O reino

O reino Emmanuel Carrère




Resenhas - O Reino


5 encontrados | exibindo 1 a 5


Adriana854 10/02/2024

O Reino
Que livro bem escrito! Sou muito fã do Emmanuel Carrere.

TÍTULO: O Reino

AUTOR: Emmanuel Carrère

TRADUÇÃO: André Telles

EDITORA: Alfaguara

NUMERO DE PÁGINAS: 431 Páginas

SINOPSE EXTRAIDA DO SITE DA AMAZON: O reino busca reconstituir as origens do cristianismo. Carrère descreve como dois homens, Paulo e Lucas, transformaram uma pequena seita judaica - centrada em seu pregador, crucificado durante o reinado de Tibério e que acreditavam ser o messias - em uma religião que em três séculos transformou a fé no Império Romano e conquistou o mundo. O próprio autor se coloca na história como investigador e personagem. Partindo de uma narrativa sobre sua juventude, quando se tornou um católico fervoroso, até suas dúvidas e sua renúncia à religião, Carrère mescla presente e passado numa história turbulenta, e procura descobrir as figuras humanas por trás de dois personagens marcantes da história mundial: São Paulo e São Lucas.
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Valéria Cristina 15/06/2023

Fabuloso
Um dos melhores livros que li na vida.
Considerado a obra-prima de Emmanuel Carrère, realmente é.

A autor investiga as origens, os primeiros anos do Cristianismo. Para isso, percorre a vida de dois homens fundamentais para o movimento: Paulo e Lucas. Ao mesmo tempo, ele se coloca como uma personagem ao entremear à história momentos de sua vida como crente absoluto e, depois, como agnóstico.

Diferente de qualquer outro livro que li sobre o tema, este tem uma linguagem clara, permeada de humor, leveza e ironia.

Acompanhamos a investigação da elaboração dos evangelhos, em especial, o Ato dos Apóstolos e as cartas de Paulo às igrejas gregas e asiáticas.
Absolutamente honesto em sua pesquisa, Carrère apresenta suas diversas fontes, as opiniões dos exegetas e dos historiadores sem deixar de registrar sua própria visão acerca dos fatos relatados.

Percorremos cidades gregas e asiáticas, vemos as divergências entre Paulo e os pilares da igreja de Jerusalém: Pedro, Tiago e João. Observamos os julgamentos de Jesus, Paulo e Pedro. Conhecemos os prováveis processos de escrita utilizados por Lucas, Marcos e João. Os textos canônicos são-nos apresentados e interpretados à luz de diversas possibilidades. A fé e o advento do Reino são exibidos ao leitor para que possa refletir acerca desses temas.

Um livro fabuloso que recomendo sem pensar duas vezes.

EMMANUEL CARRÈRE nasceu em Paris, em dezembro de 1957. Formado no Institute d'Études Politiques, é escritor, roteirista e diretor. Sucesso de vendas na França, recebeu os prêmios Femina, Renaudot, FIL de Literatura, Prêmio da Biblioteca Nacional da França e Princesa de Astúrias, entre outros.
priscyla.bellini2023 15/06/2023minha estante
Eu já amo o Carrère, fiquei ainda com mais vontade de ler.


Valéria Cristina 15/06/2023minha estante
Ele é maravilhoso ??




André Vedder 28/03/2023

Um estudo sobre o cristianismo.
Emmanuel Carrère sempre nos inquieta e suas obras geralmente têm por característica serem sobre si mesmo ou pessoas do seu convívio. Em "O Reino" o autor discute o cristianismo, contando seus anos de conversão e posteriormente o agnosticismo. Dentro dessa discussão Carrère mergulha em uma investigação sobre as origens da igreja cristã e principalmente um estudo detalhado de Paulo e Lucas.
Em sua narrativa, o autor tem uma abordagem humanizada e sem aquela áurea que geralmente permeiam esses personagens bíblicos, mesclando história com sua vida pessoal.
Foi minha quarta experiência com o autor e todas foram, senão brilhantes, mas ao menos enriquecedoras.

"Um sofrimento autêntico vale mais que uma felicidade ilusória."
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Ferreira.Souza 19/02/2022

É um ensaio sobre Paulo apóstolo e a conversão
Ensaio longo , um pouco cansativo , ao mesmo tempo interessante que o autor fala do cristianismo, relata os 3 anos que durou dua fe , e faz um estudo de Paulo e de algumas partes do cristianismo - Emmanuel Carrère é ótimo, mas pode desagradar a todos crentes e ateus
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Lucas 23/10/2016

Carrère, Salinger e nosso fascínio e apego às trevas
Existem boas resenhas na internet sobre esta instigante obra. Portanto, quero me deter em um aspecto que foi pouco desenvolvido nos comentários de que tomei conhecimento, mas que ocupa uma importante posição, não apenas na obra em questão, mas na tradição cultural cristã e no conjunto da civilização ocidental: o páthos do humano, ou seja, a paixão, a doença e a loucura que nos constituem. Será o Reino, então, a abolição do páthos humano no prometido outro mundo? Ilustro este problema tomando a liberdade de me fazer acompanhar por Franny e Zooey, os caçulas da família Glass criada por J.D. Salinger, que renderam duas novelas editadas com seus respectivos nomes (“Franny & Zooey”).

A liberdade que tomo não é inoportuna: está lá na página 142 de “O Reino” um belo parágrafo dedicado às citadas novelas de Salinger. Carrère chega até elas através do antigo livrinho sobre um peregrino russo que, no século XIX, procura obsessivamente descobrir como colocar em prática o que São Paulo pedia: “Orai sem cessar”. Os leitores de Salinger sabem não apenas que foi este livro do campônio russo que deixou Franny transtornada, intratável e, de fato, doente, como sabem de que modo seu irmão Zooey desfez o encanto sobre ela sem destruir a essência da mensagem de São Paulo.

Ao longo de várias passagens mais ou menos atormentadas das reflexões de Carrère, nos deparamos com o páthos do humano, especialmente quando se trata da conduta de Paulo, realçada diante da discreta impassibilidade de Lucas – e, mais ainda, diante do espírito estoico que predominava em vários níveis naquele contexto histórico e geográfico; é sempre oportuno lembrar que Paulo e Lucas eram gregos, consideravelmente letrados e cultos. Pode-se dizer que a moral estoica, senão todo o ideal moral helenista das escolas filosóficas que forjaram a sabedoria grega, resume-se a não transformar a existência em drama. Por outro lado, a dramática conversão de Paulo, passando de cruel perseguidor de cristãos (quando ainda não eram mais do que uma seita de judeus, oriunda majoritariamente de pobres pescadores galileus) a principal articulador do que viria a ser a Igreja, demonstra de que modo o páthos está incorporado à sua conduta veemente e obsessiva. Mais do que isso, em suas epístolas Paulo se dizia mesmo doente, pois sofria de um mal que lhe aguilhoava a carne, embora não tenha dado informações mais precisas a respeito.

Humano, demasiado humano, diria Nietzsche – um dos guias dos quais Carrère se aproxima e se afasta, conforme vai trilhando seu percurso tortuoso. Mas a questão merece um tratamento menos refratário do que o proposto pelo filósofo alemão. Penso no páthos do humano, ou seja, naquilo que Carrère chama de “a loucura de Paulo”, sobre o valor do sofrimento, da dor, do trabalho, da cruz que carregamos, dos pecados que nos tornam humanos; aqui estamos no reino de Dostoiévski, o mestre em nos revelar os tormentos e fraquezas que não se reduzem ao patológico, mas que nos constituem como seres decaídos diante da possibilidade da redenção. Penso no fascínio que tem este páthos, esta paixão, esta perturbação. Penso que o Cristianismo tem um impressionante poder de síntese ao unir a tradição da sabedoria (de matriz grega) ao páthos, ao sofrimento como um ideal (de matriz judaica). Penso que o Romantismo é análogo ao Cristianismo no poder de síntese, e talvez até que o Romantismo seja a nossa religiosidade laica contemporânea, com seu encantador fascínio pelo doentio e misterioso (“A verdadeira vida está ausente”, dirá Rimbaud) e pela vocação a transformar a vida em drama (não é esta a essência do romance?). Penso, sempre estimulado pelo confessionário da intimidade de Carrère, na inviabilidade do budismo no Ocidente. Nosso desejo por luz é tão profundo e vital quanto nosso fascínio e apego às trevas.

Mas o grego cristão Lucas está além. Se comparado a seu companheiro Paulo, Lucas cumpre o luminoso papel de Zooey diante de Franny – supera o drama (e a doença!), mas de um modo elevado, em que “arranca-a dessa mania, ao mesmo tempo que a aprova em suas últimas consequências”, como sentencia o autor. Na interpretação que Carrère faz de Lucas, o Reino é deste mundo, ao mesmo tempo que o transcende. É um koan indecifrável, mas perfeitamente compreensível para quem, como Salinger, sabe que a Senhora Gorda é nossa salvadora. Através de Lucas, Carrère nos mostra, como Salinger já o fizera com a família Glass¹, que já estamos no Reino.

________________
¹Não será despropositado chamar a atenção, ainda, para outro paralelo: se as epístolas fundamentam todo o poder de influência da doutrina de Paulo, são as cartas de Seymour e Buddy que, lidas e relidas com um fervor quase místico e uma reverência quase sagrada, alimentam os anjos e demônios da família Glass.

site: www.revistaamalgama.com.br/10/2016/emmanuel-carrere-salinger-no-caminho-para-o-reino/
Lopes 13/07/2017minha estante
Porra, que comentário certeiro. Obrigado pelo texto.




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