helmalu 31/01/2017O que eu chamo de romance água com açúcar: Trago, hoje, meu comentário sobre uma leitura um pouco diferente das que faço: Querer amar da brasileira Rose Andrade. Em minha ânsia de variar as leituras e, na mesma ocasião, prestigiar a nossa literatura contemporânea, dei uma chance para essa leitura que não costuma me atrair e que foi gentilmente enviada pela editora parceira Novo Século. A capa é linda, mas o restante dos aspectos... foi uma tremenda decepção.
O enredo é simples e promissor: Lize é a protagonista, uma médica de 28 anos que é noiva de Thomas, um empresário. Eles têm um relacionamento amigável, mas não são fervorosamente apaixonados, isso fica claro. Até que, no dia do noivado, Lize conhece o irmão de Thomas, Richer, e tudo muda. Ela se apaixona perdidamente pelo irmão do noivo e Richer também se apaixona por Lize. Diante da paixão que os une, eles lutam para não caírem em tentação. Richer por medo de trair o irmão, sangue do seu sangue, e Lize para não trair o noivo, que sempre foi gentil e atencioso com ela. A partir daí, se desenrola o enredo de Querer amar, fazendo com que a dúvida de se Lize ficará com Thomas ou com Richer leve a leitura adiante.
"Lize fitou-o nos olhos e depois, com ternura, acariciou o rosto de Thomas. Ele era tão doce, tão perfeito, fazia de tudo para agradá-la. E ela era incapaz de lhe retribuir os sentimentos na mesma proporção. Sentiu-se péssima. Muito egoísta. Absorta demais nas próprias loucuras momentâneas." (ANDRADE, 2016, p. 139)
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Apesar de eu ser suspeita para julgar esse gênero (afinal, seria esse livro um chick-lit? Um young adult?) acredito que a autora foi infeliz na execução do enredo desse livro. Primeiro, pelo fato de haver pouco aprofundamento nas personagens. Digo isso porque ela faz uso de clichês pouco convincentes: Lize é linda, loira, magra, rica e PURA! Sim, aos 28 anos ela ainda é virgem, pois é uma "moça de família" que se dedicou única e exclusivamente à Medicina. Porém, todo a descrição feita da personagem é para reforçar o quanto a roupa que está vestindo é sexy, o quanto ela é sensual e, em último caso, perfeita. Fica um pouco contraditório todo esse apelo para a imagem sexy dela sendo que ela é virgem. Sinceramente, me dá preguiça esse tipo de protagonista, aquela que todos caem de amores, amada e adorada por onde vai e correta o tempo todo. Não havia necessidade de ser assim. Já os irmãos que fazem parte do triângulo são igualmente rasos e estereotipados. Thomas é o homem de negócios, sempre ocupado e que agrada a noiva com presentes caros, mas também é possessivo e quer controlar a vida da noiva. Já Richer é o típico garanhão que tenta dominar as mulheres. Sem deixar de falar que todos na estória são lindos, ricos, magros, elegantes. Acredito que é fácil apelar para o imaginário dos leitores quando só se trabalha com perfeição e não se aprofunda o perfil psicológico dos personagens.
Uma coisa que ficou a desejar, e muito, foi a ambientação e elaboração dos personagens. Não sabemos sequer qual o nome da cidade onde a estória acontece, qual o sobrenome dos personagens e no caso de suas profissões: qual a especialidade médica de Lize? Que tipo de empresário Thomas é? Lize não tem amigas? Nunca teve namorados antes de Thomas? Essas perguntas surgiram em minha cabeça durante a leitura e eu me senti como se tivesse caído num recorte da vida de Lize, e é como se a vida dela não tivesse existido antes de a estória do livro começar.
Outro ponto que não me agradou foi a linguagem, simplória demais. Pareceu-me que a autora só foi procurando palavras "chiques" e jogando no meio das falas para ficar mais "bonito". Também havia tantos adjetivos desnecessários como "brilho lascivo", "carícia pecaminosa", "desejos mais primitivos", que soavam muito como a linguagem usada naqueles livros eróticos de banca de revista. Além disso, não parecia que eu estava lendo um livro escrito originalmente em português, não havia expressões comuns da fala, nem termos regionais, o que quer que fosse que deixasse os personagens mais humanos. Eu em senti lendo uma versão adulta dos filmes da Barbie.
A narrativa, por último, foi o que, a meu ver, estragou uma estória que poderia ser boa. Talvez pelo fato de a autora não ser desse mundo das Letras (na orelha do livro o leitor fica sabendo que ela é das exatas) ela não tenha conseguido desenvolver melhor esse aspecto. O que acontece é que só há um desenrolar dos acontecimentos, sem uma ambientação. Embora o narrador seja onisciente em terceira pessoa, há muitas falas e pouco sabemos dos pensamentos dos personagens, o que poderia ter sido melhor explorado devido ao estilo de narrador que ela escolheu. A estória só foi acontecendo sem grandes reviravoltas, sem emocionar o leitor, até chegar num final forçado e pouco convincente.
Enfim, foi uma leitura muito rápida, que li de um dia pro outro, mas pelo simples fato de ser um livro fácil de ler, que não requer muito conhecimento linguístico nem reflexão do leitor. Se vocês querem um livro para passar o tempo e se distrair, essa é uma leitura adequada.
ANDRADE, Rose. Querer amar. São Paulo: Novo Século, 2016. 204 p.
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