Sandrics 14/10/2020Eurídice tinha tudo para ser uma mulher brilhante, poderia ser o que quisesse, de médica a engenheira, empreendedora a professora, mas todo esse brilho foi sumindo aos poucos substituído pela necessidade de se encaixar.
Desde a infância ajudando na quitanda dos pais junto com sua irmã Guida, Eurídice já demonstrava enorme inteligência e múltiplos dons, mas tudo isso se colocou em segundo plano quando, após o sumiço de Guida, assim sem aviso nem despedida, Eurídice resolveu que nunca mais chamaria a atenção dos pais com suas habilidades, ou tomaria o tempo deles com seus pedidos e reinvidicações.
Anos depois, casada com um funcionário do Banco do Brasil, com uma boa casa, dois filhos, em uma ótima vizinhança, Eurídice se vê cercada pelo tédio. Executa os trabalhos do lar com perfeição e maestria mas após finalizar tudo, é impregnada com a melancolia, a solidão e a sensação de que poderia ser muito mais. E assim, todos os dias ela tenta se reinventar e todos os dias seu marido diz para ela não “inventar moda”.
Até que um dia, alguém bate à porta da casa de Eurídice, e você, leitor, pode ter um palpite de quem seja?
Martha Batalha nos apresenta neste livro personagens tão brasileiros e tão únicos, com uma escrita que prende o leitor do início ao fim. Acompanhamos o potencial de Eurídice ser desperdiçado, e presenciamos as dificuldades das mulheres no início do século XX em ter uma voz dentro de casa (e fora dela também), tendo em mente que cenas assim se repetem até os dias de hoje, onde potenciais são depreciados, onde inteligência e capacidade são diferenciadas por gêneros e vozes são silenciadas.
Também somos apresentados à cenários e celebridades do Brasil da época, algas histórias peculiares que nos posicionam dentro da trama.
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