helmalu 10/05/2016A guardiã de HistóriasMackenzie Bishop é uma guardiã de Histórias. Histórias são invólucros, corpos, que guardam as memórias vividas pelas pessoas enquanto estavam vivas, Histórias não são fantasmas, como imaginei ao começar a leitura. Essas Histórias ficam em gavetas, no Arquivo, guardadas por Bibliotecários:
“Imagine um lugar onde, como livros, os mortos repousam em prateleiras.”
Acontece que esses mortos, às vezes, acordam desorientados, confusos, violentos e, na maioria das vezes, são crianças. Eles ficam vagando pelos Estreitos, que é uma espécie de limbo entre o mundo real e o Arquivo, e que só os Guardiões têm acesso por meio das chaves especiais que cada um possui e que abrem portas para esse lugar. Quando Histórias se desgarram, elas precisam ser colocadas de volta no Arquivo, e é aí que entram em ação os guardiões.
Mackenzie é uma adolescente que “herdou” a função de Guardiã de seu avô, que ela carinhosamente chama de Da. Ela esconde essa sua vida dupla de todos, incluindo sua família, que está passando por um período de luto devido à morte de Ben, seu irmão de dez anos. No início da estória, eles se mudam para um apartamento novo, que se localiza no local onde antes funcionava um hotel, o Coronado. O Coronado é um lugar antigo e cheio de mistérios, incluindo várias portas que levam para os Estreitos e várias histórias em cada objeto. Mackenzie, por ser uma Guardiã, possui alguns dons e um deles é poder ler os objetos, só ao tocá-los e, assim, fica sabendo tudo o que aconteceu ao redor daquela superfície. Certo dia, curiosa pela história de seu apartamento e para saber quem morou ali antes, ela toca no assoalho e descobre que ali aconteceu um assassinato, muitos anos antes. Ela visualiza toda a cena: uma garota loira sendo assassinada e o assassino fugindo e, então, fica muito curiosa e aterrorizada com o que viu e decide investigar os livros de moradores do Coronado. Contudo, Mackenzie não encontra nenhuma pista e fica horrorizada quando descobre que vários registros foram “apagados” dos livros do prédio. Dúbio. E é aí que começam os problemas de Mackenzie.
Concomitantemente ao que ela descobre no Coronado, começam a surgir Histórias alteradas no Arquivo, pessoas cujas memórias ou partes delas foram apagadas estrategicamente, e essas pessoas têm uma relação com o local. Em meio às investigações, Mac acaba conhecendo um morador misterioso e sedutor, Wesley Ayers, e, nos Estreitos, conhece Owen, uma História que contradiz tudo o que Mac sabia – ou achava que sabia – sobre sua vida. Esses dois personagens se tornam peças fundamentais para que Mac resolva o mistério do Coronado e do Arquivo, um será sua ruína e outro sua salvação.
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A guardiã de Histórias é uma mistura de Young Adult com fantasia que resultou numa estória envolvente e misteriosa, graças à narrativa muito bem ambientada e ao enredo original.
A temática da morte é comum em várias obras da literatura de todos os tempos, é algo com que nós, humanos, temos dificuldade de lidar, mas que, ao mesmo tempo, é a única certeza absoluta que temos. Contudo, em A guardiã de Histórias a autora nos coloca diante da fantasia de que nossas memórias, lembranças e existência não se vão com a morte, e isso seria uma coisa muito boa, não é mesmo?
“Era o que me deixava triste por causa da morte, mais até do que a gente não poder viver mais, o fato de perdermos todas as coisas que a gente passou a vida coletando, todas as lembranças e o conhecimento.”
Acho que a autora conseguiu trabalhar bem o modo como cada personagem lida com a morte de seus entes queridos. Me identifiquei muito com a Mac e com o Wes, com o universo criado pela autora, embora eu ache que tenha algumas falhas, e com a narrativa que intercala entre primeira pessoa, quando Mac narra, e momentos em que o leitor se depara com memórias dela, diálogos que ela teve com o avô quando ele ainda era vivo e que funcionam como uma espécie de informativo, no qual sabemos como funciona o mundo dos Guardiões. Esses diálogos são apresentados com uma diagramação diferente, em negrito.
Achei a estória bem adolescente, os jovens gostarão do universo fantasioso e personagens carismáticos. Mac é uma garota de 16 anos que só quer ser normal, Wes é o vizinho novo e sedutor, apesar disso, não são aqueles personagens “perfeitos” do tipo que chegam a se tornar inverossímeis, pelo contrário, eles erram e se deixam influenciar pelos momentos e situações. É um livro que teria adorado ler na minha adolescência, mas que, hoje, funciona para mim como uma leitura de distração, entretenimento.
Sobre a revisão, não poderia deixar de comentar alguns erros ortográficos que encontrei, além do normal, quem me conhece sabe que isso me desanima durante a leitura. A capa e diagramação, todavia, estão lindas.
Como eu disse anteriormente, recomendo esse livro para adolescentes, pois a linguagem é simples, a narrativa é boa e o universo criado é bem singular, diferente de todos que costumamos ler. Fiquei um pouco decepcionada ao saber que o livro terá uma continuação, que a julgar pelo final do livro, a meu ver, é desnecessária.
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http://leiturasegatices.blogspot.com.br/2016/05/a-guardia-de-historias-victoria-schwab.html