Morte: O Grande Momento da Vida

Morte: O Grande Momento da Vida Neil Gaiman
Neil Gaiman
Neil Gaiman




Resenhas - Morte: O Grande Momento da Vida


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Coruja 28/02/2017

Há muito de familiar em O Grande Momento da Vida para os leitores regulares de Sandman, a começar pelas protagonistas, Hazel e Foxglove. Foxglove, que no começo de tudo se chamava Donna, é citada por uma das clientes da lanchonete que o Doutor Destino toma refém em Prelúdios e Noturnos. As duas já aparecem como um casal em Um Jogo de Você, quando seguem Tessália para o Sonhar, usando uma bacia com água e sangue para fazer a Lua abrir um caminho para resgatar Barbie - e, à época, Hazel já estava grávida. De novo, nós as encontramos em O Alto Preço da Vida, quando Sexton, com um comentário cheio de timing, lança as bases do que será a carreira de Foxglove, que é o ponto em que começamos essa história.

Agora uma cantora de sucesso, Foxglove tem canções em trilhas sonoras de filmes e potencial para iniciar uma carreira de atriz, vai a pré-estréias e talk-shows, viaja pelo mundo fazendo turnês e trai Hazel quando surge uma oportunidade. Ela atravessa o mundo meio sem sentir - a realização de seus sonhos acabou se tornando um fardo e Foxglove sonha repetidas vezes em se desfazer dele, em poder fugir de tudo, de suas responsabilidades e voar, livre, como uma borboleta.

Aliás, é interessante notar que todas as pessoas e os momentos que mostram Foxglove nos bastidores do show business são cheios de desapontamentos e arrependimentos, de respostas prontas, vidas vazias e, claro, a tentativa de manter as aparências. De certa forma, o triunfo de Foxglove é como um daqueles pactos demoníacos numa encruzilhada, em que ela abre mão de tudo o que realmente importa - incluindo sua própria identidade, sua sexualidade, sua opinião, e se as coisas continuassem da maneira como iam, sua própria maneira de fazer arte - para ter realizado seu desejo.

Enquanto isso, Hazel fica em casa, cuidando do filho, Alvie (talvez uma homenagem ao falecido Alvin/Wanda?), atuando como uma espécie de secretária de Foxglove ao mesmo tempo em que observa, dia após dia, a outra se afastar, tanto física quanto emocionalmente.

Há coisas maiores com que se preocupar, contudo. Alvie, logo no prólogo da história, pára de respirar no berço, e Hazel acaba fazendo um acordo com uma personagem misteriosa que ela parece reconhecer: a Didi de O Alto Preço da Vida, ou ainda, Morte dos Perpétuos. É outro pacto mefistofélico, no qual em vez de Foxglove vendendo sua alma para a indústria, Hazel acorda com Morte que ela dará a Alvie mais algum tempo, mas em breve estará de volta para ver a pequena família… e nessa ocasião, ela levará consigo um dos três: Alvie, Hazel ou Foxglove.

Quando Hazel conta essa história para Foxglove, ela não acredita, ainda que saiba que há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia, afinal, ela esteve com uma bruxa antes, e caminhou para fora do nosso mundo e direto ao reino do Lorde Moldador. E assim é que o tempo passa, com uma sucessão de ausências, corações partidos e quartos de hotéis, até o momento de acertar as contas.

O empresário de Foxglove morre com um ataque cardíaco e retorna em sonhos para Foxglove, com crípticas mensagens, numa atuação que muito lembra a do fantasma de Marley, sócio de Scrooge em Um Conto de Natal. É quase tarde demais quando Foxglove afinal volta para casa, seguindo os pedidos de Hazel e Larry, e, sem encontrar o resto da família, apela para o que aprendeu com Tessália.

Enquanto isso, acompanhamos Hazel e Morte no que é, afinal, ‘o grande momento da vida’ de que fala o título, quando Hazel rememora toda sua história, especialmente seus momentos com Foxglove, numa representação daquela ideia de que, quando morremos, toda a nossa vida passa num instante por nossos olhos, como um filme. Como bem dito na história, “se você vai ser humano, tem um monte de coisas no pacote. Olhos, um coração, dias e vida. Mas são os momentos que iluminam tudo. Os instantes em que você não nota que os está vivendo… são eles que fazem o resto valer à pena”.

Essa é uma das minhas citações favoritas de tudo o que Gaiman já escreveu e, mais uma vez, a essência do que é O Grande Momento da Vida. Mais que o sucesso - muitas vezes efêmero e vazio, como se vê na jornada de Victor, Boris/Endymion, Larry e , claro, Foxglove - são os pequenos momentos relembrados com tanto cuidado por Hazel que realmente importam.

O que me impressiona em O Grande Momento da Vida é que Gaiman consegue passar todas essas impressões para o leitor sem grandes dramas: por mais que haja uma interferência sobrenatural, os relacionamentos, os sentimentos, as responsabilidades desses personagens são verossímeis, genuínas, completamente normais. Mesmo quando Foxglove revela sua traição e diz a Hazel que acha que não a ama mais, esse momento - como tantos outros pequenos instantes dessa história - não tem melodrama, não é nada exagerado.

É interessante que nas duas minisséries mais lembradas de Morte, seja a vida o grande e verdadeiro tema, o que faz das nossas existências algo tão rico, com que nos apegamos com tanto afinco. Morte aparece aqui para lembrar, sobretudo, porque a vida é algo tão sublime, seja em momentos épicos, seja nos pequenos instantes que podem não parecer importante, mas que fazem parte da nossa história, que constroem nossa identidade.


site: http://owlsroof.blogspot.com.br/2017/02/lendosandman-o-grande-momento-da-vida.html
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Fabio 10/04/2013

Morte - O Grande Momento da Vida

Deve ter uns 10 anos desde a ultima vez que li essa HQ. E no intervalo de um livro para o outro resolvi revistar essa pequena obra do Neil Gaiman que tem um dos melhores títulos que já vi.

A historia é simples, mas é contada de uma forma mágica. Recheada de personagens carismáticos e diferentes. A HQ prende até ter um fim um tanto quanto pequeno em relação ao que se propôs. Lembro que da ultima vez que li achei maravilhosa, desta vez, não me empolgou muito.

Acho que vou ter que esperar mais uns 10 anos para despertar novamente o interesse de ler essa HQ. Apesar de que, fiquei bem interessado na personagem da Morte.
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Marcinho 04/04/2010

Um toque sobre a Morte
Neil Gaiman é um gênio. Com personagens fortes porém, fracos, esquisitos porém, normais, ele consegue prender o leitor, mesmo os que não gostam de quadrinhos.
Uma ótima historia recheada de morbidêz, escolhas dificeis e surpresas. E é claro, destaque para uma das melhores personagens do seu universo, Morte.
Azuki 05/01/2015minha estante
Caramba não dá pra ler




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