A descoberta do frio

A descoberta do frio Oswaldo de Camargo




Resenhas - A descoberta do frio


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Lau 29/08/2023

O que é o frio...
...O velho, alvo e impiedoso frio?

Nós sabemos bem o que é. Ao mesmo tempo, são tantas coisas... Racialização e racismo, indiferença, uma subjetividade lesada. Ou, talvez, a tomada de consciência, que o frio - o branco e velho frio - ataca para esconder

Quando a comunidade se aproxima do insight e se une, é que o frio se faz perceber mais forte e tempestuoso ainda... para que no dia seguinte, tudo já tenha sido arrastado e desaparecido. O quanto é possível se mobilizar frente a uma doença tão furiosa?

Livro muito bom, muito direto... terminei sem saber se fui capaz de compreender tudo, mas pela minha experiência, é provável que isso nem seja possível. De qualquer forma, foi uma satisfação (ou inquietação?) enorme de ler Oswaldo de Camargo. Claramente icônico
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Vinicius Marcolino 02/11/2023

Pesado
Muitas vezes eu me peguei tendo pensamentos sobre alguns personagens e passagens do livro, porque me fez refletir a consciência que eu tenho da minha negritude.

É um livro extremamente necessário e pesado. Ele fala como, nós, negros somos vistos na sociedade e como o racismo é algo estrutural e enraizado a muitos anos no Brasil, mas também fala em como alguns pretos apoiam e continuam mantendo esse sistema em funcionamento, e por isso não se aceitam/ não se entendem como pessoas pretas, mas que isso não é culpa deles e sim de como a segregação, historicamente, foi feita para nos dividir. É muito interessante observar que um livro de 1978 continua tão atual e demostrar atrás de uma doença, o frio, feridas que continuam abertas e continuaram abertas por muitos anos.

Deixo uma passagem muitos interessantes do livro: ?Os velhos do Movimento, acredito, já não veem mais o frio, pois o frio há tempo senta-se à mesa com eles. [?] Mas o frio, [?] se disfarça de brisa, e venta, e estraçalha, e desbasta a esperança da gente?
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Ivandro Menezes 16/01/2024

Em A descoberta do frio, rimance de Oswaldo de Camargo, nos encontramos diante de uma misteriosa doença que atinge apenas os negros, um frio misterioso que lhe fazem tremer e tremer e tremer até desaparecer completamente. Ninguém sabe quando começou, tampouco quais as causas e destino de quem desaparece.

A doença tem um profeta, Zé Antunes. Seu esforço em alertar a todos é hercúleo, mesmo com a desconfiança contínua da existência desse mal. Nem mesmo os envolvidos em diferentes frentes do movimento do negro acreditam no frio. E a negação, a desconfiança e as diferentes reações a suas consequências impedem a adoção de uma medida eficaz.

Oswaldo mostra que o movimento negro no Brasil está longe de ser homogêneo. É afetado por diferentes vieses ideológicos e atravessado pelas distinções de classe social. Se de um lado temos o Malungo, um reduto boêmio da negritude, de outro temos o elitismo do VE. Essa heterogeneidade revela os espaços ocupados por negros e as dificuldades entre a assimilação e a resistência, bem como os diferentes problemas enfrentados entre os que possuem ou não dinheiro e escolaridade.

A mensagem de Zé Antunes vai transitando entre a adesão e a descrença, a descrença e o descrédito. Assim, o frio avança.

Se por um lado a metáfora do frio é clara, por outro a sua complexidade não a deixa cair na vala do caricato ou do simples, pois se manifesta em diferentes perspectivas, sobretudo no âmago do friorento, que passa a envergonher-se de si, como se aquilo que o afeta se originasse de dentro e não viesse de fora.

O romance debulha o preconceito a partir de uma consciência coletiva do lugar desprivilegiado do negro na sociedade, situando suas personagens numa cidade grande e nos espaços boêmios e artísticos, colacionando referências a literatura afro-brasileira da primeira metade do séc. XX.

Oswaldo de Camargo imprime uma estética que soa simples, mas revela domínio e precisão capaz de gerar tensão, beleza e estímulo. Revela apenas nuances de suas personagens, deixando o frio quase como o liame que aponta o protagonismo da coletividade, da negritude, ainda que encontre seus arautos.
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Vortex1x3 11/04/2024

Por mais que eu tenha tido dificuldade em ler algumas partes por causa da linguagem usada no livro, ainda assim ele é extremamente bom e faz uma crítica de modo sutil usando o "frio".
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Gabriela Costa | @leia_preta 26/08/2023

O frio e o racismo brasileiro
Em ?A descoberta do frio? o autor utiliza do frio para fazer uma analogia sobre as violências raciais as quais a população negra é submetida. A partir da perspectiva de uma doença biológica, pensa as nuances do racismo como fatores determinantes para que apenas os negros tenham essa doença chamada frio. Ao longo da novela acompanhamos o caso de Josué, o primeiro negro com frio visto abertamente por todos, enquanto o autor expõe toda articulação dos movimentos negros da cidade e os conflitos entre eles para compreensão do que é o frio.

O livro me remete ao contexto das organizações negras dos anos 60 e 70, em vários momentos consegui captar referências e similaridades com acontecimentos da época. A própria divisão entre as organizações, como os grupos de acadêmicos, os poetas e as figuras mais velhas respeitadas em contraposição uns aos outros, achei isso muito interessante.

A novela representa o cotidiano deste frio, sua causa e aspectos históricos vão aparecendo nas entrelinhas ligados a acontecimentos reais que são bem inseridos na história. Eu diria que a obra é uma leitura muito interessante sobre o racismo brasileiro, sob uma perspectiva provocativa e poética. Fiquei pensando sobre como os sujeitos com frio são negligenciados, invisibilizados pela sociedade e sofrem sozinhos se culpando ou castigando por terem frio (o que facilmente me faz pensar no impacto do racismo na subjetividade dos negros).

Gostei mais ainda de ler o prefácio de Clovis Moura, que dupla incrível Oswaldo de Camargo e ele fizeram nessa edição!
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Anderson 29/12/2023

O surgimento de uma doença misteriosa que causa frio intenso e que acomete somente pessoas negras é o eixo desta novela de Oswaldo de Camargo. Para nós, leitores, uma das possíveis interpretações do “frio” é o racismo sub-reptício e suas mazelas. A cor do “frio”, no imaginário coletivo e por associação pragmática, é o branco: branco da neve, da neblina, da condensação.
A novela centra-se em torno do “frio”, razão pela qual não explora muito densamente a psicologia de algum personagem em especial. Para um texto de menor tamanho, são, inclusive, bastante numerosas as personagens, as quais orbitam o “frio” ao longo da trama.
Destaque também para o inconfundível estilo do autor: o ordenamento sintático menos usual; a linguagem elaborada; os diálogos bem construídos num coloquialismo fluido; os temas musicais e religiosos.
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Anderson.Coelho 15/09/2023

A descoberta do frio
Um livro que trata sobre o racismo e suas formas veladas. Na minha interpretação da leitura, o frio sentido, apenas por pessoas pretas nada mais é do que o racismo, faz com que a pessoa ?suma? ou melhor queira sumir.?
Adorei os pontos do escritor, trazendo que mesmo denunciado há tempos as pessoas não sentem o frio ?brancos? e por isso acreditam que ele não existe.
Um livro de leitura fluída e perspicaz!

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