Paulo Silas 27/03/2018Anedotas. Máximas. Aforismos. Verbetes. Insights. Qualquer seja o nome que se dê, o que vale é o registro: as palavras gravadas, o tom jocoso-literário que dá vida à obra. Disso tudo é que é feito "Godot é uma Árvore" - um pequeno livro que diverte, que joga com o leitor, que se conduz a lugar nenhum, que até se justifica, mas não se explica.
Composto por 471 partes (várias partes de uma única), o livro é um convite ao leitor para experimentar o paradoxal, o puramente intuitivo, o nonsense, o não fim. Há de tudo nesse todo. As pequenas frases levam o leitor a trilhar por um caminho que não leva a lugar nenhum. Na realidade, as palavras fazem com que o leitor viaje para vários lugares diferentes. O lugar nenhum aqui dito se diz para com a parada final, uma vez que não há. Não um fim. Simples assim.
O livro diverte. Creio que acima de qualquer coisa, a diversão é o mote que conduz a obra. A jocosidade reluz em diversas passagens, transmitindo-se através de várias anedotas (que se encerram em si mesmas) marcantes. Alguns exemplos das mais brilhantes:
"38 - A fábula: mexer a colher na xícara de café durante 20 minutos para dissolver o açúcar de maneira absolutamente perfeita. A moral: beber café frio. A frase: a perfeição é um café que se serve frio. (A possibilidade de entrar para o catálogo de provérbios é remota)."
"49 - Um profeta desce a montanha invariavelmente com duas preocupações para quando encontrar a multidão: ter uma boa frase na ponta da língua e , porque depois de tantos anos não lembra como é uma casca de banana, caminhar com a cautela de um profeta que desce a montanha"
"333 - O pregador confundiu luz eterna com luz externa e não viu a escada"
Manoel Carlos Karam propõe desafios - além de encontrar o porquê de cada máxima, o leitor deve ainda responder à própria pergunta que acabará fazendo: mas que livro é esse?
Fica o convite para auxílio nessa empreitada!