Everton Vidal 07/01/2021
Terceiro livro da fase madura da autora (depois de Viagem e Vaga Música). O sentimento de ausência é a chave da sua poesia e está figurado nas palavras que sempre se repetem nos livros: morte, mar, viagem, navegação, rosa, retratos, etc. E é como se estes primeiros livros (ainda não li os posteriores) estivessem entrelaçados ao redor da fugacidade - eterna - da existência, da natureza humana vista pela perspectiva do tempo que tudo destrói. Mas apesar dessa temática negativa, é uma poesia doce, melódica, que flui afetuosamente entre métrica e rimas, como se a poeta estivesse rindo delicadamente no meio de uma tempestade.
Como em Heráclito, "tudo flui e nada permanece", e este livro é a reação - de inconformidade e aceitação - da autora frente a esse mar absoluto, esse vazio gigantesco e desmedido de perenidade. Os cinco motivos da rosa são faróis onde a autora volta uma e outra vez para reexaminar o fluir da vida e de alguma maneira, talvez, o poema "4° motivo da rosa" seja uma síntese-superadora onde a rosa-vida lhe diz "Não te aflijas… por desfolhar-me é que não tenho fim".
Sobre Elegia (poema que ocupa o terço final do livro):
Poesia em homenagem da avó da autora, sua segunda mãe, Jacinta Garcia Benevides. Uma busca de alívio da dor através das relembranças, da superação do luto através do tempo, com a aceitação de que, apesar da inevitabilidade de que tudo passa, há o encontro do ser amado nas coisas cotidianas. Qualquer pessoa, cuja dor da perda de um ser amado ainda não foi cicatrizada poderá sentir algum auxílio e talvez consolação nesse poema doloroso e delicado.
“Queria deixar-te aqui as imagens do mundo que amaste:
o mar com seus peixes e suas barbas;
os pomares com cestos derramados de frutos;
os jardins de malva e trevo, com seus perfumes brancos e vermelhos.
E aquela estrela maior, que a noite levava na mão direita
E o sorriso de uma alegria que eu não tive,
mas te dava"