Vozes de Tchernóbil

Vozes de Tchernóbil Svetlana Aleksiévitch




Resenhas - Vozes de Chernobyl


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Marlonbsan 27/01/2020

Vozes de Tchernóbil
Em 1986 ocorreu uma explosão na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, as partículas radioativas se espalharam afetando a vida de toda a região. A cidade de Pripyat teve que ser evacuada, pessoas que trabalharam para conter o incêndio e realizar reparos foram severamente expostas e sofreram as consequências. No livro, Svetlana conversa com as pessoas que foram afetadas pela tragédia.

O livro é separado por relatos, monólogos e pequenas histórias de pessoas que viveram na região na época do desastre. A escrita traduz de forma crua o que elas disseram, fazendo com que seja uma leitura extremamente humana e tocante, porém, isso corrobora para que haja uma certa desconexão das ideias, principalmente em alguns monólogos.

Os relatos são muito fortes, a dor da perda de entes queridos, de como isso tudo afetou a vida das pessoas, as que tiveram que se mudar ou as que foram expostas e tiveram que conviver com o medo da morte e doenças relacionadas à radiação. Sem contar o preconceito, por virarem ?Pessoas de Chernobyl?. Outro ponto, é perceber como o governo enganou a população, dizendo que não era nada grave e não tomando as medidas iniciais cabíveis, sem fornecer equipamentos necessários, além de censurar quem queria alertar, e também como é difícil fazer as pessoas, sem o conhecimento científico, acreditarem na ciência que não se vê.

A leitura não é fácil, não só é denso pelo tema abordado e pelos relatos tristes e pesados emocionalmente, como também pela falta de uma linha de raciocínio, você não sabe qual pergunta foi feita, apenas tem as respostas das pessoas, em um dos monólogos há várias pessoas falando ao mesmo tempo, cada uma fala o que quer e são ideias desconexas, outros monólogos são assim também.

A primeira e a última histórias, que seguem uma linha estrutural mais definida, são incríveis, os Coros, que são os relatos mais curtos, também fazem jus ao prêmio Nobel recebido, mas os monólogos, além de alguns serem repetitivos, outros trazem informações que não cativaram muito meu interesse.

Foto e resenha no meu IG @marlonbsan. Quem puder, segue lá...
Ferreira.Souza 14/10/2020minha estante
um livro muito bom


Wilma 25/06/2021minha estante
Como faz aqui pra ler?


Marlonbsan 25/06/2021minha estante
Infelizmente não dá pra ler os livros por esse aplicativo, só organizar as leituras


Jorge 30/01/2022minha estante
Excelente resenha. Tive dificuldade no início justamente por conta da desconexão das narrativas. Mas o livro é excelente.


Lud 21/12/2023minha estante
Ótima resenha.


Marlonbsan 22/12/2023minha estante
Ahh obrigado ?




Duda Souza 11/07/2021

Surpreendente!
Precisei, por muitas vezes durante a leitura, lembrar que não era uma narrativa de ficção científica. Svetlana, dá tela as falas das pessoas que vivem as consequências da explosão na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia em 1986.
Uma leitura densa que denota as muitas perdas, o luto das famílias, a presença da morte no ar, no cotidiano, que perpassa gerações e modificou, ou melhor, aniquilou um ?ideal? de vida.
Em determinados trechos, foi difícil não associar com a situação atual do Brasil (apesar de se tratar de situações extremamente diferentes), onde vivemos com um inimigo invisível e um desgoverno que é condescende com o sofrimento, que tenta a todo custo maquiar a realidade em prol de um lugar de poder.
Uma leitura intensa de informações, mas com uma organização e escrita simples, de fácil compreensão.
?Mas o que é isso? Como é que um professor qualquer, um físico qualquer ousa dar lições ao Comitê Central? Não, as autoridades não eram uma gangue de criminosos. Eles eram, antes de tudo, uma combinação letal de ignorância e corporativismo. O princípio da vida deles, a premissa adquirida nos meandros do poder era não se destacar. Ser condescendente.?
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edu basílio 26/06/2020

as vozes de quem de fato constrói a História

que livro impregnado de força!
os livros tradicionais de história nos apresentam uma versão literalmente editada e unifocal dos fatos que moldam a humanidade e definem o presente: narram-nos guerras, mas do ponto de vista de generais e políticos que as provocam e as observam, tomando decisões em seus palácios com taças de vinho nas mãos. apresentam-nos a cultura de países em diferentes épocas, mas do ponto de vista de produções artísticas e de festas em salões da nobreza. relatam-nos o funcionamento econômico de sociedades, mas por meio de descrições não raro simplórias e mecânicas das modalidades de produção e de comércio.
... mas e a vida, os fardos, os sofrimentos, as angústias, as alegrias da maioria imensa dos humanos que, "aqui em baixo", põe as mãos à obra e constrói DE FATO a História?

em um trabalho jornalístico embebido de humanidade e empatia, svetlana aleksiévitch deixa falar, neste livro, as vozes nuas e cruas daqueles que foram vitimados pelo acidente nuclear de tchernóbil, mas que foram sumariamente excluídos das narrativas oficiais da História. é poderoso, dolorido e esclarecedor, mas até ler sobre o sofrimento dos nossos semelhantes requer coragem e força. creio que seria melhor para mim se eu o tivesse lido em uma época menos pesada para a humanidade. acabou sendo uma leitura meio dura, agora em que há tanto sofrimento escancarado no planeta enquanto atravessamos a pandemia de covid-19.

a obra de svetlana aleksiévitch é toda composta de livros que dão a palavra a quem viveu e construiu a História naquilo que os livros oficiais consideram bastidores (crianças e mulheres na segunda guerra mundial, jovens soldados na guerra soviético-afegã, o povo russo durante o declínio e a dissolução da união soviética). talvez o seu prêmio nobel de literatura em 2015 tenha sido um dos mais belos dentre os atribuídos na década que passou ou, até mesmo, um dos mais nobres de toda a história dessa premiação.

e já que sonhar nunca é demais: quem sabe em alguns anos, svetlana nos brinde com uma nova obra em que motoboys e caminhoneiros, profissionais da saúde, da segurança e da limpeza, órfãos/ãs e viúvos/as, os próprios sobreviventes da pandemia... possam todos formar um novo coro e nos falar -- e, dessa forma, nos dê um ponto de vista fraterno e humano dessa tragédia de saúde pública que nos chega hoje via noticiários apenas por meio de gráficos, estatísticas e, pior, de imbróglios políticos?

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Eduardo 26/06/2020minha estante
Eu já tinha uma baita vontade de ler. Depois dessa sua maravilhosa resenha, Du, mais ainda :)


edu basílio 26/06/2020minha estante
duzito, meu querido, que bacana que você tenha se sentido estimulado :-))) trata-se de algo de fato diferenciado, viu... muito pungente! pegue-o preparado para lidar com uma carga grande de sofrimento humano... e estou certo de que você apreciará a grandeza da obra.


Eduardo 26/06/2020minha estante
Também estou certo disso, Duzito. Estarei preparado para essa leitura. Assisti à série no ano passado e senti uma emoção extremamente forte. Sei que algo com esse peso está contido também nesse livro.


edu basílio 26/06/2020minha estante
... vai ser ótimo poder conhecer também seus sentimentos e emoções trazidos pela leitura :-)


Felipe 30/06/2020minha estante
Nossa Edu, que resenha ótima! Quando li "As Últimas Testemunhas" da mesma autora, tive os mesmos sentimentos que você, tirando a questão do momento da leitura, em que a Terra ainda não conhecia o corona dessa maneira que conhecemos hoje. Os livros dela são fortes, tristes e emocionantes. Essa sua ideia da Svetlana dar voz aqueles que sofrem com essa pandemia do covid-19 é ... não sei nem expressar. Só de pensar, eu já me emociono. Algo que poderia ter sido evitada ou talvez amenizada (se posso usar essa palavra) se os governantes fossem mais sérios!


edu basílio 30/06/2020minha estante
... oi, felipe. obrigado pelo seu gentil comentário =) este foi meu primeiro livro da svetlana, mas não quero que tenha sido o último. parece que a obra dela é toda nesses moldes, e se é mesmo assim, de fato trata-se de um "monumento histórico" digno de muitas honrarias (e sim: o ideal, na verdade, é que a História fosse construída sem mais tragédias, para que não haja MAIS vítimas a quem dar voz, né...?).




Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

Vozes de Tchernóbil, Svetlana Aleksiévitch – Nota 7/10
Não é por acaso que a autora venceu o Prêmio Nobel da Literatura em 2015... Nessa obra, Svetlana traz uma coletânea de entrevistas feitas com sobreviventes da catástrofe de Tchernóbil, ocorrida na década de 80. Apesar da gravidade do episódio, não se sabe muito das consequências sofridas pela população que foi afetada pelo incidente. Dessa forma, a autora dá voz aos esquecidos, abordando, por meio das entrevistas, não apenas diferentes pontos de vista sobre a catástrofe, mas também as marcas que foram deixadas em cada indivíduo. Para isso, a autora passa por temas como a morte, guerra, amor e ciência. Apesar de a narrativa não ser das mais leves, é muito agradável e enriquecedora.

Ao final, fiquei um pouco cansado dos relatos, já que a temática neles abordada passou a se repetir! Recomendo, portanto, que você intercale essa leitura com algum livro de ficção!

site: https://www.instagram.com/book.ster
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laiscunhaf 19/01/2024

"Como é fácil você se tornar terra"
Este livro me surpreendeu. Estava na minha lista de leitura por muito tempo, e decidi que agora seria o momento. O que eu não esperava era a complexidade dele e o quanto ele exigiria de mim. A empatia necessária para senti-lo e a frieza para equilibrar os sentimentos e não sair machucada tornaram a leitura, no mínimo, densa.

Falamos aqui da catástrofe desencadeada por uma explosão na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em abril de 1986. A cidade de Pripyat precisou ser evacuada devido à contaminação ambiental por radionuclídeos, enquanto governantes expunham trabalhadores, cientistas e soldados à morte durante os reparos na usina e arredores. Ignorando alertas de químicos e físicos nucleares, o governo ocultou informações cruciais da população sobre os perigos da radioatividade e medidas preventivas. Essas ações, aliadas às condições precárias da usina, resultaram em uma gestão desastrosa do acidente, visando manter uma imagem de supremacia militar na Guerra Fria.

A radiação não é visível a olho nu, não tem cheiro, cor ou som. É um mal invisível que destruiu e traumatizou vidas. No livro, testemunhamos monólogos de sobreviventes, e o que mais me doía era perceber que eram pessoas comuns, leigas no assunto, expostas a isso sem ter a mínima noção dos riscos.

O livro é denso e complexo, mas é indispensável.

[2024]
Gleison Marques 19/01/2024minha estante
Uau! Lendo a resenha deu pra sentir o peso dessa leitura.


Marlo R. R. López 19/01/2024minha estante
A primeira história é um soco no estômago. Não dá pra superar nunca.


laiscunhaf 19/01/2024minha estante
Quando terminei a primeira história precisei de uns dias para voltar com a leitura, ela é impactante mesmo.




Diogo 30/04/2021

Consequências
Dá para se fazer um paralelo entre o acidente de Tchernóbil e a pandemia de Covid-19: ambos têm em comum inimigos invisíveis. Muitas falas transcritas no livro se comparam às que eu ouvi durante a pandemia.

Vozes de Tchernóbil é um livro de relatos crus de uma tragédia (na verdade de muitas tragédias), é um livro sobre desinformação, desesperança e angústia, é um livro sobre consequências.
Geane.Gouvea 30/04/2021minha estante
Já coloquei na lista pra ler!


Thaisa 01/05/2021minha estante
Esse livro é devastador e extremamente necessário!!




Sara 01/02/2021

Não é um livro fácil de se ler, é necessário um tempo pra se digerir todos os relatos. Mas Vozes de Tchernobil é um livro extremamente necessário não só por se tratar de um acontecimento histórico, mas também por mostrar o quão grave e irresponsável foi a postura dos governantes soviéticos. Todos deveriam ler Vozes de Tchernobil.
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Mands 11/01/2022

premio nobel merecido
Não sei ao certo ainda o que falar sobre esse livro.

Foi uma leitura densa, muitas vezes difícil (não a compreensão do que eu estava lendo, mas a realidade do que havia acontecido, e ainda acontece), mas que valeu a pena cada página.

Exceto as últimas páginas das quais eram relatos que envolviam mais política, por eu já estar cansada desse livro, acabei lendo bem por cima e pulando alguns capítulos.

Acho que o que mais me emocionou, me deixou realmente marcada no decorrer desse livro foi o quanto de sofrimento que o ser humano é capaz de sobreviver, e o quanto de dor ele é capaz de causar.

A União Soviética ter se calado, podendo ter evitado maiores desastres que acabaram acontecendo.

Homens tendo ido defender sua pátria, porque isso era tudo o que lhes havia sido ensinado, aliás, eles tinham acabado de vivenciar um momento de guerra, não? O que mais sabiam fazer senão lutar?

Mulheres esperando seus maridos voltarem de um lugar radiativo, sabendo que faria mal pra elas estarem perto deles, mas que mesmo assim não chegavam a se importar, porque tudo o que queriam era estar perto de quem conheciam, de quem amavam, de quem não tinha medo pois eram iguais. Estavam do mesmo lado, lutavam pelas mesmas razões, acreditavam no mesmo Deus, tinham vindo do mesmo lugar e vivenciado as mesmas coisas. Mulheres das quais arriscaram perder sua vida, pra passar os últimos anos, meses, dias, ou as últimas horas do amado ao lado deles. Sem se importar se isso as afetaria, se isso afetaria as crianças em seu ventre.

Muitas crianças das quais morreram ou sofreram algo terrível. Ver como essa geração lida com a morte, sabendo que uma hora ou outra ela vai chegar porque sabem de suas condições.

Isso, eu falando somente do pós acidente nuclear. Porque no livro, a autora descreve, com declarações de quem vivenciou, de maneira vívida o durante o acidente, o durante a evacuação, o durante eles terem pensado ser só por três dias, duas semanas, um mês, até perceberem que a cidade não poderia ser mai habitada. Até perceberem, que deixaram seus pets para trás e que nunca mais voltariam para alimentar eles.

É um livro que vale a pena ser lido, mesmo com a densidade dele.

Te faz repensar piadas e estereótipos que foram criadas em torno de Chernobyl. Te faz enxergar muito além do que aconteceu em 1986 na cidade de Pripyat. Porque você entende o que aconteceu com seus moradores, e no que um acontecimento com mais de trinta anos ainda influencia nos dias de hoje.
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Janaina Edwiges 15/03/2022

"Compreendi que na vida as coisas mais terríveis ocorrem em silêncio e de forma natural"
Algo que me deixa extremamente triste e indignada é que em situações conturbadas para a humanidade, como guerras, desastres, epidemias ou quaisquer outros tipos de conflitos ou recessões, a população comum sempre é a mais atingida e vítima dos maiores sofrimentos.

Ao ler Vozes de Tchernóbil, mais uma vez essa afirmativa se confirmou. A omissão dos governantes, fosse por interesses políticos, desinformação ou para evitar o pânico geral, expôs ao risco milhares de trabalhadores, cientistas e soldados, que foram deslocados para o local do desastre para atuar nos reparos da usina. Boa parte da população das cidades e vilarejos próximos não compreendia os graves riscos da radiação e não foi devidamente informada sobre os procedimentos que deveriam tomar no período que se seguiu ao acidente. Muitas medidas governamentais poderiam ter minimizado os riscos de contaminação, mas não foram executadas.

Para nos contar esta comovente história, Svetlana Alexievich traz as palavras, sentimentos e reflexões das pessoas pertencentes ao mundo de Tchernóbil. Ex-trabalhadores da central, cientistas, médicos, soldados, policiais, professores, evacuados, residentes ilegais em zonas proibidas e familiares das vítimas são algumas das vozes que gritam para o mundo o sofrimento provocado por esta catástrofe.

Os depoimentos são marcantes e carregados de sensibilidade, como este:

“Depois voltamos, em casa, tirei toda a roupa que usei e joguei no lixo. Mas dei o barrete para meu filho pequeno. De tanto que ele me pediu. Pegou e não largou mais. Depois de dois anos, veio o diagnostico: tumor no cérebro. Daqui para frente você escreve... não quero mais falar...”
Alê | @alexandrejjr 23/03/2022minha estante
Uma das leituras mais marcantes que eu já fiz, Janaína! Acho um livro essencial na estante de qualquer bom leitor.


Janaina Edwiges 23/03/2022minha estante
Verdade, Alexandre. É um livro excepcional, que nos permite ter um entendimento da dimensão que foi aquela tragédia. Parar e ouvir o que as pessoas têm a nos dizer é o mínimo que podemos fazer. São depoimentos marcantes!




Alex 01/08/2023

Uma colcha de relatos
Eu, particularmente amo biografias e não ficção, essas histórias me engrandecem, me ensinam, extrapolam meu olhar e o mundo conhecido. Me deparo com realidades que não teria oportunidade de vislumbrar, não fosse pela leitura.

E Vozes de Tchernóbil faz exatamente isso. Do primeiro ao último relato. Até no discurso da autora ao receber seu prêmio Nobel. Me deparo com realidades que nunca iria conhecer.

Este, como outros livros da autora, constitui-se por inúmeros relatos. Algumas pessoas podem achar repetitivo, mas eu penso que a autora buscando relatos de uma mesma tragédia, ao colher pensamentos, lembranças, atitudes similares, prova um ponto, o de que a memória é documento histórico, falho, parcial, tendencioso, mutável, mas ainda assim, material histórico.

Por outro lado, os relatos vão além do desastre de Tchernóbil, tentam demonstrar a tragédia que foi ser morador das cercanias da Usina. Quantificar a obediência e devoção do homem soviético. A abnegação total dos profissionais de física, energia, e similares. A doação incondicional de bombeiros e militares deslocados para ajudar na contenção danos. A crença cega numa política comunista que os salvaria.

Dessa forma, alguma coisa se repete nos relatos, mas a individualidade de cada história está presente do começo ao fim. As dores, as angústias, as perdas são similares, mas possuem nuances únicas, facetas personalissimas, e nisso a autora faz de seu documental, literatura com qualidade laureada.

O primeiro relato é impactante, fala sobre amor e perda. Você pensa que nenhum será pior que esse. Nenhum te fará sentir o quão pobre é a raça humana. E então se depara com o relato de como trataram os animais da região. Como uma mãe matou o próprio recém nascido para sobreviver em uma guerra. E um dos últimos, e pra mim dos mais trágicos, os relatos das crianças e sua plena consciência na morte prematura.

Mas além de toda essa desgraça, foi muito bom ver como a política é desumana, como a ideologia não se importa com vidas, como o burocrata age em proveito próprio, em detrimento do povo. O descaso, a desinformação, a omissão, a sonegação, a camaradagem, o engodo, esses mataram mais que a explosão, causaram mais danos.

Por fim gostei das indicações de literatura russa, de Dostoievski a Soljenitsen, entre outros, filósofos, poetas, contistas, todos russos, muitos que ainda sequer chegaram a ser traduzidos para o português.

Recomendo muito a leitura, é instrutivo, dolorido, mas, se é possível dizer, existe uma recompensa enorme por ouvir as vozes, dos esquecidos e abandonados, de Tchernóbil.
Aline MSS 01/08/2023minha estante
Eu tenho ele na minha lista de leituras impactantes e pela sua resenha, já vi q terei q preparar o emocional p/encará-lo. Parabéns pela resenha, mandou super bem.??????


Alex 02/08/2023minha estante
Aline, prepara e vai, vale o esforço.


Juju 20/09/2023minha estante
Que resenha, meu caro! E que livro!
Os relatos permanecem girando na minha mente! Em alguns momentos tive que dar uma pausa na leitura! Foi doloroso, como você disse aí em cima. Mas sinto que foi necessário abrir os ouvidos e a mente para começar a ouvir todas essas vozes!!! Obrigada pela indicação!




Ana Roque 16/07/2021

Cada geração tem a sua guerra.
Eu não tinha entendido a dimensão que foi o acidente de tchernobil até ler esse livro, ele não é um documentário explicando como aconteceu, mas sim um relato de pessoas que sobreviveram a essa catástrofe de forma nua e crua.

"Por que não há heróis? Eu não buscava heróis. Eu escrevia a história através da narração de testemunhas e participantes anônimos. Pessoas a quem ninguém havia se dirigido".

Em 25 de abril de 1986, o reator da usina nuclear explodiu e pegou fogo desencadeando o pior acidente nuclear da história, que causou impactos que continuam até os dias de hoje, foi um divisor de águas tanto na Guerra Fria quanto na história da energia nuclear. Mais de 30 anos depois, e se estima que a área ao redor da antiga usina continuará inabitável por até 20 mil anos, na época as pessoas acreditavam que em pouco tempo retornariam para suas casas. Não se tem uma estimativa de quantas pessoas sofreram e sofrem até os dias de hoje com a radioatividade liberada pelo desastre, mas acredite, foram muitas.

"Nós deixamos o meu hamster trancado em casa. Era branquinho. Deixamos comida para dois dias. E fomos embora para sempre".

Esse livro é necessário, conhecer a nossa história, nosso passado, é imprescindível para que esse erro nunca mais se repita.

"Do acidente de Tchernóbil, quem é culpado: o reator ou o homem? Sem dúvida o homem, ele fez um serviço ruim, foram cometidos erros monstruosos".
Cassio Kendi 16/07/2021minha estante
Ótima resenha! Me influenciou a subir um pouco este livro na lista de próximos




larissassa 16/06/2021

A história sob outro ângulo
Um livro fundamental que me fez refletir sobre diversas coisas e me engrandeceu. Gostei muito da escrita e de tudo que foi abordado, foi muito importante pra eu enxergar o desastre de outra perspectiva, todo o sofrimento daquele povo e a forma que foi lidada, cada detalhe...foi transformador.
Beatriz3364 16/06/2021minha estante
Os livros da Svetlana são incríveis! Foram leitura obrigatória na faculdade!




Andre.28 16/02/2020

Vozes de Uma Tragédia

“No dia 26 de abril de 1986, à 1h23min58, uma série de explosões destruiu o reator e o prédio do quarto bloco da Central Elétrica Atômica (CEA) de Tchernóbil, situado bem próximo à fronteira da Belarús. A catástrofe de Tchernóbil se converteu no mais grave desastre tecnológico do século XX.”

É assim que começa Vozes de Tchernóbil. Esse livro é mais do que mero trabalho jornalístico da escritora, e Nobel de Literatura de 2015, Svetlana Aleksiévitch. Essa obra é um relato das vítimas do Acidente Nuclear de Tchernóbil(1986), um crime de omissão em meio ao defasado modelo de energia nuclear soviético. Esse panorama da segunda metade da década de 1980 é o retrato da decadência do sistema soviético e dos problemas causados por um sistema de burocracia pesada e sem limites. Uma burocracia que privava seus cidadãos ao acesso pleno a informações necessárias. (Nesta resenha não faço juízo de valor do socialismo como ideologia. Eu falo especificamente do sistema soviético como modelo histórico que se desintegrou.)

No curso de história, especificamente nas disciplinas voltadas para a História Contemporânea, tive um contato e uma ambientação de como o pesado sistema burocrático soviético, imponente e pomposo, existiu para asfixiar qualquer chance de acesso democrático dos cidadãos as informações e aos questionamentos aos principais círculos do poder da União Soviética. Creio eu que esse background me facilitou a compreender o contexto de forma mais acessível. (Verdadeiramente isso facilitou-me bastante a compreensão mais especifica do contexto.)

Voltando ao contexto macro: é na burocracia que se assentaram os principais líderes políticos responsáveis pela tragédia nuclear ocorrida em Tchernóbil. Mergulhados nessa máquina burocrática estatal soviética, esses líderes descaradamente se safaram, se isentaram, de uma forma completamente descarada de suas culpas. Como propriamente a autora diz no livro: só os cientistas pagaram, mas eles eram os “peixes pequenos”:
“Nas instâncias mais altas do poder, no Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, considerara-se necessário examinar as causas do delito in loco. Na própria cidade de Tchernóbil. O tribunal se constituiu no prédio da Casa da Cultura local. No banco dos réus havia seis pessoas: o diretor da central atômica, Víktor Briukhánov; o engenheiro-chefe, Nikolai Fomín; o substituto do engenheiro-chefe, Anatóli Diátlov; o chefe do turno, Boris Rogójkin; o chefe da seção do reator, Aleksandr Kovaliénko; e o inspetor do Serviço Estatal de Inspeção de Energia Atômica da União Soviética, Iuri Láuchkin. Nenhum político”

A autora trabalha esse fato catastrófico através de entrevistas e relatos de parentes e vítimas da radiação. Os liquidadores, homens do exército e pessoas convocadas para limpar as áreas entorno da central nuclear após a explosão do reator, os bombeiros que foram os primeiros a sofrer com a radiação intensa no momento em que tudo ardia em chamas incessantes, os familiares, as esposas dos profissionais, os camponeses que moravam em um raio de 40 km da central nuclear, os fazendeiros, as pessoas comuns e trabalhadores inocentes. Todos desprovidos de conhecimento, todos que foram totalmente privados de informações específicas e fundamentais acerca do perigo que corriam. Sofreram caladas. Sofreram enquanto conviviam com doses de radiação absurdas, deixadas pelas autoridades em condições periclitantes. Gente que depois foi apartada dos seus lares, deixando a região praticamente deserta. Morta.

Aleksiévitch trata da nacionalidade soviética. Como essas pessoas se sentiam em meio à essa dor da tragédia. Do sofrimento do povo de Belarús, da terra afetada pela radiação. A vida de quem tentava sobreviver em meio a sequelas inimagináveis. Do erro humano à dor sentida. Do crime até às vítimas. Relato brilhante! Transcrições de entrevistas elucidativas e necessárias!

O que mais me impressionou nesse livro foram efetivamente às partes das entrevistas e dos relatos das mães de Tchernóbil, e das crianças Tchernóbil. As sequelas emocionais na vida dessas pessoas foram, e são ainda terríveis! Cicatrizes e perdas que não serão apagadas. As entrevistas com os cientistas que tentaram alertar sobre o perigo e que foram sufocados, calados pela burocracia, é também um ponto que me chocou. A omissão dos líderes e a privação de informações mataram! A burocracia mata! O sistema “perfeito” mata! E as razões da escrita são claras para a autora:

“Este livro não é sobre Tchernóbil, mas sobre o mundo de Tchernóbil”. Sobre o evento propriamente, já foram escritos milhares de páginas e filmados centenas de milhares de metros em película. Quanto a mim, eu me dedico ao que chamaria de história omitida, aos rastros imperceptíveis da nossa passagem pela Terra e pelo tempo. Escrevo os relatos da cotidianidade dos sentimentos, dos pensamentos e das palavras. Tento captar a vida cotidiana da alma.”

A História das pequenas coisas, a História oral montada pela autora nos dá a visão daqueles que sofreram na pele. Mostram o painel real da História. Esse livro é sobre essas vozes sufocadas. Vozes que precisam ser ouvidas.

Vozes de uma tragédia.
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Maria4556 26/09/2021

.
5 estrelas é uma classificação Ínfima pra esse livro?.ele merece muito mais.

Esses relatos são tão tristes, nus, íntimos, crus e humanos que eu fiquei muito devastada lendo?..pqp, que sensibilidade
Bia.Ribeiro 26/09/2021minha estante
Tô muito afim de ler mas receiosa da escrita não me prender :p


Maria4556 26/09/2021minha estante
Alguns relatos são repetitivos realmente, mas acho que a repetição faz parte da intensidade do acontecimento. E mesmo assim eu achei a leitura bem fluida




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