Ana Lícia 26/05/2016“O que você me dá se eu der para você uma cesta de beijinhos?”“Às vezes, sua semente estava enterrada bem fundo; às vezes, mais próxima da superfície – mas estava sempre ali, a postos, pronta para brotar, dadas as condições adequadas, em toda a sua terrível irracionalidade.” (pág.52)
Hoje vamos conversar sobre um clássico do suspense, terror. Publicado pela primeira vez em Abril de 1954, que fez muito sucesso pelo seu conteúdo polêmico para época. E agora chega ao Brasil pela DarkSideBooks. O tema abordado no livro é Psicopatia Infantil, falar de psicopatas já é assombroso, imagina se este psicopata é uma criança, fica mais assustador ainda. Imaginar uma criança assassina com certeza mexe conosco. Quando se fala em criança, ligamos logo a inocência, pureza, fragilidade. Agora pense no oposto, pensou em Rhoda.
Em Menina Má iremos conhecer a Christine Penmark, mãe de Rhoda uma garotinha linda de 8 anos. Rhoda é uma menina madura, astuta, eficiente em tudo que tenta fazer, perfeccionista, e muito dissimulada. Não sente culpa e muito menos medo. Quando quer uma coisa, faz sua melhor cara de boazinha e encanta todos os adultos ao seu redor. Extremamente educada, inteligente e também muito calculista, é assustador a frieza de Rhoda. E é mais perturbador quando ela é gentil para conseguir algo.
“O que você me dá se eu der para você uma cesta de beijinhos?”
Christine é uma mulher adorável e muito bonita, todos elogiam sua beleza. E no momento está morando sozinha em seu apartamento com Rhoda, pois seu marido está viajando a trabalho. Mas ela tem a vizinha Monica que se tornou uma grande amiga. As coisas começam a mudar na vida de Christine quando Rhoda participa de um concurso de caligrafia, ela se esforça muito, mas outro colega de classe vence, e acaba ganhando como prêmio uma medalha. Rhoda fica muito frustrada e chateada, não se conforma com a situação, repetindo o tempo todo que a medalha era dela. E esta medalha vira seu objeto de desejo. A escola promove um piquenique anual, e o garotinho vencedor está lá com sua medalha, mas acontece um acidente muito grave com o garoto, que vem a falecer. Com isso Christine fica apavorada, ela sente que tem algo errado, e pergunta o que houve para a filha, e claro, que ela diz que não sabe de nada. Assim começa o tormento de Christine, ela começa a reparar mais na filha, que sempre apresentou um comportamento estranho, sempre fria, indiferente. Ela não se importa com ninguém, apenas consigo mesma.
Na escola, as crianças têm medo de Rhoda. Os adultos já a veneram, por ser sempre tão impecável e independente. Rhoda não se suja, não bagunça seu quarto, e não faz bobagens e tira as melhores notas. Sempre centrada e correta. “Uma mocinha” como alguns dizem. Mas tem alguém que conhece o interior de Rhoda, ou acha que conhece. O Zelador Leroy, um homem de caráter duvidoso e cheio de maldade na língua e mente. Vive falando de todos e sempre com pensamentos horríveis contra os outros, sempre pensando em fazer mal.
Neste livro veremos várias atitudes que nos deixa desconfortáveis, preconceito da instituição de ensino, pessoas que só pensam em fazer mal, a mãe que tem uma relação meio incomum com o filho, além de Rhoda e toda sua habilidade para conseguir o que quer. E vemos que as pessoas “boas”, gentis, como Christine, é taxada de boba e burra. Teremos vários temas abordados, alguns bem de leve, mas que, em uma simples frase, já nos faz refletir, como o incesto, a sexualidade, estupro, e a origem do mal.
“Sei que Rhoda é uma menina agressiva, e egoísta também. Mas até aí, o mundo inteiro parece estar cheio de gente egoísta e agressiva. Meu marido e eu esperamos que, com o tempo, ela vá deixando esses comportamentos para trás.”
Christine ao perceber que tem algo diferente em sua filha, começa a pesquisar sobre o assunto e descobre um segredo horrível do seu passado, que abre a questão, a pessoa nasce má, ou vai se tornando má? É possível uma criança ser assassina? É angustiante acompanhar toda a aflição de Christine. Sentimos todo o seu pavor e sofrimento, e pior, ela não tem com quem dividir este fardo. Pois não confia em ninguém para confidenciar seus tormentos.
Menina Má me pegou de jeito, adorei o livro. Gostei muito de como a história caminhou, achei perfeito ser em terceira pessoa, com a visão da mãe, deixando a Rhoda mais sombria. Pois não sabemos o que se passa pela mente de Rhoda. É um enigma. Enquanto ficamos torcendo para que Christine encontre uma saída para lidar com a situação. Que não é fácil para nenhuma mãe. (Quem conhece Norma Bates da série Bates Motel? Pois é. Sabemos do que ela é capaz para proteger o filho psicótico). Agora como será que Christine vai lidar com todas estas dúvidas, e com o que está por vir.
“-Eu sei que, no fundo, você está muito triste, minha linda.
-Não sei do que está falando, mãe. Não sinto nada”.
O final é impactante, mas eu já esperava algo familiar, mas foi chocante do mesmo jeito. Ao terminar o livro, corri para ver o filme A Tara Maldita, adaptação cinematográfica de Menina Má, e confesso que gostei mais do final do filme. Pois deixou meu coração mais leve, enquanto o desfecho do livro me deixou de cabelo em pé e assustada, ainda mais pela frase final. Só pensei em uma coisa: Você está literalmente ferrado!
A edição está ótima, as ilustrações iniciais e finais são lindas. Livro com folhas amarelas, letra no tamanho agradável, capa dura. Leitura fácil e rápida. E com um assunto perturbador, pois afinal de contas. Nascemos maus e bons? Vamos aos poucos nos transformando no decorrer do tempo? Todos nascem com uma sementinha do mal e a qualquer momento pode desabrochar? E a pergunta mais difícil. Existe alguém realmente bom, ou depende das circunstancias?
“Eu achei que conhecesse meninas más, mas você é a pior de todas”
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