Carol Cristina | @blogacdh 15/10/2016Resenha postada no @blogacdh"Desencontros e Desencantos" se passa na Inglaterra do século XIX, inicialmente na propriedade Foxes Park, dos Hamptons. Conta a história de Suzane Black, uma jovem órfã de 17 anos, dama de companhia da srta. Veronika Hampton. A mãe de Suzane faleceu há alguns anos, e a sra. Hampton (mãe de Veronika), se responsabilizou em abrigar Suzane, filha de sua criada. A sra. Hampton nunca foi das mais carinhosas e atenciosas, nem com a própria filha Veronika. Filha esta que não é bem "flor que se cheire", e nutre um ódio mortal por Suzane desde a infância, por motivos de: Suzane é uma moça bonita, doce e educada, sempre elogiada pelos que a cercam; e Veronika estraga sua própria imagem com os outros, por suas atitudes desdenhosas e egoístas (mas claro que pra ela, a culpa é sempre da Suzane).
"- [...] Veronika não é propriamente uma criatura má, apenas ainda não conseguiu achar a bondade em si mesma para passar a agir com discernimento e carinho no trato com os que a rodeiam.
- Só podemos estar falando de Veronikas diferentes [...]"
Tanto Suzane quanto Veronika estão em idade de debutar. A sra. Hampton, então, anuncia que farão uma viagem a Londres para tal, em busca de um casamento para as duas moças: sim, a sra. Hampton decide disponibilizar um dote para Suzane e livrá-la das obrigações como dama de companhia; atitude que com o decorrer da trama, é melhor compreendida.
Em Londres, a "rivalidade" entre Veronika e Suzane se intensifica. Especialmente quando Suzane conhece o marquês Alexander Radcliffe, e o Duque Underwood, dois personagens que serão, de formas diferentes, cruciais em sua trajetória de vida. Veronika se sente humilhada e não aceita tanto interesse dispensados a alguém insignificante como Suzane.
Será que em algum momento Veronika colocará sua inveja em prática, para a infelicidade de Suzane? Como será que a inocente Suzane irá lidar com sua nova condição, seu primeiro amor, os segredos dos Hamptons, ou com a maldade e futilidades da sociedade londrina?
"Temia esses pensamentos, porque não tinha certeza de nada [...] Todavia, ainda que não falasse para ninguém sobre seus sonhos, jamais deixaria de sonhá-los."
Qual não foi a minha surpresa quando, passeando pelo catálogo da Chiado Editora, encontrei um romance histórico com uma sinopse interessante e essa capa maravilhosa? Tive que solicitar pra resenhar, é claro! Tinha lá as minhas expectativas e não me decepcionei com o que li ;)
"Desencontros e Desencantos", da autora Nathalia Batista, é um romance de época narrado em terceira pessoa (sei que não é a preferência de muitos leitores, mas não me senti incomodada); e exatamente como a sinopse diz, mostra o que o ser humano tem de melhor e de pior dentro de si.
Vamos concordar que não têm muitos livros nacionais por aí desse gênero, não é? Fiquei satisfeita com a linguagem que a autora utilizou no livro, condizente com a época (mas equilibrada, não tão difícil de entender), e com a ambientação. Uma vantagem da história é que a autora não explorou apenas o romance, mas o núcleo familiar também.
Geralmente os romances de época não trazem essa carga psicológica, bem humana, por vezes triste e até cruel, que "Desencontros e Desencantos" trouxe: são mais leves. Claro que tiveram momentos fofos e clichês no livro, mas na maior parte do tempo, a autora conseguiu fugir disso.
"Na verdade, ambos gostaram de sentir o contato de seus corpos, um do outro. A moça ficou sem fôlego, não entendia o que se passava com ela. Ele, já experiente, soube naquele momento que estava perdido de amor por ela, e que seu coração só a ela pertenceria, pois nunca sentira tamanha atração por mulher alguma, até hoje."
No começo, eu achei que ia ser bem clichê mesmo: no estilo o príncipe e plebeia, com a mocinha mais bela, pura e inocente, vista como um anjo pelo mocinho que nunca antes se encantou por nenhuma mulher e etc.; só que aí as coisas começaram a acontecer rápido demais, antes da metade do livro! E fiquei sem saber o que ainda ia acontecer depois, né? Foi meio surreal. Nem imaginava que ainda tinham muitas águas pra rolar na história...
Mas o melhor foram as minhas reações ao longo do livro, a leitura te envolve de diversas formas! Minha mãe acabou lendo-o antes de mim, daí quando eu chegava em certas partes da história a gente ficava comentando as indignações e surpresas, haha. Aliás, o título do livro foi uma ótima sacada! Mas não que a obra não tenha tido "encontros e encantos" também! rs
"Ela gargalhou em resposta, nunca tinha gargalhado na vida. Não sabia se era isso o que significava ser mulher, mas se sentia no mínimo mais confiante e descontraída."
Falando um pouquinho sobre os personagens, temos nessa história várias mulheres de personalidade forte, e um mocinho imperfeito (quem diria?!). Poderia dizer isto sobre a nossa protagonista, Suzane, também: ela teve uma vida de altos e baixos, certamente! E o que dizer sobre Veronika...? Não sabia que tinha como alguém ser tão errada e rejeitada assim! kk Mas ainda bem que temos a bondade de personagens como o Duque Underwood, para nos impressionar também...
"As pessoas tendem a ganhar mais com a maturidade do que supõem os mais jovens. Os idosos percebem que não adianta ter tanta pressa, tanto falatório, nem tantas palavras desperdiçadas. No vigor da juventude, cometemos muitos erros por não percebemos o que realmente é importante em nossas vidas. Quando a maturidade chega, começamos a dar valor somente ao que realmente interessa, porque já aprendemos o que realmente significa viver."
Poxa gente! Não posso revelar muito mais do que isso, infelizmente 8B Na minha avaliação da história pesou bastante o enredo, que teve pontos que eu realmente gostei, mas alguns outros que nem tanto: alguns momentos da história soaram um pouco forçados, exagerados e extremos; com umas coisinhas convenientes aqui, e outras ali. O livro tem alguns errinhos de revisão (trocas de nomes, por exemplo), mas nada que atrapalhe muito a leitura.
Em "Desencontros e Desencantos", a autora quis dar uma forte "moral da história", e conseguiu trazer reflexões interessantes; trouxe também realidades diferentes da época: como por exemplo, o fato de contar a história da Suzane, uma órfã e dama de companhia...
"Uma vida toda sendo alguém que sempre estava apenas ao lado, e nunca no centro de nada, a desgastava mais do que poderia imaginar."
Espero que tenham gostado da indicação!
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