Estranha Bahia

Estranha Bahia Ricardo Santos
Evelyn Postali




Resenhas - Estranha Bahia


10 encontrados | exibindo 1 a 10


Marcelo 22/08/2016

Sensacional!
Li a antologia ESTRANHA BAHIA e destaco o conto: “Em busca da disgraça da pedra azul”. Talvez por causa da baianidade entranhada nas letras da catarinense (?!!) Cristiane Schwinden, que captou como poucos o linguajar e os trejeitos (lá ele...) do soteropolitano e me transportou pra dentro de uma história completamente nonsense, que parece ter sido escrita por uma mistura de Dan Brown com Renato Fechine (quem é de Salvador sabe quem é).
Raças, de Ricardo Santos, também merece destaque, por imaginar uma Salvador ainda mais misturada, onde aliens circulam junto com humanos, numa – nem sempre – pacifica convivência. Uma boa história policial, com bastante ficção cientifica.
Quibungo, de Rochett Tavares é um achado. Uma história que eu gostaria de ter escrito, um escravo valente e um guerreiro maia vivendo uma aventura de fantasia em plena Bahia do século XVI. Mitologia africana e mitologia maia, que por si só já daria uma serie fantástica de livros, num mundo cheio de possibilidades.
Enterrados a respirar, de Alexandre Cthulhu, uma narrativa de vingança, cheia de inveja, amor, sexo, traição e assombrações... precisa de algo mais?!
Joel das almas, de Evellyn Postali, uma grande construção de personagem. Nota-se a excelente marca da escritora a cada palavra, que nos pega pela mão e não deixa a gente desgrudar até o clímax, magnificamente construído.
O Profeta do 666, de Tarcísio José da Silva, me identifiquei de cara, pois também trabalhei no jornal A Tarde e conheci um monte de gente que parece que vivia num quarto daqueles, é impressionante a criatividade do autor em colocar todas aquelas criaturas e situações num ambiente tão pequeno e, talvez por isso, tão sufocante.
Canudos XXI, de Isabelle Novais, nesse tive que voltar algumas vezes para confirmar que aquela era mesmo uma versão de uma criança de 8 anos. Uma boa história, com requintes de crueldade, que no final percebi que o narrador já não era mais aquela criança que iniciou a história (ou será que não?), até agora não sei direito. E isso é bom.
tarcisio.silva. 23/08/2016minha estante
Uma reunião de contos que pretende fazer da Bahia um espaço especial, onde circulam alienígenas, profetas, monstros, criaturas do além. Vale a pena ler. É uma obra pioneira nesse sentido.


Evelyn 23/08/2016minha estante
Muita gratidão pelas palavras sobre o conto que escrevi (Joel das Almas), Marcelo! Fico realmente feliz que tenha gostado dele. Grande abraço!


Evelyn 23/08/2016minha estante
Enorme gratidão pelas palavras sobre o conto Joel das Almas, Marcelo Porto. Fiquei bastante feliz com a avaliação e com sua crítica. Um grande e carinhoso abraço!


Cristiane 11/01/2017minha estante
Obrigada pela leitura e pelas palavras amáveis :)




Daniel.Martins 27/10/2016

Vale a pena
Como cada autor tem seu estilo e as histórias não são homogêneas, vou falar um pouco de cada conto, na ordem em que estão no livro.

Raças - Ricardo Santos: Conto narrado sobre o ponto de vista de um policial que se envolve numa aventura extra e se depara com o sobrenatural. Escrito em primeira pessoa, tenta mostrar um personagem principal meio "malandrão".
Um conto bem escrito, mas com uma história que não me empolgou. É bem feito, mas a trama não me gerou grande interesse. Nota 3.

Canudos XXI - Isabelle Neves: Um história de vida e morte, maldições e história, raízes e atualidade. Tudo acompanhando a sina de um garotinho jogado em um turbilhão por algo acontecido no passado. Aqui o terror e o sobrenatural foram bastante convincentes.
É uma história bem trabalhada, com capítulos, está mais para novela do que conto. Nota 5.

Joel das Almas - Evelyn Postali: Joel é um homem que ousou estar no limiar entre dois mundos. O dos humanos e o dos demônios e, para isso, ele conta com a proteção de dois panteões diferentes, afinal a Bahia é um lugar multicultural e isso foi bem explorado pelo autora. Apesar disso, esperava um final mais apoteótico. Muito bem escrito. Nota 4.

O profeta do 666 - Tarcísio J. da Silva: Se você gosta de filmes de terror clássicos, com muito sangue, sexo e criaturas profanas, esse é o seu conto. Um homem num quarto de hotel amaldiçoado (Olá Stephen King) obrigado a escrever tudo o que vê.
Uma leitura fluída e divertida, com ênfase nas descrições. Nota 4.

Enterrados a Respirar - Alexandre Cthulhu: Esse conto me pareceu meio forçado para o tema do livro. A história toda se passa em Portugal e muito pouco a liga à Bahia. Não me estranharia se tivesse sido levemente alterada para entrar na coletânea.
Apesar disso, me diverti muito com a escrita no português de Portugal, algumas vezes difícil para nós brasileiros, mas me decepcionei um pouco com a forma como as coisas se resolvem. Faltaram surpresas e clímax. Nota 3.

Em busca da Disgraça da Pedra Azul - Cristiane Schwinden: Este foi, disparado, o melhor conto dessa coletânea para mim. Isso porque a autora conseguiu me transportar para Salvador. Tanto a linguagem das personagens, cheias de regionalismos, como as descrições de locais tradicionais da cidade funcionaram de forma mágica, me fazendo imaginar a cidade e enxergar através dos olhos da escritora.
O casal também é encantador e você torce por eles. Tudo de forma muito divertida e dinâmica.
Nota 5.

Quibungo - Rochett Tavares: Esse foi o conto que menos me agradou no livro. O autor é competentíssimo, usando uma linguagem muito boa e deve ter feito um imenso trabalho de pesquisa devido ao conhecimento demostrado sobre mitologias, geografia e costumes.
Só que a função de uma história é divertir e essa não me divertiu. Os personagens eram muito reflexivos e a trama parecia dar voltas e não ir a lugar algum.
Talvez eu não tenha compreendido a intenção do autor, mas, para o meu gosto, não funcionou. Nota 2.

Foi uma ótima ideia ler essa coletânea, pois me colocou em contato com a obra de alguns escritores dos quais já havia ouvido falar e me interessei por mais do trabalho de alguns deles. É um livro que merece uma chance e você pode ter impressões bem diferentes das minhas, afinal, gosto pessoal não se discute.

site: www.desinformadoss.blogspot.com
Ricardo Santos 29/10/2016minha estante
valeu pela resenha tão detalhada, daniel! você mostrou, na sua visão, os pontos fortes e fracos de cada conto com bons argumentos.




Marcio Melo 18/03/2021

Uma Bahia não tão estranha
A ideia da coletânea é excelente e os contos são, em geral, bem escritos, mas pensando na proposta dela, poucos de fato "representam" a Bahia em seus costumes e tradições. Seguindo a ordem vou comentar o que achei de cada um deles

Raças de Ricardo Santos:
O conto é bem escrito e pegou bem o espírito baiano de ser, diria melhor, soteropolitano. Só que a história em si não empolga e não cativa. Fiquei bem interessado em ler outras oubras do autor porque apesar de não ter gostado tanto dessa história, gostei da forma como ele escreve e também das ideias que ele teve aqui.

Canudos XXI de Isabelle Neves:
O que mais me atraiu nesse conto de Isabelle é que ela fugiu um pouco do comum de se pensar Salvador como Bahia e contou uma história do interior e muito bem contada. Gostei bastante e este para mim é um dos destaques do livro.

Joel das Almas de Evelyn Postali:
A história começa bem e parece que vai perdendo um pouco a força no final, mas foi uma das mais criativas e gostei também, é uma das que se sobressairam no geral.

O profeta do 666 de Tarcísio J. da Silva:
É difícil comentar pois essa história não é de um gênero que me agrada e, apesar das localidades, poderia se passar em qualquer lugar. Não senti que capturou alguma vibe baiana, mas é uma boa história de terror.

Enterrados a Respirar de Alexandre Cthulhu:
Essa foi uma das que me pareceu um pouco forçada, apenas parte dela se passa na Bahia e ainda que tenha personagens baianos eu não gostei das ideias e da narrativa. O mote do conto é um pouco ultrapassado e as ideias que se passam aqui não me agradaram. Muito bem escrito, entretanto e, apesar de ser com Português de Portugal é uma leitura bem fluída.

Em busca da Disgraça da Pedra Azul de Cristiane Schwinden:
De longe a melhor história do livro, muito longe mesmo. Eu diria mais, esse conto é o que faz valer toda a leitura dessa coletãnia. Cristiane capturou como poucas o espírito baiano, seja no jeito de falar ou de ser. Apenas uma ou duas gírias aparecem meio forçadas nos diálogos mas na que prejudique. Se fosse todo o livro apenas esse conto, seria sem dúvidas 5 estrelas.

Quibungo de Rochett Tavares:
Rochett escreve super bem e encontra palavras para descrever cenas e personagens que eu precisaria estudar anos até conseguir. O conto é muito bem escrito, mas ainda assim não é para mim. De todos foi o que menos funcionou (para mim, repito) apesar de parecer ter tido uma pesquisa intensa. Não sei se talvez por ter adorado tanto o conto anterior, encerrar com esta história acabou me deixando com uma sensação de que o melhor deveria ter sido guardado pro final.
Marcio Melo 18/03/2021minha estante
morrendo por ter escrito "oubras" e "na" quando queria escrever "nada"

Quede os DBA do Skoob? Preciso mandar um update no banco de dados!




Eric M. Souza 10/08/2020

Primeiramente, devo falar sobre a edição: o livro é lindo, mesmo sendo em 14x21. Capa de arte incrível de Nanuka Andrade e layout de luxo, com papel amarelo de alta gramatura.
O primeiro conto, Raças, traz um toque de futuro cyberpunk que me lembrou Altered Carbon, mas principalmente os contos de Philip K. Dick, sobretudo a sensação de impotência e insignificância diante de coisas além de sua compreensão que o protagonista traz no fim.
O livro, de todo modo, apresenta algumas narrativas mais simples, como Joel das Almas, um conto sobre exorcismo que flui tranquilamente num ritmo constante, e O Profeta do 666, que tem a escrita mais fluida do livro, lido num supetão. Eles carecem, talvez, de uma grande virada.
Em busca da disgraça da pedra azul tem o melhor ritmo do livro, frenético e bem localizado em tudo. Assim como Enterrado a Respirar, traz uma experiência satisfatória. Ambos possuem finais apressados, mas nem isso chega a prejudicá-los muito. Captar o leitor num conto é uma tarefa complicada, e é louvável quando o autor é bem-sucedido nela.
De modo geral, Estranha Bahia é um livro que traz novos ares para a literatura fantástica brasileira. Seu visual é agradável e a seleção dos contos é, se não perfeita, pelo menos boa, levando a diversas jornadas, algumas marcantes, outras nem tanto, mas todas bem imaginativas.
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Ricardo Santos 20/04/2016

Você vai se surpreender!
como editor, meu maior orgulho foi ter "descoberto" o talento de Isabelle Neves. Seu conto de terror Canudos XXI é uma história horripilante, mas também muito humana. é incrível que tamanha maturidade venha de alguém tão jovem.

site: https://www.youtube.com/watch?v=gm372z_8LNE
Daniel.Martins 27/10/2016minha estante
Parabéns pela descoberta. O conto da Isabelle foi o segundo que mais gostei na obra.


Ricardo Santos 29/10/2016minha estante
valeu, daniel. isabelle tem muito talento em assustar as pessoas rs




tarcisio.silva. 29/08/2016

HISTÓRIAS PARA REPENSAR A BAHIA
Todos conhecem a Bahia como uma terra mágica, divertida, variada, onde se desenvolve espontaneamente a cultura africana.
"Estranha Bahia" é uma reunião de contos que mostram o lado macabro da Bahia de Todos os Santos, com criaturas apocalípticas, assombrações, alienígenas.
São diferentes narrativas, explorando o potencial que a terra oferece, baseando-se na cultura popular, na livre imaginação e mesmo em fatos históricos.
Não importa se é a Bahia do presente, do passado ou do futuro.
Ela será sempre uma Bahia repleta de mistérios e emoções.

site: mistério, terror, antologia, Bahia, assombração, erotismo, Canudos, assombração, ficção científica, aliens
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Taverneiro 25/05/2017

Ficção especulativa muito além do eixo Rio-São Paulo
Boa tarde galera! Tudo bem com vocês? Hoje eu vou falar um pouco mais sobre uma coletânea de contos muito legal com uma temática bem diferenciada, Estranha Bahia! Uma coletânea de contos de fantasia e ficção cientifica de alguma forma ligados a Bahia!

Essa coletânea conseguiu chamar a minha atenção pelo fato de, na maior parte do tempo, vermos historias muito focadas ou nos países estrangeiros, ou no eixo Rio-São Paulo daqui no Brasil, e assim que eu vi fantasia e ficção cientifica na Bahia, eu pensei “cara, isso vale a pena ser lido. ” E eu não estava errado. ^^

Eu vou usar a pequena sinopse de cada conto lá do site da coletânea, e aí dar o meu parecer rapidamente sobre a história e o autor (que por sinal, é um time muito bom!). Como o post ja ficou enorme, eu coloquei só os trechos de alguns contos.

(Tenho que admitir que deu mais trabalho do que eu pensava fazer um post sobre uma coletânea. É como falar sobre um monte de livros ao mesmo tempo XD…)

Raças – Ricardo Santos

Numa Salvador do futuro, onde humanos e uma raça alienígena convivem abertamente, um policial humano investiga o assassinato de um criminoso alien.

Esse conto foi um dos meus preferidos, ele mistura uma trama policial com ficção cientifica muito bem. O Ricardo introduz um mundo diferente do nosso sem ser de forma forçada, sem se prender a explicações longas, e ainda mostra que domina tanto o gênero policial como sci-fi. Vale a pena dar uma conferida nos outros trabalhos do Ricardo, que vocês podem ver melhor no blog dele: ricardoescreve.wordpress.com

- Canudos XXI – Isabelle Neves

Na Canudos de 1997, cem anos depois do fim da famosa guerra, um menino tem de enfrentar a Morte para proteger as pessoas de sua comunidade.

O conto acompanha a história de uma maldição antiga da própria morte que acaba caindo sobre esse garoto. A narrativa é bem peculiar, com tons de realismo magico e muitas cenas com um ar onírico, vezes tendendo para um pesadelo. É interessante, principalmente as conversas com a morte.

- Enterrados a Respirar – Alexandre Cthulhu

Um turista português chega à Bahia para executar um assustador plano de vingança.

A história mais visceral e densa dessa coletânea, na minha humilde opinião. A traição e vingança flertando com o oculto. Escrito muito bem pelo Alexandre, me lembrou o estilo do Chuck Palahniuk de escrever. Por sinal é o conto onde os temas fora da realidade são os mais suaves.

- Joel das Almas – Evelyn Postali

Essa história é sobre um exorcista, alternando entre as lembranças do passado e um poderoso inimigo no presente. Adorei o conto, ela mistura religião afro com a cristã para fazer um, digamos, Constantine baiano XD, que ficou muito legal. A Evelyn já apareceu por aqui antes, e eu acho ela uma escritora talentosíssima, além de ser um amor de pessoa :). Eu estou lendo agora a promessa de liberdade dela, e está me deixando de boca aberta, já já vai ter um post dele aqui no blog.

Vocês podem acompanhar melhor o trabalho dela em vários lugares: no Wattpad, no Blog Pessoal dela, podem ver alguma história dela na Amazon.

- O Profeta do 666 – Tarcísio José da Silva

Um homem tem de lidar com o horror e o erotismo no quarto de uma velha pensão.

Um homem no quarto 666 é visitado por bestas e cavaleiros, ele é levado a registrar tudo, exatamente como vê. Sem sair do quarto, ele vai encontrando personificações do mal e sadismo, sempre mantendo o tom de profecia. Interessante.

Sobre o autor, eu não consegui achar nada dele. Sério, nada! É como se ele não existisse, a única citação que eu vi dele foi em uma biblioteca antiga, no rodapé de um livro em alguma língua parecida com hebraica, escrito com algo da cor de molho barbecue…

Brincadeira XD, ele tem um blog também, e você pode dar uma olhada no trabalho dele lá. livroscia-gulliver1975.com.br

- Em Busca da Disgraça da Pedra Azul – Cristiane Schwinden

O mais baiano dos contos! Uma aventura acelerada e divertida, de 2 jovens tentando evitar o surgimento de um antigo mal….

A autora Cristiane usa muito a cultura da Bahia, desde a religião, até história antiga e atual, forma de falar, enfim, tudo. É um divertido passeio pela Bahia, tanto fisicamente quanto culturalmente, e culminando em uma cena irada no maior estilo high fantasy. Muito recomendado.

- Quibungo – Rochett Tavares

Na Bahia do séc. XVII, um escravo fugido se alia a um misterioso guerreiro maia. Eles são perseguidos por um implacável capitão-do-mato e seu bando, enquanto buscam artefatos místicos que estariam na entrada para o reino dos mortos, a partir de um mapa tatuado na carne do maia.

A história de dois guerreiros, um do povo maia e outro negro, ambos tendo seus povos esmagados pela invasão do homem branco, eles dois se juntam para achar nos ermos e antigos templos maias uma forma de livrar o seu povo da opressão do homem branco, só que coisas antigas ainda habitam esses lugares…uma aventura muito legal, me lembrou os contos de Robert E Howard.

Vale a pena dar uma olhada no trabalho dele, muito bom esse rapaz! ^^


Enfim, recomendadíssimo essa coletânea, tanto pelos contos, quanto para conhecer os escritores talentosos que participaram dela. Vocês podem dar uma olhada mais profunda no site da antologia, que contem muito mais material, inclusive uma entrevista com cada autor. E também tem a página do facebook deles, é claro.

site: https://tavernablog.com/2016/09/27/estranha-bahia-_-diversos-autores/
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Hileane 08/10/2019

Sensacional
Começo esse comentário com Canudos XXI não só por me prender a cada palavra escrita como também por ter me deixado com medo. A ambientação que a historia nos coloca é incrível e me permitiu ir voltar de uma canudos do passado para uma do século XXI cheia de fantasmas e maldições. O conto "Em busca da disgraça da pedra azul" lembra um pouco a contrução das falas dos livros de Rick Riordan (autor da série Percy Jackson, sim, adoro infanto-juvenis), só que menos politicamente correto e mais jocoso. Eu ri muito lendo ele e acho que era o conto que eu gostaria de ter escrito. "Enterrados a respirar" me lembrou os melhores filmes e animações de trama policial com reviravoltas e cenas que fiquei "ahhhhhh, carai". O "Profeta do 666 é angustiante. Não foi a minha trama favorita, com tantos elementos de horror e erotismo. Gostei de como um pequeno cenário foi utilizado. "Quibungo" é uma aventura. O que mais gostei foi o encontro entre dois diferentes mundos, o africano e o maia, dois povos (personagens) sofrendo dores parecidas embora e conseguindo se entender embora com linguagens diferentes. "Joel das Almas" foi outro que amei. A história deixou um vazio, pois eu queria uma aventura maior e com mais páginas, o mesmo que "Em busca da disgraça da pedra azul". "Raças" se diferencia dos demais contos por sua pegada Sci-Fi, é o primeiro conto, abrindo com chave de ouro esse livro que adoro. O autor conseguiu me imergir em várias cenas e acho que foi neste ao qual mais mergulhei nos cenários.

É um livro que vale a pena e tenho muito orgulho de tê-lo na minha estante. Eu não conheço a Bahia e só andei lá em uma breve parada, mas é um estado lindo. Espero que venham mais coletâneas como esta por aí, inclusive de outros estados (Piauí :) ).
Nota 4,75 que arrendondei pra 5.
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Cris Lasaitis 02/11/2019

"Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia."
Foi com esse conselho que Liev Tolstói apaziguou os artistas que se sentiam deslocados em relação à indústria cultural dominante em seu tempo em razão de serem originários de localidades fora dos principais polos culturais, falarem uma língua diversa, possuírem diferentes visões de mundo. Ou, para colocar em termos mais rasos: segundo Tolstói não existe razão nisso que chamamos de “complexo de vira-lata”, pois o que nos torna universais não é uma língua ou um endereço no GPS, mas a experiência humana que somos capazes de transmitir por meio de nossas histórias, peculiares como podem ser.

Dito isso, agora me sinto autorizada a discordar — mas só um pouquinho.

Porque por trás da experiência universal há também um pouco de interesse turístico, e enquanto folheio as páginas de Anna Kariênina, A Morte de Ivan Ilitch e Felicidade Conjugal — meus favoritos de Tolstói — e sofro com seus protagonistas, eu também quero passear pela Rússia de fins de século XIX, apreciar seus palácios, sentir seu inverno, observar os vestidos da nobreza russa enquanto ela se reúne em salões chiques e conversa em francês; quero descobrir a vida que corre em vilarejos populares; quero saber o que aquele mundo sente e cisma e acha e pensa.

A Rússia de Tolstói é exótica para mim, assim como o Brasil devia ser a Tolstói uma terra tão distante que nem sei se o escritor sequer chegou a mencioná-lo. Mas ele — russo do século XIX — e eu — brasileira do século XXI — deixamos de ser alienígenas um ao outro quando embarco em sua narrativa, e a experiência que ele me proporciona é como um turismo feito por dentro — vejo suas paisagens na janela da imaginação, e por empatia incorporo cada um de seus personagens: passo eu mesma a ser russa enquanto rolo as páginas, e a Rússia de Tolstói deixa de ser um território estrangeiro.

Tornando-me russa sem sê-lo, aprendo que a Rússia também é minha de alguma forma. E entendo que minha imperfeição forasteira é um expediente para que eu aprenda um infinito sobre aquela parte do mundo. Sim, posso também me aventurar a escrevê-la, ainda que imperfeitamente, pois se há algo apaixonante na literatura é o seu poder de derreter fronteiras — geográficas, temporais, linguísticas, metafísicas, de vivência.

Faço essa digressão à guisa de introdução para uma resenha literária, pois creio que o livro que tenho em mãos para resenhar — Estranha Bahia — merece esta abertura, pois encarna essa ideia.

Organizada por Ricardo Santos, Rochett Tavares e Alec Silva, Estranha Bahia é uma antologia de noveletas fantásticas passadas em cenários baianos, e o único ponto que reúne seus sete autores é o fato de escreverem em língua portuguesa: entre eles há baianos de nascimento, baianos radicados e baianos por alteridade. Debruçada sobre a edição ilustrada e diagramada com esmero, vejo cenas da Bahia por lentes fantásticas e sob uma variedade de ângulos e distâncias. Nessa múltipla Bahia há mistério. Há misticismo. Há o risco e o riso. E a aventura.

O mistério
Está no cenário que desdobra a ficção científica de Ricardo Santos na noveleta Raças: uma missão investigativa por dentro de espaços reservados da elite soteropolitana na tentativa de desvendar relações escusas entre a humanidade e a espécie humanoide-alienígena dos eladianos, produzindo uma metáfora para o jogo de relações complicadas e desiguais entre os estratos sociais da cidade de Salvador.

O misticismo
E o medo, por sua vez, abunda na narrativa de Isabelle Neves, Canudos XXI, que narra a perseguição, a fuga e os embates de Bento com a Morte, que produz uma macabra colheita de seus entes queridos em um cenário árido e pitoresco, pano de fundo que reverbera a histórica (e lendária) Canudos de Antônio Conselheiro.

Assim como em Joel das Almas, conto de Evelyn Postali, que elabora o perfil de um exorcista que enfrenta demônios não com cruz, mas com seu arsenal de conhecimentos e filosofias sincréticos do universo mitológico baiano, mesclando cristianismo, candomblé e história.

O misticismo baiano também dá o tom da noveleta O Profeta do 666, de Tarcísio J. da Silva, no qual um contemporâneo João Evangelista, escritor, atravessa uma impressionante e perturbadora série de visões enquanto enfurnado no quartinho número 666 de uma pensão, em uma instigante paródia bíblica.

O risco
Se dá em sequência, com o mais diferente dos textos da antologia, de Alexandre Ctulhu, autor de Enterrados a Respirar, que apresenta uma engenhosa narrativa de traição e vingança passada em Portugal, porém com desdobramentos macabros no cenário da Bahia.

O riso
Escapa a cada minuto da leitura deste que é o conto mais divertido da antologia: Em Busca da Disgraça da Pedra Azul, de Cristiane Schwinden, que leva ao pé da letra a proposta de explorar o que há de mais típico na cidade de Salvador. Nessa história, o fantasma de um ex-escravo aparece para a garota Filipa, imbuindo-a com a missão de encontrar a pedra azul, um artefato poderoso, antes que um mago a encontre e transforme a humanidade inteira em zumbis. Com seus dois amigos, a garota embarca em uma aventura rocambolesca pelos cenários mais marcantes da cidade de Salvador, com direito a amostras generosas de expressões e gírias locais.

A aventura
É longa e instigante na noveleta que encerra a antologia — Quibungo, de Rochett Tavares — que conta a trajetória do africano Olaweraju, desde as complicações que o levaram a ser capturado em África, sequestrado através do mar e vendido para os escravocratas do Brasil colonial. Em fuga, ele embarca em uma saga perigosa junto a um companheiro improvável encontrado pelo caminho: o guerreiro maia Aapo. Juntos, eles irão ao encontro de um dos monstros mais temidos do folclore baiano: o quibungo, ou o rei de todos eles.

Na sua somatória, Estranha Bahia é resultado de uma das propostas mais interessantes da literatura fantástica brasileira, que trouxe à luz uma safra multivariada de visões possíveis sobre um universo regional — a Bahia, por excelência, para muito além da ficção de Jorge Amado e da música de Dorival Caymmi, para além do carnaval e seus clichês, ou quaisquer tentativas de lhe impor um rótulo. Meu bicho teórico interior ousa especular que a literatura fantástica brasileira começa a explorar, doravante, as possibilidades legadas pela tradição da literatura regionalista do século XX, mas esse é assunto para outro passeio. Encerro com meu parecer viajante de que a Bahia — lugar que tenho muito visitado com livros, voos e pensamentos — nada tem de pequena e simples, e que do mirante dessa aldeia se vê o mundo.

site: http://cristinalasaitis.wordpress.com
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R. Gomes 30/12/2023

Melhores contos
Os contos são incríveis e muito bem escritos. Pra mim, é impossível decidir qual é o melhor. Todos possuem uma escrita bem leve e fácil de ler.
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