spoiler visualizarcochilitos 29/03/2024
A Rebelde do Deserto
Cara, sendo muito franca, fiquei na dúvida se daria 2 estrelas ou 2,5 pra esse livro, porque qualquer coisa acima disso parece muito e eu não senti que merecia isso tudo.
Eu gostei da ambientação do livro, foi incrível ler algo ambientado no deserto e com referências a uma cultura não ocidental, algo que eu ainda não tinha experimentado e adorei! Gostei da narração, não deixa as características dos lugares, objetos, personagens, texturas e sensações vagas, detalha as coisas sem detalhar demais, tem um certo equilíbrio que eu gostei muito nesse quesito. Gostei do plot, meio previsível mas ainda sim foi bem escrito. Gostei muito que os diálogos entre os personagens fluem com muita naturalidade, não parece nada forçado, a autora soube construir muito bem esse laço entre eles, não só os protagonistas mas com todos os outros.
Eu gostei de bastante coisa nesse livro, exceto da personalidade da protagonista. A princípio eu gostei bastante dela, uma garota de atitude, que sabe o que quer pra si, que sabe se virar sozinha, cheia de sarcasmo e ironia, a princípio gostei bastante, gostei muito também do envolvimento dela com o Jin, ambos são os famosos "morenos sarcásticos" e isso deixou todos os diálogos e situações que envolviam eles mais interessantes, porém tem um certo traço de personalidade na Amani que eu não consegui me afeiçoar. Eu achei ela muito inconstante, não senti coerência em certas atitudes dela.
Não fiquei fazendo juízo de valor sobre o caráter da personagem porque no universo que ela vive, dentro de um governo autoritário e uma vida precária, ela realmente não se pode dar a certos luxos, a certas atitudes ou ações, mas eu não vi coerência entre elas.
A princípio ela se mostra uma garota que prioriza sua própria sobrevivência em detrimento dos outros, porém depois a gente vê que esse "outros" tem algumas exceções. No começo do livro ela foge e deixa o melhor amigo pra trás (depois dele levar um tiro por causa dela), mas quando a Joelho de Camelo foi presa, ela foi ao resgate deles, sendo que o Tamid sempre esteve do lado dela, enquanto a vida dela virava de ponta cabeça com a morte da mãe, enquanto ela sofria na casa dos tios, ele sempre esteve lá por ela desde a infância, planejando até mesmo pedir ela em casamento pra salvar ela de toda a situação sofrida que ela se encontrava, mas ela deixou ele pra trás, com um tiro no joelho, enquanto a relação dela com a Joelho de Camelo era estritamente "profissional", um negócio, a caravana precisava de proteção enquanto ela e o Jin precisavam de suprimentos pra atravessar o deserto, mesmo não tendo laço algum com eles, ela foi ao resgate da caravana.
Depois disso, ela encontra o Noorsham acorrentado, ele ajuda ela com a localização da prisão e dos estábulos, ela diz que vai voltar pra libertar ele, ela diz pra si mesma que não vai mais deixar ninguém pra trás, mas quando a situação apertou, ela deixou o Noorsham pra trás. Apesar dele ser um soldado, ela viu que ele estava numa situação tão ruim quanto ela com o exército e mesmo ele tendo ajudado ela a salvar a caravana, ela não voltou pra cumprir com o que tinha dito.
Ela ter feito isso uma vez foi até ok aos meus olhos, porque como eu disse antes, entendo que no universo do livro, ela não pode se dar a certos luxos, mas depois fazer de novo, enquanto ela dizia pra si mesma que não ia mais abandonar ninguém, não consegui engolir muito a situação toda, ela poderia ter fugido com o Jin e deixado a caravana pra trás, mas não, ela foi ao resgate deles, fez tudo pra resgatar pessoas que o único vínculo com ela era mediante pagamento, mas não se deu ao trabalho nem de tentar libertar o Noorsham, que apesar de estar do lado inimigo, ajudou ela mesmo assim.
Durante o livro até tem meio que uma explicação pra essa incoerência e inconstância mas a justificativa não funcionou pra mim, não gerou muito efeito, não conseguiu me convencer direito.
Fora isso, ela também foi inconstante novamente após eles terem sido capturados no trem, quando ela descobriu que o Noorsham era a arma secreta e que ele também era seu irmão. Mais uma vez, vendo que ele precisava de ajuda (porque apesar de parecer que ele tava fazendo tudo por livre e espontânea vontade, nas entrelinhas da pra perceber que não era bem assim), ela não ajudou, fugiu, deixou ele pra trás de novo. Depois de perceber que eram irmãos ela sente vontade de ajudar ele, salvá-lo, cogitando até mesmo ir sozinha até onde o Noorsham estava, mas quando a resistência decide ir com ela, ela simplesmente aceita o plano dos rebeldes pra matar ele, o próprio irmão, que ela narra querer salvar. Depois disso tem alguns monólogos dela em dúvida se deveria matá-lo ou ajudá-lo, sendo que páginas antes ela estava certa de que não queria ver o irmão morrer ou ser usado como arma, mas subitamente ela se esquece disso e fica indecisa sobre o que fazer. Ela muda de opinião, de pensamento, muitas vezes e essa indecisão me deixou desanimada sobre a personagem.
Eu não consegui pensar que ela deixou de tomar tantas atitudes porque estava correndo risco de vida, porque quando o Jin foi atacado pelo pesadelo, ela escolheu não abandoná-lo e ficar ao lado dele, fez de tudo pra que ele continuasse vivo, mesmo estando correndo risco de vida ao ficar no deserto sozinha, sem a assistência da caravana e ainda carregando um cara quase inconsciente. Como falei, não fiquei fazendo juízo de valor se as ações dela eram corretas ou não, principalmente pelo universo em que se passa a história, mas eu não consegui encontrar nenhuma justificativa que me convencesse 100% que todas essas atitudes (ou a falta de atitude) era realmente a única coisa que ela poderia fazer. Meu problema não foi com as ações que ela tomou, nem com a indecisão presente nas ações dela ou a inconstância das ações, mas sim com a ausência de uma boa justificativa pra tudo isso, pra indecisão, pra incoerência, eu não me senti convencida sobre nada disso, não senti que teve uma explicação que me cativasse, que fizesse eu me afeiçoar pela Amani apesar dos pesares. Acho que a Amani teve um ótimo desenvolvimento somente até a primeira metade do livro.
É uma trilogia, mas depois de terminar o primeiro livro eu não senti vontade de continuar, de ler mais, porque não gosto de personagens inconstantes ou incoerentes, e se for pra ter um personagem assim, principalmente protagonizando a história, eu preciso que exista uma boa justificativa, uma boa explicação do porquê ele faz isso ou aquilo ou deixa de fazer, se não eu só consigo enxergar o personagem como sendo uma pessoa sem firmeza nenhuma, que não sabe o que quer, nem o que pensar, nem o que fazer, extremamente volátil.
Entendo que por ser uma trilogia talvez tenha alguma progressão nesses pontos que me incomodaram mas pelo menos por enquanto, não sinto nenhum pingo de vontade de ler mais sobre a Amani.