é, desbastada de seu jogo de cintura estilístico, basicamente um texto de opinião. Mas a natureza e o foco da opinião do cronista diferem de maneira substancial do texto opinativo direto que é uma das partes essenciais do jornalismo, de certa forma a sua razão de ser.
(....)
De qualquer forma, devo à crônica a quebra do gesso formal que costumava marcar minha linguagem de opinião, nos meus tempos de resenhista e crítico literário - e foi certamente sua prática semanal que psicologicamente me liberou para escrever, em 2011, O Espírito da Prosa, um ensaio sobre minha formação literária.
(...)
Assim como a resenha literária é o soneto da crítica, a crônica ideal é quase um epigrama ilustrado. A concisão é a sua elegância."


Ler A Máquina de Caminhar foi uma experiência enriquecedora; encantadora. Terminei o livro com vontade de ler todas as obras do autor, ficcional ou não. Espero ter a oportunidade de fazer isso em breve!

Leitura indicada a todos! Tanto para os que já leem e gostam do gênero como também para quem quer começar; coloquem Cristovão Tezza no topo de suas listas!


site: http://umaleitoravoraz.blogspot.com.br/2016/04/a-maquina-de-caminhar-de-cristovao-tezza.html#more
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