A vida invisível de Eurídice Gusmão

A vida invisível de Eurídice Gusmão Martha Batalha




Resenhas - A Vida Invisível De Eurídice Gusmão


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Michela Wakami 18/06/2021

Se você não ver a data de publicação, você acredita estar lendo um clássico da década de 40, mas fiquei pasma quando vi que se trata de um romance que teve sua primeira publicação em 2016.
A escritora foi genial na sua escrita, e na sua história ficcional.
Acompanha a vida dos personagens com seus altos e baixos e principalmente conseguir ver como as mulheres dessa década eram invisíveis, mas acima de tudo, guerreiras.
Geovanna.Sousa 18/06/2021minha estante
Não entendi como faço pra ler os livros?


Geovanna.Sousa 18/06/2021minha estante
kkk


Michela Wakami 18/06/2021minha estante
Oi Geovanna, o Skoob, é só para você organizar as suas leituras, postar o que você está lendo, o que você já leu, dar nota para os livros etc.
A maioria das pessoas tem essa dúvida.
Se tiver algum tipo de dificuldade para mexer no aplicativo e caso precise de alguma ajuda, me manda mensagem no privado, clicando no envelope em cima do meu perfil, que te respondo e te ajudo em tudo que for possível.


Rebeka 18/06/2021minha estante
Pretendo ler um dia. O filme é muito bom também. :)


Michela Wakami 18/06/2021minha estante
O Skoob, não disponibiliza livros para leituras, é somente uma rede social, para você dividir suas experiências com outras pessoas, e organizar as suas leituras e livros.


Michela Wakami 18/06/2021minha estante
Oi Rebeka, não sabia que o filme já tinha saído. Tem na Netflix ?


Michela Wakami 18/06/2021minha estante
Rebeka, se você gostou do filme, vai amar o livro, pois geralmente o livro é melhor.??


Rebeka 18/06/2021minha estante
Tem no Telecine. Eu assisti quando foi o indicado pelo Brasil ao Oscar do ano passado, depois eu soube que tinha o livro, vou ler mesmo, pois é verdade, geralmente o livro é melhor.


Michela Wakami 18/06/2021minha estante
Rebeka, estou em outro planeta kkkkk
Estava achando que nem tinha sido lançado.
Socorro kkkkkkkkkk


CPF1964 18/06/2021minha estante
Fiquei interessado.


Michela Wakami 18/06/2021minha estante
Cassius, espero que você também goste, caso resolva lê-lo.
É o primeiro livro da autora, e ela mandou muito bem.




belaffig 30/09/2019

Mulheres do século XX
Após descobrir que a adaptação da obra de Martha Batalha fora a escolhida para concorrer a uma posição entre os indicados a Melhor Filme Estrangeiro do Oscar, resolvi checar as páginas antes de mergulhar nas telonas. Como era uma leitura rápida e aparentemente dinâmica, pensei: por que não?
O veredito não é tão animador. A leitura não foi tão rápida, apesar de ter sido dinâmica. Mas completamente e praticamente sem alma alguma. Martha, que vemos realmente ter tentado criar um universo de sentimentos e nuances para as mulheres e suas vidas invisíveis, falha em sua tarefa ao nos entregar um manuscrito com simples eventos seguidos de eventos, um rol de informações que montam um quebra-cabeça milimetricamente e tediosamente bem arquitetado. A história da família Gusmão Campelo e de todos que os rodeiam, quando olhada em panorama, até toca partes do nosso coração e nos deixa com uma lembrança do que poderia ter sido — daquele tempo e das mulheres que nunca o foram.
Mas é tudo tão superficial. É um livro seguro que não sai de sua zona de conforto quando o que mais deveria fazer era isso. E para um livro que se passa no século XX, a caracterização do tempo e suas mentalidades é bem chula e preguiçosa.
No geral, A vida invisível de Eurídice Gusmão torna-se o que mais incisivamente apontou em suas páginas: um livro incompleto ao tratar de suas personagens e da devida atenção — e profundidade — que mereciam. Mas nem tudo está tão perdido assim. Conforme eu navegava pelas páginas, eu conseguia sentir com uma certeza que a história que a autora não conseguiu contar foi feita para as páginas de um roteiro de filme de cinema: algumas histórias são assim mesmo. E com total fé no trabalho do diretor Karim Aïnouz, no elenco e nas críticas maravilhosas que tem recebido, acho que finalmente Eurídica e as mulheres do século XX terão a justiça e o lugar sob o holofote que merecem. Veremos!
Alinne.Spagnollo 19/11/2019minha estante
Quer trocar com algum meu? (Da minha estante de trocas?)


Alinne.Spagnollo 19/11/2019minha estante
Que trocar por
Algum meu?


belaffig 01/12/2019minha estante
oi! eu li esse através do Kindle, não é livro físico... :(


Alinne.Spagnollo 02/12/2019minha estante
Acabei de ver o filme, mas pelo que ouvi falar do livro, eles mudaram muito!


belaffig 02/12/2019minha estante
sim, vi isso também! mas estão falando bem do filme




Ladyce 26/06/2016

"A vida invisível de Eurídice Gusmão" se passa nas décadas de 1940 em diante, no Rio de Janeiro. Eurídice Gusmão e sua irmã são mulheres que não se conformavam com a circunscrição de seus papéis atribuídos pela sociedade. Apesar de tentarem, cada qual à sua maneira, nem sempre conseguiam escapar dos destinos projetados para elas inicialmente por familiares e mais tarde por seus maridos. Evocativo de uma época, a obra descreve a vida de mulheres da geração de nossas avós. Eu gostaria de poder dizer que só elas, mas também descreve a de nossos pais ou de muitos dos nossos contemporâneos, porque o problema das vidas circunscritas a papeis tradicionais ainda parece enraizado em muitos cantos da nossa terra.

A narrativa se concentra na história de Eurídice contrastada à da irmã, Guida, que havia buscado viver em seus termos, cortando os laços com os pais, libertando-se das expectativas deles e de todos à volta. A tentativa não durou. E eventualmente, Guida decide pelo comprometimento de suas realizações pessoais para beneficiar a vida do filho. O mesmo ocorreu com Eurídice, que mais tímida, menos aventureira, também se acomoda no casamento com Antenor, um bancário, bom provedor, mas incapaz de apreciar a energética e inteligente esposa que lhe coubera. Por manter o lar para seus filhos Eurídice também se anula. Eurídice passa a vida correndo atrás de alguma brecha que a permitisse achar maior significado em sua própria vida além daquele de mãe e dona de casa. É frustrada em todas as tentativas. Por fim, encontra consolo ao escrever, passando os dias finais de sua vida em frente à máquina de escrever já bem depois do estabelecimento da ditadura militar de 1964.

Não é uma obra prima, não irá ganhar o prêmio Nobel de literatura. No entanto, à medida que considerei esse livro para resenha, cresceu minha admiração. É um bom livro. Pelo assunto abordado e bem retratado, "A vida invisível de Eurídice Gusmão", é uma boa escolha de leitura que aborda as limitações da mulher na sociedade carioca, das gerações que viveram através do século XX. Só por esse esforço deveria ser aplaudido.

Meus problemas com essa obra não se limitam ao tom puramente evocativo. Não há um crescendo de informações. Não há resolução de conflitos, nem mesmo no final. Falta-lhe agilidade, ação e diálogos. A narrativa, ainda que impecável, é distante. No entanto, retrata muito bem uma época e é perfeitamente dispensável a explicação da autora no início e no fim do livro sobre a existência de certos personagens ou sobre as obras escritas por Eurídice Gusmão. É chocho.

Mas me aventuro a dizer que se você gostou de Arroz de Palma, romance de Francisco Azevedo, é provável que goste deste livro, por sua evocação de uma época.
GilbertoOrtegaJr 26/06/2016minha estante
Eu estou interessado nele desde que ouvi falar, bela resenha ;)


Ladyce 26/06/2016minha estante
Gilberto, se vc puder esperar, porque já prometi emprestar a uma amiga, eu mando para vc. Francamente, meu conselho seria, espere, porque me sinto completamente morna a respeito do livro. Nem sabia bem o que dizer. rs...


GilbertoOrtegaJr 26/06/2016minha estante
Eu espero sim....Lady olhe não sei se com vc funcionaria, mas eu quando vejo que tem um livro que estou com as expectativas lá em cima, deixo um tempo na estante, meio curtindo, ai depois quando já até esqueci pq adquiri o livro eu vou lá e leio


Ladyce 26/06/2016minha estante
Boa ideia.


Maria Faria 24/04/2017minha estante
Ladyce, estou lendo o livro e já alcancei a metade. Estou adorando a narrativa, porque eu vi isto acontecer muito em minha infância sem entender exatamente o que era, sem saber que em meu convívio existiam muitas mulheres bloqueadas pelos costumes sociais. E quanto terminei de ler sua resenha, achei perfeita a comparação com Arroz de Palma, eu o adorei também. Você tem mesmo um faro muito apurado para a literatura. Talvez você não tenha gostado tanto do livro porque ele não evoque as questões de outros tempos com a mesma profundidade que você as viu acontecer ou a autora não tenha conseguido superar a sua experiência como observadora da vida. Abraço!




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Alê | @alexandrejjr 02/09/2022minha estante
Eita! Elas se encontram no livro? Caramba! Confesso que, apesar de pessimista, com essa informação eu passo a gostar ainda mais do filme...


Caroline Vital 02/09/2022minha estante
Sim... Acaba que gosto dos dois hahahah no livro, elas na verdade nunca ficam separadas... Assim que a irmã dela volta da Grécia, ela já vai visitar Eurídice. O restante é igual ao filme.


Caroline Vital 02/09/2022minha estante
O áudio livro que ouvi, é da Cia das letras mesmo, e quem narra é a própria atriz que interpreta Eurídice no cinema. Acaba que são duas versões bem diferentes (e iguais) da mesma história.


Alê | @alexandrejjr 02/09/2022minha estante
Ainda tá disponível esse audiolivro? Lembro que eles disponibilizaram no Spotify durante a pandemia...


Caroline Vital 02/09/2022minha estante
Sim... Foi por lá mesmo que ouvi. Não sei se ainda está disponível, na rádio companhia




Thais645 11/09/2021

"A Vida Invisível de Eurídice Gusmão" não é o tipo de livro que vai passar em brancas nuvens em sua vida. E não pense você que estou direcionando e afirmando isso apenas para meia dúzia de mulheres. O recado é para homens também, e a todos os seres humanos em geral. Desde o meu primeiro contato com a obra, tenho pensado cada vez mais - dia após dia - sobre a história das irmãs Gusmão e de todas as mulheres cuja a invisibilidade social é dissecada e escancarada neste livro, ainda que de uma forma sublime e nada rancorosa.

Sempre haverá uma identificação e um reconhecimento, seja na história de sua mãe, de uma tia, avó ou bisavó, que faz ou fez parte do seu núcleo familiar. Não parece de um tempo tão distante assim, veja só.
 
Penso no ensaio "Profissões para mulheres" (de 1931), de Virginia Woolf, e a parte de "Eurídice que não queria que Eurídice fosse Eurídice?, é aquela vozinha que fica nos puxando para baixo, a nós mulheres principalmente, para que não sejamos nada além de belas, recatadas (mudas, na verdade) e do lar, que me lembrou muito" O Anjo do Lar", embora as vitrines e editoriais do mundo sempre tentem nos dizer (e vender) o contrário, "olha só, os tempos são outros, bola pra frente".

Quem não lembra a avalanche de matérias e atenção dadas a Marcela Temer e à matéria da Veja que tanto alvoroço causou na internet com sua "bela, recatada e do lar"? E isso foi muito recentemente, não num Rio de Janeiro de 1920.

Criei uma afeição especial em relação a esse livro, e muitos e muitos anos se passarão e ele ainda estará lá (ou aqui dentro), latente mas pulsando, como a voz interior de todas as eurídices e guidas e das dores (a mais silenciosa de todas), da fofoqueira do bairro, julgando a todos e a tudo, lembrando a nós mesmas de que ainda temos muito chão pela frente, e que o grito não precisa ser virulento, que não há inimigos declarados, mas que muitos deles ainda constroem muros intransponíveis, para que você simplesmente não exista do lado de lá.

Nunca pensei, por exemplo, que torceria, com um riso contido no canto da boca, para que uma senhorinha infernal engasgasse com uma bala puxa-puxa para que houvesse a libertação de uma mulher para quem toda sorte de escolhas e paz de espírito foi negada. E essa passagem do livro é impagável. Leia, se puder.

Esse livro é realmente incrível. Martha Batalha você é incrível. Obrigada por isso e por tudo mais.
JurúMontalvao 12/09/2021minha estante
Uau!?
Já quero!


Thais645 12/09/2021minha estante
Esse livro é lindo, Juliana!


Marcos Aurélio 12/09/2021minha estante
Suas resenhas são ótimas. Despertam desejo pela leitura dos títulos. Muito bom Thais. ????????


Thais645 12/09/2021minha estante
Poxa, obrigada, Marcos Aurélio. Eu apenas procuro externar o que realmente sinto em relação às leituras que, de certo modo, são/foram significativas para mim. Muitas vezes não o faço de imediato, pois gosto de ficar "curtindo" aquela sensação que vai tomando uma forma própria, o que nem sempre ocorre de imediato - nem sempre é como um estalo. Às vezes fico dias com aquela história na cabeça, criando raízes (ou, às vezes, infiltrações, rs). Que bom saber que podem servir de apoio e serventia para quem busca uma leitura que lhe traga alguma satisfação ou descobertas, ou até mesmo alguma reflexão. ???


Marcos Aurélio 12/09/2021minha estante
Somos muito parecidos neste ponto, desfruto, decanto, para depois resenhar.

Eu acho que a resenha é expressão de sentimentos. Às vezes por pura curiosidade, alguém decide ler a história que contamos.




Valério 04/01/2018

Delicioso
Sou desconfiado com novos autores. Gosto de ler obras já consagradas, evitando assim o risco de decepcionar-me.
E resolvi ler "A vida invisível de Eurídice Gusmão" por forte recomendação de um livreiro.
E já comprei quatro exemplares para poder presentear.
Martha Batalha tem a narrativa gostosa, daquelas que, mesmo que a história não fosse interessante, já valeria a leitura.
Toques de comédia embaralhados em drama. Virou uma novela sem o sentimentalismo apelativo. Muito pelo contrário. O drama se faz por si só, como se fluísse da narrativa isenta.
A vida no Rio de Janeiro há mais de meio século foi tão bem retratada.. Impossível não se sentir vivendo naquela época.
A vida de duas irmãs, separadas logo cedo.
E uma característica que não me lembro de ter notado na literatura até então: O livro é quase que praticamente a descrição física e psicológica de TODOS os personagens.
Muitas vezes, nos entediamos que longas descrições de personagens, suas histórias e personalidade.
Mas Martha conseguiu fazer uma descrição pormenorizada dos personagens que não cansa: encanta. E virou a tônica do livro.
É com grande curiosidade que começava a ler sobre cada personagem, como se todos fossem protagonistas, mesmo personagens secundários ou terciários.
Um pequeno livro que revela um grande talento. Tomara que a autora tenha tanta inspiração em suas próximas obras.
Livro delicioso de ler! A ponto de eu ter interrompido a leitura diversas vezes para que não acabasse logo. E talvez o melhor livro que li esse ano.
Henrique_ 04/01/2018minha estante
Já foi pra minha lista.


Valério 04/01/2018minha estante
Tomara que goste como eu. Bom proveito.


Mel 11/01/2018minha estante
Tornou-se meu favorito!


Valério 12/01/2018minha estante
Não foi à toa.. E fico feliz de ler isso. Fiquei com a preocupação de ter visto no livro mais do que ele realmente é.




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Marcelo Caniato 29/01/2020minha estante
Já viu o filme, Ari? To querendo ver.


Ari Phanie 29/01/2020minha estante
Marcelo, tô louca pra assistir, mas eu ainda n encontrei onde ver ou baixar. :(


Marcelo Caniato 29/01/2020minha estante
Eu to querendo ver esse e Bacurau, aguardando passar em algum canal ou serviço de streaming.


Ari Phanie 30/01/2020minha estante
Perdi de assistir Bacurau no cinema, agora tbm vou ter q esperar.




Leticia 12/09/2021

fantástico, maravilhoso, perfeito, uma verdadeira obra de arte! merece toda aclamação. gente, de verdade, que livro AGRADÁVEL de se ler e a história é fantástica!

supremacia brasileiraaaaaa (diria carioca também, mas seria acusada de XENOFOBIA).
Giovanna1242 12/09/2021minha estante
OMG VC LEU TBBB! TO MT FELIZ QUE GOSTARAM ???


Giovanna1242 12/09/2021minha estante
Nada de supremacia carioca SAI KKKKKK


Larissa 12/09/2021minha estante
UHUUUUUL, fico feliz que você gostou tbm, vamos fazer um clubinho


Amanda 13/09/2021minha estante
Agr estou ansiosa para ler




Leila de Carvalho e Gonçalves 22/11/2017

A Parte de Eurídice Que Não Queria Que Eurídice Fosse Eurídice
No início de 2016, uma noticia sacudiu o mercado de livros. Martha Batalha, uma jornalista recifense radicada nos Estados Unidos, após ter seu romance de estreia recusado pelas principais editoras brasileiras, havia vendido os direitos da obra para o cinema e mais "dez" editoras estrangeiras, dentre elas a badalada Sührkamp, sediada na Alemanha. Tomando à frente das concorrentes, a Companhia das Letras rapidamente chegou a um acordo e em abril, "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão" chegou às livrarias para saciar a curiosidade dos leitores.

Esse caso reflete a atual crise econômica brasileira, os grandes conglomerados editoriais não estão dispostos a correr risco e investir num nome desconhecido. O mais seguro e lucrativo são as biografias de celebridades, autores conceituados ou best-sellers importados. Resta para quem não está incluído nessa lista, a autoedição ou tentar a sorte em pequenas editoras, muitas vezes, assumindo o custo e a divulgação do livro. Afinal, se Martha é prova inconteste de que as adversidades podem ser dribladas, sem dúvida, não é nada fácil repetir essa façanha, pois ela está começando por onde a maioria sonha chegar.

Quanto ao romance, tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro entre as décadas de 40 e 70, trata-se de uma irresistível viagem ao passado, aliás, reconstruído com precisão. Através de suas páginas, desfilam desde a tradicional Confeitaria Colombo até lojas praticamente esquecidas, como a Sloper e a Casa José Silva. Sua narrativa começa no tradicional bairro da Tijuca e chega até uma Ipanema com seus velhos sobrados e prédios recém-construídos, reduto dos novos ricos e dos artistas.

Em cento e oitenta páginas, o leitor é apresentado a Eurídice, uma mulher ativa e emponderada, mas que acabou confinada a um casamento insosso, submissa a Antenor, um marido fiel e trabalhador porém preconceituoso, cheio de mimos e manias. Para entender (ou tentar entender) sua atitude, é preciso conhecer mais de perto a rotina da família Gusmão assim como a história de seus pais, Seu Manuel e Dona Ana, além da irmã Guida que reunem uma impagável lista de personagens, como Seu Antonio, o dono da papelaria que é dominado pela mãe, Filomena, a ex-prostituta que amava e era amada pelas crianças, e Zélia, a vizinha fofoqueira que enxergava desgraça até onde não havia.

Usando um narrador onisciente intruso, absolutamente mordaz e bem ao estilo machadiano, Martha revela-se uma arguta observadora e uma impecável contadora de casos. A dicotomia de temperamento e a forte amizade que liga a equilibrada Eurídice e a intempestiva Guida faz recordar Elinor e Marianne Dashwood do livro "Razão e Sensibilidade, de Jane Austen. Também é indiscutível uma certa semelhança com a tetralogia "As Amigas Geniais", de Elena Ferrante, o que surpreendeu Martha que só foi conhecer a obra após concluir seu romance.

De cunho feminista, esse é o livro certo, escrito na hora certa, isto é, no momento em que o mercado está cada vez mais aberto para histórias escritas por mulheres e sobre mulheres. Por sinal, tenho certeza de que você já conheceu alguma Eurídice Gusmão. Ela pode ter sido sua avó, tia, quem sabe amiga da família ou a senhorinha que morava ali na esquina... Caso resolva comprovar, tire umas horas de folga, procure uma boa poltrona e bom entretenimento. ^
Renata 21/02/2020minha estante
Nossa, só pela sua resenha e explicação quanto a edição do livro, já tive vontade de ler. Vou cadastrar em meus interesses. Obrigada


Leila de Carvalho e Gonçalves 21/02/2020minha estante
De fato, o livro é muito bom. Beijos!


Renata 21/02/2020minha estante
Lerei. Beijos




Renata (@renatac.arruda) 24/05/2016

A história de muitas avós - mas não de todas.
Esse livro é muito divertido! Não consegui encontrar nenhuma razão para ter sido rejeitado pels editoras brasileiras antes de ser adquirido pelas estrangeiras. O senso de humor é afiado, a prosa de Martha Batalha é deliciosamente fluída, e ela consegue costurar diversas histórias de homens e, principalmente, mulheres no Rio de Janeiro do início do século XX dentro da história de Eurídice Gusmão, essa mulher que Poderia Ter Sido e Não Foi - como tantas outras.

Apesar de feminista até o talo, embora jamais panfletário, há uma ressalva importante: as mulheres a quem a autora se refere no prefácio como "nossas avós", são em sua maioria de classe média/classe média alta e sempre brancas. O feminismo do livro, embora contundente, é aquele feminismo branco e burguês das moças criadas para serem "belas, recatas e do lar" à revelia. Não que não tenha mulheres pobres e mulheres negras, mas as histórias delas são tratadas quase com indiferença - no caso das negras, com racismo mesmo - o que não é um defeito *da autora* mas da sociedade que ela procura refletir aqui. Mas me incomoda que até em cenas onde não há necessidade os personagens negros sejam referidos como "a negra" ou "o mulatinho", enquanto os brancos não - novamente, a autora procura trazer o olhar daquela sociedade, não o dela própria.

De qualquer maneira, o livro é ótimo e reflete sim a história de muitas avós - mas não de todas.

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Julia 27/10/2017minha estante
Que bom que encontrei sua resenha! Concordo muito com você, achei a proposta da história muito legal, mas abandonei o livro na parte da "macumba" para aquele jornalista porque achei que o racismo transbordou aí. Não tinha pensado nisso, se a autora escrevia assim para retratar o pensamento da época ou se é ela que pensa assim mesmo. Quando li achei que ela era racista mesmo.



Ana Maria 22/10/2019minha estante
Pensei a mesma coisa. O "nossas avós" é uma tentativa impossível de universalização. Minhas avós não estavam ali, pelo menos não inteiramente. Acho engraçado como que a maior parte das mulheres no livro tem direito a um "flashback" que esmiúça a história de cada uma (como a mãe do seu Antônio, a Zélia, etc.), mas a autora quase não fala sobre a das Dores. Ela é a sombra que tá ali pra servir e pra ser assediada pelo adolescente da casa. E aí Eurídice escreve um livro que trata sobre invisibilidade, dando a entender que ela é a grande invisível ali? Alô, gente???????




Edi Vctto 10/03/2020

Vida Invisível
O livro mostra o machismo e como era a vida das mulheres na época. Leitura gostosa, porém o final faz jus ao título, Eurídice vai se tornando cada vez mais invisível, e a gente espera algo surpreendente....
Paizinha 10/03/2020minha estante
Sem dar spoilers, acontece algo surpreendente no final?


Edi Vctto 10/03/2020minha estante
nada surpreendente, essa foi minha decepção, mas no geral gostei do livro...


Paizinha 10/03/2020minha estante
Vou adicionar à minha lista. Depois a gente comenta




jota 16/11/2017

Eurídice, mulher de verdade?
Desenrolada entre as décadas de 1920 e 1960, muito na Tijuca e um pouco em Ipanema, a história de Eurídice Gusmão foi conhecida primeiro pelos alemães, depois ganhou outras traduções mundo afora e seus direitos cinematográficos foram adquiridos pelo diretor Karim Ainouz (de O Céu de Suely). Somente após seu sucesso internacional foi publicada ano passado pela Companhia das Letras, que antes a havia rejeitado.

A Vida Invisível de Eurídice Gusmão é uma narrativa que tem muita coisa para agradar às leitoras, penso. Mas os homens também podem lê-la sem receio, pois não é daqueles romances dirigidos exclusivamente ao público feminino, sem grandes pretensões artísticas e que enche as bancas de revistas e muitas prateleiras das livrarias, pelo contrário. E são de três homens, dois conhecidos escritores brasileiros e um cineasta, os elogios que encontramos na capa traseira da obra: respectivamente Ruy Castro, Alberto Mussa e Carlos Saldanha.

A história contada por Martha Batalha pode ser encarada com um melodrama, sim. Só que muito poderoso: tem drama, humor, ironia, vasto conhecimento do universo feminino, igualmente de história do Brasil, e vai muito além de um simples passatempo literário para horas ociosas. É impossível ficar indiferente frente aos personagens criados pela autora e os acontecimentos envolvendo suas vidas. Mesmo que alguns deles tenham sido baseados em situações e pessoas reais (as avós da autora, por exemplo), Batalha demonstra uma imaginação prodigiosa, narrando tudo com muita criatividade, habilidade e empenho e isso faz prender nossa atenção até o final.

Coisa de quem deve ter procedido (lido, folheado, estudado a obra literária) exatamente como faz a personagem a certa altura, no seguinte trecho: "[Eurídice] levantou-se e passeou a mão direita pelas lombadas. Dostoiévski, Tolstói, Flaubert. Gilberto Freyre, Caio Prado Jr., Antonio Candido. Virginia Woolf e George Eliot, Simone de Beauvoir e Jane Austen. Machado e Lima Barreto, Hemingway e Steinbeck." Toda essa imensa riqueza literária em sua estante, ao alcance da mão, da mente, da memória... Companhias para toda uma vida, de verdade ou ficcionada.

Ainda, o livro de Martha Batalha pode lembrar tanto Nelson Rodrigues (a vida nos subúrbios cariocas, como ela era), quanto dialogar com algumas personagens ou histórias de Jane Austen (especialmente as de Razão e Sensibilidade), e mesmo lembrar Gabriel García Márquez (uma história conduzindo a outra, como ocorre em Cem Anos de Solidão). E isso diz muito sobre a qualidade da literatura encontrada nessas páginas, sem dúvida.

Resta agora esperar pelo filme de Karim Ainouz, e que ele não decepcione os leitores desta bela obra.

Lido entre 13 e 16/11/2017.
Vanessa 15/11/2020minha estante
Vi muita relação da personagem Eurídice com muitas mulheres reais e na literatura, e uma delas também foi a Lucia de Fabián e o Caos de Pedro Juan Gutierrez.


jota 15/11/2020minha estante
Gostei bastante da Eurídice, do livro todo da Martha. Não posso opinar sobre a personagem de Fabián e o Caos, do PJG. Li alguns livros dele, gostei de seu estilo, e esse citado está na minha lista de leituras para 2021.


Vanessa 16/11/2020minha estante
:)




Ri :) 06/07/2020

Uma história sobre ser boa em falhar na vida e uma tentativa eterna de não se deixar afogar pela sociedade. Todas as mulheres que conheço, inclusive eu, têm um pouco de Eurídice.
@estantedatah 08/07/2020minha estante
Muito! O filme tem nada a ver, mas curti


Ri :) 15/07/2020minha estante
Tatá, gostei tanto do livro, que acho que vou recusar o filme ?.


@estantedatah 18/07/2020minha estante
Olha... é outra historia a do filme. Se vc conseguir se desprender disso... kkkkkk




Ernani.Maciel 05/12/2018

Que cuidado com a escrita.
Não é de hoje que as mulheres brigam por espaço.

Primeiramente, preciso destacar a linguagem da Martha. É evidente sua preocupação com a escrita, escolhendo sempre as palavras que mais encaixem ao texto. Fluidez e texto bem elaborado andam de mãos dadas nesse livro, o que é raro. Sempre admirarei autores assim, que se preocupam excessivamente com a escrita. Depois de Jorge Amado, Martha é a autora brasileira que mais me encantou.

O livro nos leva a refletir sobre as muitas Eurídices; existiram e ainda existem muitas delas. Quantas mulheres talentosas foram forçadas a enterrar seus sonhos a fim de obedecerem cegamente pais e maridos? Quantas abriram mão dos seus objetivos para atender à demanda de outros? Não sou adepto do feminismo ou quaisquer outros ?ismos?, no entanto, sou cada vez mais adepto do ser humano.
O papel da mulher é essencial para a subsistência humana ? vai muito além da reprodução e cuidar dos filhos -, no entanto, desde os primórdios foi subjugado. Estamos caminhando, mas ainda distantes de uma sociedade que proporcione igualdade a todos. Quem sabe um dia a viveremos...
Faço minhas as palavras da própria Martha em uma entrevista concedida à revista Azmina sobre o tema igualdade:
?O mundo seria muito melhor, se todos nós pudéssemos desenvolver nosso potencial, independentemente de gênero, cor, religião, país e condição social.?

Uma curiosidade: a autora foi rejeitada por editoras brasileiras, fez o caminho inverso, sendo experimentada primeiramente no exterior.

Nota máxima.
Raphael Cavalcante 10/12/2018minha estante
Querido Ernâni, permita-me discordar de um ponto de sua resenha. O feminismo serve exatamente para buscar por mais liberdade para as mulheres num panorama secular de desigualdade. O trabalho de Martha Batalha é um libelo feminista na melhor acepção da palavra. Isto não reduz a obra, mas, somado ao talento da escritora, a engrandece.


Ernani.Maciel 10/12/2018minha estante
Oi, Raphael. Obrigado pelo comentário. Quis dizer apenas que minha bandeira é o ser humano, isso inclui as mulheres. Ou seja, não sou defensor ou incentivador de uma determinada classe ou gênero, e sim a favor da igualdade, do respeito ao ser humano. Abraços.


Raphael Cavalcante 10/12/2018minha estante
Ernani, quando a desigualdade estigmatiza determinados grupos sociais, defender tais estratos é dever de quem luta a favor de igualdade. É para isto que existem movimentos sociais em defesa de mulheres, negros, indígenas, homossexuais... não é provilégio desses grupos, mas justamente reconhecer que estão em desprestígio na balança social. Ao contrário do que prega o senso comum, feminismo não é sinônimo de machismo. É o reconhecimento de que as mulheres que estão secularmente em desvantagem, algo exemplificado de forma cabal por Eurídice Gusmão.




Maria Clara 23/10/2021

Começo legal mas se perde
O que me manteve presa na história foi a escrita da autora, cheia de referências sociais, sarcasmo e críticas. O começo do livro me intrigou por Eurídice e sua vida invisível. Mas depois o livro se tornou um prato cheio para o feminismo liberal branco e elitista.
O livro pontua a diferença entre as mulheres endeusando Eurídice e falando sobre suas grandes capacidades que nunca poderiam ser exercidas. (Mas no final são sim exercidas) sem nenhuma luta por parte de Eurídice.
A narrativa transforma a protagonista numa vítima social, que de fato ela é, mas sem pontuar a situações de mulheres negras presentes na história ou até pontuando e logo em seguida mandando um "ta mas isso nao importa".
Se tornou uma narrativa um tanto ridícula ao tratar como protagonista a mulher confinada no núcleo familiar, ignorando ou não dando a mesma importância a personagens que passaram por abuso, estupro, traição, racismo etc. Dando assim a entender que Eurídice é melhor que as outras. Branca, rica e fiel seguidora das normas sociais.
Emi 05/01/2022minha estante
Obrigada! Acabei de ler e também tive esse incômodo


Emi 05/01/2022minha estante
Vim ver se outras pessoas tinham se atentado a isso antes de fazer a resenha


Maria Clara 05/01/2022minha estante
Fico feliz de não estar sozinha nessa ?




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