O Mulato

O Mulato Aluísio Azevedo
Douglas Tufano




Resenhas - O Mulato


141 encontrados | exibindo 46 a 61
4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10


Rafael Mussolini 30/07/2020

O Mulato
"O Mulato" do Aluísio de Azevedo (Centaur, 2013) é o segundo romance de Aluísio e foi escrito no ano de 1881. A obra é considerada um marco do início do naturalismo no Brasil, mas até ser alçada a posição tão importante, só podemos imaginar toda a polêmica que o livro causara na época. Aluísio escreveu um romance que fala dos desafios de um amor impossível e para isso construiu um retrato da população maranhense da época e do nosso país que passava por processos políticos importantes e que daí a alguns anos iria abolir a escravidão. "O Mulato" é um ótimo exemplo para analisarmos como um livro se torna clássico, pois trás consigo a perenidade de uma história que nos ajuda a pensar a própria trajetória do Brasil e que possui passagens que se tornam atuais para os tempos de hoje. Lendo "O mulato" percebemos vários fatores que fazem com que o racismo ainda seja algo tão presente na nossa sociedade e como ele se instaurou nos modos de vida dos brasileiros como algo natural.


Não consigo falar mais sobre essa obra sem antes pensar quem foi Aluísio de Azevedo. Ele é sem dúvida um dos meus escritores clássicos favoritos e a cada livro que leio fico muito surpreso com sua destreza em contar uma história que consegue retratar o Brasil utilizando da beleza e arte que é a literatura. Aluísio conta a história do país dentro das suas histórias e sem didatismo. As vivências do autor são impressionantes pelo seu contato constante com as artes e com sua dedicação à própria formação, aos estudos.

"Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de seus romances. Em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o irmão mais velho, Artur. Matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Para manter-se fazia caricaturas para os jornais da época, como O Fígaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. A partir desses “bonecos”, que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances."

Com sua bagagem de caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, Aluísio foi uma importante voz abolicionista e sua atuação incomodava e desafiava inclusive os padres e as paróquias da época que eram a favor da manutenção da escravidão. Em "O Mulato" encontramos no padre Diogo a representação desse tipo de religioso que enquanto ora, escraviza, que enquanto prega os ditames da Bíblia, tortura.

Aluísio insere contexto histórico nos diálogos de seus personagens e na voz do narrador como se tivesse contando um caso corriqueiro e com isso cria panoramas muito ricos de estudo. Em "O Mulato" ele faz um manifesto contra a escravidão e o preconceito racial. Para isso expõe toda a mediocridade da província do Maranhão com seus tipos e costumes mais hipócritas diante de um país que estava mudando, e de uma sociedade que não queria perder seus privilégios de senhores, de donos de pessoas e de almas.

Raimundo, o nosso mulato, é um jovem que chega ao Maranhão depois de muito estudar, de viver em vários lugares e países diferentes e se tornar um homem distinto e culto. Ele chega ao Maranhão movido por interesses econômicos em relação aos bens que seu pai deixou, mas também com a intenção de desvendar uma dúvida que sempre o acompanhou: quem era realmente seu pai, como ele morrera, e sua mãe, porque ninguém a menciona? Raimundo está em busca do lugar que nasceu e de sua história e quando chega a casa de seu tio Manuel, que foi quem ajudara a cuidar de seus bens, acaba encontrando também o amor na figura de sua prima Ana Rosa. Ana é uma mulher branca e Raimundo é um mulato, filho de homem branco com uma negra escravizada. Esse fato faz com que o amor dos dois se torne algo impensável para o Brasil daquela época.

Enquanto vamos conhecendo as personagens e vamos descobrindo junto com Raimundo os detalhes sobre a história de seus pais e os mistérios que os levaram a morte, também vamos conhecendo o Maranhão rural e os preceitos e preconceitos que dominavam naquela época. O livro consegue mostrar tanto as mazelas da região em relação à hipocrisia, desigualdade social e ao preconceito racial, como também nos mostra o Estado, que até então era uma província e sua riqueza cultural, através da música, da culinária, das festas tradicionais, entre outros detalhes que enriquecem muito a obra.

"Os corretores de escravos examinavam, à plena luz do sol, os negros e moleques que ali estavam para ser vendidos; revistavam-lhes os dentes, os pés e as virilhas; faziam-lhes perguntas sobre perguntas, batiam-lhes com a biqueira do chapéu nos ombros e nas coxas, experimentando-lhes o vigor da musculatura, como se estivessem a comprar cavalos."

Nas figuras da avó de Ana Rosa, a Maria Bárbara e do religioso cônego Diogo, o autor explora um perfil que era muito comum e que também demonstra o poder que a igreja e a religião possuía para manutenção de uma sociedade escravocrata. Maria Bárbara é a personificação da devota que é vista por todos como exemplo de fé e que também, como dito na obra "dava nos escravos por hábito e por gosto."

"Quando falava nos pretos, dizia 'os sujos' e, quando se referia a um mulato dizia 'o cabra'. Sempre fora assim e, como devota, não havia outra: Em Alcântara, tivera uma capela de Santa Bárbara e obrigava a sua escravatura a rezar aí todas as noites, em coro, de brações abertos, às vezes algemados."

Sendo assim, após a verbalização de Raimundo sobre seu desejo de se casar com a prima Ana Rosa, um grande drama se estabelece na família e na província. É interessante como Aluísio de Azevedo explora as questões raciais pelos olhos do mulato Raimundo, quando o mesmo descobre que o único impedimento para que se case com Ana é a cor de sua pele. Raimundo passa a revisitar sua vida e a inclusive questionar qual a valia de ter se tornado um homem rico, inteligente e distinto, uma vez que sua descendência é quem definirá sua posição social.

"O mulato" é um romance grandioso. Aluísio foi corajoso ao bancar uma história que poderia ter causado a sua morte, sendo que o próprio autor passou a ser conhecido após a publicação do romance como "Satanás da cidade". "O mulato" inovou por ter sido lançado em uma época de fortes clamores pela abolição, por expor as corrupções da igreja, por criar um vilão que era um padre inescrupuloso, por apresentar uma personagem feminina, a Ana Rosa, de maneira incomum para a época, sem o medo de expor a sua sensualidade em relação aos seus desejos em relação a figura de Raimundo, por trazer o preconceito racial como temática estruturante da obra. Leiam Aluísio de Azevedo, leiam clássicos, leiam literatura nacional.

site: https://rafamussolini.blogspot.com/
comentários(0)comente



D. Felipe 24/10/2014

O Mulato, escrito por Aluíso de Azevedo, é um clássico da literatura brasileira, o que faz com que sintamos a obrigação de lê-lo, independente do objetivo em vista. Considerado um dos precursores do naturalismo no Brasil, o romance narra a história de amor de Ana Rosa e do Dr.Raimundo, advogado respeitável, que sofre com o preconceito da sociedade maranhense pela sua origem, resultado da reunião de um rico proprietário de terras com a sua escrava negra.

Existem pontos positivos e negativos no romance.

A história nos leva a pensar e a se indignar contra o preconceito e em como ele pode acabar com o futuro de um bom homem. Retrata como a sociedade enxergava o mulato, dando-lhe nomes ofensivos como "Cabra".

O problema do romance, como muitos naturalistas, é que muitas vezes nele são desenhados rótulos e esteriótipos: Os conservadores(O governo, o clero e a burguesia) são quase sempre vistos como maus enquanto os liberais(Intelectuais e ateus) são vistos como pessoas boas e de valores, que aceitam todas os outros como eles são. A verdade é que pessoas boas e pessoas ruins podem ser encontradas em qualquer parte da sociedade, seja ela política ou religiosa.

Podemos ver claramente a influência que "O crime do padre Amaro" de Eça de Queirós teve na obra de Aluísio. Poderíamos destacar inúmeros elementos contidos em ambas as obras, mas de todos é mais visível:"Os diálogos maçantes(Criticando a sociedade é claro)" e "Mostrar a danosa influência do clero(O cônego Diogo, Dias e o padre Amaro)na sociedade".

É uma boa leitura(Senão teria dado duas estrelas), mas é preciso estar informado acerca do naturalismo e a sua influência.
comentários(0)comente



Thayna 18/03/2024

O coadjuvante
É complicado descrever um livro clássico, pois é necessário entender o contexto histórico da escola literária para depois avaliar o livro.

A questão machismo, excesso de personagens, o amor incondicional a primeira vista, a contextualização da igreja (bem e o mau) são só algumas das características deste e outros livros da era realista.

Deixando de lado toda essa parte, o livro me incomodou bastante no aspecto do personagem principal . Senti falta de uma relevância maior do denominado ?O mulato?. A construção do personagem me entediou e o desenvolver da história dele não me prendeu. Esperava mais.
comentários(0)comente



Anderson916 04/09/2021

Sensacional...
Por favor, leiam mais livros nacionais... Esta obra vai me fazer prestar mais atenção para nossa literatura...
comentários(0)comente



Mylenarg 05/09/2023

O mulato é um clássico da literatura brasileira no qual Aluisio Azevedo retrata características do Brasil no século XIX, uma época marcada por preconceito racial e hipocrisia.
A história se passa em São Luís - Maranhão, (cidade do autor) e conta sobre Raimundo, um moço de boa índole, que morou fora por bastante tempo para ter uma boa educação, e ao retornar para o Maranhão, se apaixona por Ana Rosa, uma moça branca., porém, por descender de um relacionamento entre patrão (branco) e escrava (negra), Raimundo é indigno de Ana Rosa e até mesmo não é visto como alguém na sociedade.
O padre, Diogo, visto como uma figura de um ?homem santo? pela sociedade é responsável por toda a maldade e crimes que ocorrem na história, um personagem de extremo preconceito e mente diabólica, que acaba manipulando toda a situação ao redor.

Sempre ressalto o quanto gosto da narrativa do Aluísio é nesta obra não poderia ser diferente, rica de detalhes e recheada de reflexões sobre o preconceito que ainda é tão atual no mundo em que vivemos.

Recomendo muitoooo!
comentários(0)comente



Bassuncao_ 02/05/2021

Fortíssima crítica social
A leitura está repleta de ironias sociopolíticas da época, abordando o preconceito, escravidão, monarquia e hipocrisia do clero.
Uma obra necessária, mas com uma história onde o mal prevalece, e isso me afastou um pouco da leitura.
comentários(0)comente



Gui 14/03/2022

Impactante e provocativo
Aluísio Azevedo escreveu uma obra inspirada. Com críticas sociais ferrenhas - sem serem óbvias - , o autor apresenta o panorama de uma sociedade extremamente religiosa, saudosista de Portugal e que beira à hipocrisia. Linda história de amor, que faz com que torçamos pelo casal do início ao fim.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Junho 21/07/2023

Gostei muito das descrições que o autor faz do ambiente maranhense, principalmente nas cenas que se passam no campo. Elas ficam melhores ainda quando são contados os costumes e lendas que permeiam pelas estradas de terra dos sítios. O que me fez gostar de imediato do livro foi a parte da história do pai do Raimundo, todo o momento de suspense em meio à natureza que o autor criou foi espetacular. Diversas cenas dessa espécie são dignas de um filme.
Por fim, o final foi trágico, não era o que eu esperava. Poderia ter sido um pouco mais longo, mais detalhado. Mas isso é compensado pelo caminho da história até ali. E o final ter sido como foi é o mais próximo que seria da realidade de alguém como o Raimundo naquela época e contexto.
comentários(0)comente



Lara 13/02/2020

Bom mas me decepcionei
Um bom livro, mas que não chega aos pés de O Cortiço, do mesmo autor. Por este ser muito melhor, me decepcionei um pouco com O Mulato.
Gostei muito do final, que de tão realista chega a ser cômico.
comentários(0)comente



Gabri 28/02/2020

Racismo no XIX
Considerado o primeiro livro naturalista, o romance foi uma grata surpresa. Ainda não completamente tomado pelas fórmulas cientificistas do naturalismo, o autor elaborou de fato uma história com uma trama bem urdida e com reviravoltas que tornam a leitura interessante e não maçante.
O sabor maior do livro, para mim, contudo, é o modo como o racismo é, não somente explorado, mas se torna em um elemento propriamente narrativo, ligado à estrutura íntima do livro.
Gabri 18/04/2020minha estante
Correção: primeiro livro naturalista do Brasil (embora tenha minhas dúvidas quando a isso, precisava verificar com maior rigor)




Ray 07/03/2020

Um livro, como os outros de época, bastante difícil de se ler...
Mas que livrooo!
Cheinho de reviravoltas e com um final que ninguém esperava!
comentários(0)comente



Usagi a coelha 04/09/2022

me deu crise de ansiedade.
Definitivamente é melhor que "o cortiço", mas ao mesmo tempo, passei muita raiva lendo isso. Aluísio é muito importante para a geração do naturalismo de fato, mas isso não anula o fato que a narrativa é bem arrastada e chata. A trama só vai ficar interessante da metade pro final e mesmo assim você passa muita raiva com o racismo escancarado dos personagens (que o autor faz justamente uma crítica nessa obra), mas mesmo assim, passei raiva. O final não é feliz (oque não é um problema) mas é que depois de você ter passado tanta raiva, você pensa que vai ser recompensado no fim, mas, não, e isso me irritou ainda mais. Enfim, é isto.
comentários(0)comente



San 16/02/2022

O clássico "crítica social f*da".
O livro conta a história de Raimundo, um mulato brasileiro filho de um português com uma de suas escravas. Após a morte de seu pai, ele é enviado ainda criança para morar e estudar na Europa e retorna ao Brasil como um doutor advogado por motivos de negócios. Ao chegar à São Luís acaba por passar por série de situações preconceituosas que cominam em tragédia.
A escrita visceral de Aluisio nesse livro chega a incomodar que precisei fazer algumas pausas. E acho que era justamente o que ele queria. Ele consegue ao mesmo tempo narrar com naturalidade e criticar a postura preconceituosa e hipócrita da sociedade ludovicense da época.
Me incomodou que Raimundo só percebeu o motivo do ódio que sentia por ele quando Manoel verbalizou. Parece que ele não se entendia como mulato.
Mas o que mais me chamou atenção foi a construção do Cônego Diogo. Um homem que me causou repulsa desde o início do livro e que sempre conseguia se super no quesito maldade.
No fim eu fiquei triste porque esperava um final feliz, mas Aluisio me deu algo real.
comentários(0)comente



- JB 08/01/2023

Esse livro realmente me prendeu? Acho que foi devido ao fato de conseguir imaginar o cenário nitidamente já que conheço São Luís. Conseguia visualizar cada casa, cada personagem nitidamente.
comentários(0)comente



141 encontrados | exibindo 46 a 61
4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR