Lauraa Machado 24/02/2021
Bom, mas merecia personagens mais complexos e trabalhados
Sei que só li esse livro muito depois de várias pessoas já terem lido, então talvez a minha resenha nem seja lá muito relevante. Eu estava com um pouco de medo de não gostar desse livro, tanto que só comprei o primeiro da trilogia. Confesso que esperava que ele fosse um pouco mais fútil ou forçado, então ele foi, durante uma boa parte, uma surpresa ótima. Mas não é tão simples assim falar dele.
Vamos por partes? Para mim, senti uma divisão um pouco forte entre a primeira parte e a segunda do livro. A primeira tem um toque meio faroeste que me agradou, mas que nem sempre fez sentido. Na hora de encaixar com uma ambientação mais árabe, acho que deixou um pouco a desejar. Foi uma combinação meio desconfortável, então acho válido ignorar tudo que tem de faroeste que não encaixa tão bem. Teria sido ainda melhor se a própria autora tivesse focado mais nas suas inspirações árabes ou se pelo menos tivesse só servido de inspiração mesmo e expandido para algo novo (principalmente porque algumas coisas acabaram pesando para estereótipos).
Também acho que faltou um pouco de uma ambientação que me fizesse sentir que estava em um mundo mágico, com criaturas fantásticas. Sei que os personagens estão acostumados com elas, mas para uma cidade no fim do mundo onde nada de novo acontecia, as criaturas e a magia devia ser mais impressionante, mais bonitas também, sabe? Elas foram tratadas de um jeito tão corriqueiro, que ficou difícil sentir que eram fantásticas. Talvez só fossem fáceis para eu visualizar porque não era minha primeira vez lendo sobre esse tipo de fantasia.
Teve coisa que eu gostei também. Gostei da escrita da autora, que é super fácil de ler, dá para terminar o livro em um dia. Apesar de ele ter me frustrado às vezes, mais por nunca saber exatamente o que ele pensava, gostei do Jin de cara. Não consegui ficar com raiva dele por ter feito o que fez, acho bem válido ele ser uma pessoa que nem sempre toma decisões altruístas, só acho que poderia ter levado a consequências um pouco mais difíceis de serem resolvidas depois. Também gostei de ver como Amani queria sair de sua cidade, mas preferia que tivesse vivenciado ao lado dela alguns dos problemas para sentir mais a vontade de fugir. Eu teria ficado mais desesperada como ela para sair dali.
A parte "na estrada" foi a mais rápida e corrida, infelizmente. Sei que seria bem difícil demorar mais nela sem que se tornasse entediante, mas era uma oportunidade perfeita para desenvolver a Amani e o Jin. Depois de semanas viajando no deserto juntos, é impossível você ter a mesma relação com uma pessoa que tinha no começo, só que eu não sabia o que esperar dos dois por não ter visto essa relação se desenvolvendo e o que eles podiam ter começado a pensar sobre o outro. Acho que precisava ter algumas cenas mais introspectivas e com o único intuito de desenvolver os dois durante essa parte. Teria enriquecido bem mais o que eles significam um para o outro.
Da estrada até chegar na segunda parte do livro, acho que foi bom, teve cenas tensas e reviravoltas, teve atitudes da protagonista que me fizeram querer bater nela, mas que eu entendia, teve uma encaminhação bacana para o que estava por vir. Mesmo assim, quando a segunda parte do livro começou, e fica bem claro quando é, senti que a história deu um salto grande demais do nada.
Confesso que amei a revelação que teve, apesar da capa da minha edição já contar o spoiler antes (e contar errado!), de como a revelação se conecta com o que aconteceu antes e com detalhes que a autora tinha deixado pela história desde o começo. Mas ainda acho que esse corte das duas partes foi muito abrupto e precisava pelo menos que ela tivesse indicado com algo grande, com um PARTE DOIS no mínimo, para ele não ser tão repentino.
A partir da segunda parte, o livro acaba se semelhando bastante com outros de fantasia, mas eu gosto de livros assim, então estava bem entretida. Fiquei levemente decepcionada pela relação da Amani e do Jin ter perdido um pouco de desenvolvimento, já que eles mal tinham antes, mas gostei dessa parte em que a palavra "rebelde" do título se faz justificada. Também gostei do final e fiquei com vontade de ler os próximos.
Só acho que esse livro teria se beneficiado demais de uma escrita mais intimista e aprofundada, com personagens mais trabalhados e com um livro maior. Para tanto conteúdo, ficou curto demais. Já espero gostar dos próximos, mas ainda tenho a impressão de que o maior foco serão os acontecimentos, e não os sentimentos e e questionamentos pessoais da Amani. Posso estar errada, espero estar, espero que a autora decida tirar um tempo para desenvolver as relações humanas, que não pule cenas, meses e etapas. Mas agora estou feliz de ter dado uma chance à história e vou ler a trilogia toda assim que puder!