Desamparo

Desamparo Inês Pedrosa




Resenhas -


14 encontrados | exibindo 1 a 14


Livia1182 02/11/2023

Preciso reler pra poder lembrar o que acontece na história rsrs. mas o pouco que lembro dele, é bom. comprei por 10 reais ent fez ele valer a pena
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Leila 19/10/2023

Desamparo da portuguesa Inês Pedrosa, é um livro que explora temas de pertencimento, identidade e nostalgia de uma maneira íntima e delicada. Embora tenha apreciado a leitura, devo destacar que, em comparação aos três livros que já tive o prazer de ler da autora, Desamparo se destaca como o mais singelo e menos impactante de todos.

A trama deste romance nos leva a uma jornada através das vidas de uma família que possui ligações fortes tanto com o Brasil quanto com Portugal. A dualidade da identidade, das raízes e das experiências culturais é habilmente explorada pela autora, adicionando um toque único à narrativa. O enredo é permeado por uma sensação nostálgica e melancólica, que envolve os personagens em uma busca por suas próprias identidades e por um sentimento de pertencimento. O livro carrega muita solidão também, aquele sentimento de estar só mesmo estando rodeado de pessoas, sabe? Aquele sentimento de ser sozinho mesmo tendo família.

É também notável como a autora consegue entrelaçar as histórias pessoais de seus personagens com o contexto histórico, social e até econômico de Portugal e do Brasil, criando um cenário rico e envolvente. O leitor é levado a refletir sobre as complexas relações entre esses dois países, que se estendem para além da geografia, abrangendo também as relações familiares e individuais.

Enfim, Desamparo é um livro que cativa pela sua atmosfera nostálgica e pela forma como aborda as complexas ligações entre Brasil e Portugal, proporcionando uma leitura agradável. No entanto, para aqueles que já estão familiarizados com a escrita envolvente de Inês Pedrosa, este livro pode ser percebido como o mais fraco dos que foram escritos pela autora (pelo menos dentre os que li até o momento). Mesmo assim, vale a pena explorar a obra para apreciar a sensibilidade e a perspicácia da autora ao retratar as experiências humanas em uma família luso-brasileira e também muito desunida.
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Julia2354 06/09/2023

(3,9) Ótimo livro!
"Desamparo" é um livro que ganhei de presente de aniversário e que guardo na estante desde 2019. Foi meu primeiro contato com a literatura portuguesa contemporânea, e digo que gostei muito.

A sinopse da contracapa dá a entender que o livro acompanhará Jacinta a todo tempo, mas digo que seu filho, Raul, é o protagonista da história, a quem seguimos até a última página.

A autora tem uma escrita muito gostosa e pontualmente presenteia o leitor com frases que pegam a gente naquele ponto sensível. É um ótimo livro!
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Ellie 27/08/2023

Egoísmo
As pessoas acabam não dando valor para aquelas que a geraram, educaram e que quando ficam idosas precisam de uma atenção maior, se sentem sozinhos e carentes.

A ideia é ótima mas a autora se perde com muitos personagens que você acaba se confundindo e em determinados momentos não sabe quem é quem.
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Lucas 11/06/2023

Um belíssimo romance
"Abrimos as páginas e vemo-nos lá dentro [...] o desemprego, o desencontro, o desapego, o 'descasamento', o desamparo"
A saga de uma mulher que foi arrancads do braços de sua mãe e trazida ao Brasil aos 3 anos de idade e 50 anos depois, volta para Portugual para conhece-la.
"DESAMPARO" é engraçado, triste, melancólico, irônico, ácido e forte. Uma história tão real, tão verídica que parece tão difícil acreditar que foi uma histórica criada.
Inês Pedrosa trás uma história incrível com uma narrativa que abraça e o faz mergulhar por completo na história.
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vel 11/09/2022

Muito bom, mas seria muito melhor.
Completou 10 dias que terminei o livro achei uma leitura super fluida. Por eu estar trabalhando eu costumo ler por partes e a história me cativou os personagens também mas eu queria que tivesse no final mas ficou um quê de tudo se encaixou perfeitamente então recomendo muito para quem tem pressa ou para quem está de ressaca é uma ótima dica não é a primeira vez que eu leio o livro dessa autora já li outro que eu gostei bastante.
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Lucas 09/05/2022

As surpresas de Pedrosa
Inês Pedrosa é minha escritora da atualidade preferida. Seus livros, poesias em prosa. Até parece que ela abraça a gente com cada palavra escrita.
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Laryssa Barros 20/01/2022

Profundamente real
Esse livro te faz viajar sem nenhum aviso prévio direto para portugal. Os personagens são tão reais que parece que eu conheço essas pessoas, a autora escreve com uma delicadeza tamanha que é fácil se emocionar. Em menos de 300 páginas eu fiz 47 marcações, nunca tinha marcado tanta coisa em um livro. Simplesmente maravilhoso, leiam!
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Michel 13/11/2021

A SENSIBILIDADE DA LITERATURA PORTUGUESA
Encontrei este DESAMPARO em promoção num Sebo. A capa com o rosto de uma mulher me soou familiar (meses depois descobri a fonte desta impressão: é que já tinha visto o livro na estante de minha esposa), li a sinopse rapidinho e decidi acrescentá-lo a minha pilha de compras, tipicamente esse é o tipo de aquisição para se conhecer novos autores. E como foi gratificante saber que a autora é portuguesa. Tive certeza de que estava adquirindo coisa boa. A literatura lusitana tem muita gente boa, e Inês Pedrosa apenas surgiu para validar essa opinião.

A trama deste romance contemporâneo gira em torno da personagem Jacinta, mulher nascida em Portugal, porém, veio para o Brasil muito jovem, ela retorna ao país de origem meio século depois para conhecer a genitora da qual foi arrancada muito cedo. Jacinta é como o ponto de origem para explicar muitos outros personagens, todavia, ela segue como figura central, mesmo em capítulos em que pouco dela nos é apresentado, mesmo assim, sua essência permanece circundando toda a leitura.

O reencontro acontece numa pequena aldeia, onde ela se estabelece em definitivo porque precisa cuidar da mãe. Neste ínterim, o livro alterna para outros capítulos em que nos são apresentados novos personagens, alguns mais interessantes do que outros, sendo o mais complexo e meu favorito, Raul, que em determinado instante também se encontra instalado em Portugal para cuidar de sua mãe, Jacinta, exatamente como ela houvera feito antes, num ciclo altruísta no cerne daquela família.

Raul é figura singular, carrega problemas existenciais, tem conflitos familiares com seus irmãos desgarrados, é consciente de suas limitações de uma forma quase lamentável, sente-se fracassado na profissão e no amor. Este personagem, juntamente com Jacinta, são os pontos mais altos da trama.

O livro resvala num segmento introspectivo, quase um fluxo de consciência, mas o mergulho não desce tão fundo em tais reflexões idiossincráticas, ficando mais próximo do verniz; de uma prosa deliciosa, engraçada, triste e muitas vezes carregada de análises conflitantes, de personagens tomados demais dessa natureza humana cheia de inconstâncias.

Mas apesar de instigar, é justamente aqui que o livro resvala num problema.

Muitos personagens inseridos comprometeram aquilo que seria este mergulho mais fundo na leitura da alma humana. Talvez Inês tenha exagerado na dose, despejou demais os tipos diferentes que nos são apresentados, e terminamos por conhecer bem menos do que gostaríamos de cada um deles..., uma pena.

De qualquer forma, é um livro gostoso de se ler, fluído e crível, onde o desamparo do título paira o tempo inteiro ao redor de seus envolvidos, porém, deixou-me com a sensação de que faltou arrancar camadas de seus personagens, o que talvez fosse possível, caso a trama tivesse se concentrado em um ou dois indivíduos. Opinião à parte, esta obra é mais um acréscimo que eleva minha admiração pela literatura portuguesa, Inês Pedrosa é mais uma autora que passarei a procurar avidamente.

site: Outras resenhas: http://dimensaoreluzente.blogspot.com/
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Pandora 20/06/2020

Jacinta nasceu em Portugal, mas aos três anos veio com o pai pro Brasil, onde viveu por mais de 50 anos, até ser chamada pela mãe para encontrá-la em Portugal. Ficou. Dos seus três filhos, só Raul também emigrou para a terrinha e não voltou. Também só ele cuidou da mãe, de todas as formas, ainda que fosse o que tinha menos recursos.

No Brasil, Jacinta era ‘a portuguesa’, em Portugal, ‘a brasileira’ e isto já nos dá ideia de que é uma narrativa sobre raízes, pertencimento, preconceitos, adaptações. Também sobre família, solidão, abandono, injustiças, dificuldades e sonhos. E morte. Tudo regado à melancolia digna dos romances portugueses.

Confesso que a narrativa é diferente do que eu esperava, mas nem por isso gostei menos do que já previa... os laços de sangue com a terrinha sempre falam alto ao coração. O que eu achava, de início é que esta seria basicamente só a história da Jacinta, mas na verdade ela é, como diz a sinopse, um ‘ponto de partida’ para histórias de várias vidas que se cruzam na fictícia Aldeia de Arrifes, Concelho de Lagar, em Portugal.

Este é um ponto positivo e negativo da trama: são vários personagens, o que pode causar uma certa confusão no leitor. Além do narrador onipresente, são também narradores Jacinta, seu filho Raul e a jornalista Clarisse. Aliás, Raul... pensa numa pessoa que você quer colocar no colo e dar uns tapas na cara ao mesmo tempo?! Sofri!

Foi meu primeiro livro de Inês Pedrosa e espero ler muitos mais. Fico com a sensação de ter sido ali na aldeia também uma personagem, talvez uma turista bebendo um licor de pera-rocha e ouvindo os ‘causos’ da cidade. Talvez eu volte um dia. Talvez eu fique.

Trecho de Fado de Minha Aldeia, de Martinho d’Assunção e José Marques:
‘Havemos de ver um dia o lugar onde nasci
Vou te mostrar a casita onde minha mãe perdi
Esta é minha linda aldeia, enquanto está dormitando
O rouxinol entre as tílias namora a lua cantando’
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Caren Gabriele 19/06/2020

Um pouco de Brasil, muito de Portugal e tudo desamparado
Sinopse da editora:

A saga de uma mulher que foi levada do colo da mãe para o Brasil aos 3 anos e regressa a Portugal para a conhecer mais de meio século depois. Esse é o ponto de partida deste extraordinário romance de Inês Pedrosa. Com uma escrita inteligente e repleta de humor, a autora cria um universo singular, num típico povoado português, em que se cruzam vidas de vários continentes. Entre emigrações e imigrações de ontem e hoje, entre duas culturas mais que interligadas, seres solitários e escorraçados procuram novas formas de vida, enquanto tentam sobreviver à depressão econômica. Com um enredo cheio de força e originalidade, este livro é atravessado por temas como amor, família, traição, poder, inveja, medo, vingança e, sobretudo, pela constante presença da morte. A partir da saga de Jacinta, temos, nestas páginas, a história recente do Brasil e de Portugal, dando corpo a um conjunto de personagens inesquecíveis.


Eu nunca hei-de ser velha; nem sequer aprendi a ser moça. (Pág. 21)


Comprei esse livro em uma feirinha literária de um shopping aqui da cidade onde moro. Quase todos os livros por lá custam R$ 10,00, então, sempre que dou uma passada, tento garimpar alguma pérola. Foi assim que eu trouxe Desamparo para casa, confiando na sinopse e comentários na orelha do livro. Trouxe e esqueci na estante por uns bons 8 meses. Mas como minha meta de leitura para 2020 é ler tudo (ou pelo menos a maior parte) do que estava parado por aqui, peguei este romance para ler na quarentena, acreditando (não me pergunte por qual motivo) que seria um daqueles livros que fazem a gente se apegar aos personagens e aquecem o coração no final.

Bem, acho que foi com essa intenção mesmo que ele foi escrito. Mas a autora não conseguiu chegar lá. Ou, pelo menos, eu não consegui chegar lá com ela. Existe a possibilidade de que o livro ser escrito em português de Portugal ter dificultado essa conexão, mas acho que não esse seja o único vilão. O que acontece é que, logo no início da história (e desde a sinopse, na verdade) somos apresentados a Jacinta, uma senhorinha portuguesa que foi levada pelo pai ao Brasil quando ainda era uma criança e só retornou a sua pátria depois dos 50 anos (não é spoiler, eu juro).

E Jacinta é, realmente, uma personagem da qual facilmente gostamos. Ela não é a "vovozinha dos contos de fada" e sim uma senhora que, ao fim da vida, se recorda dos seus erros e acertos, aceitando para si e para nós, leitores, que fez o que pode com as situações adversas pelas quais passou. E um mérito bônus: ela fala das dores e amores da maternidade e desmistifica um bocado desse "sonho de ser mãe". Na verdade, não apenas essa personagem, mas durante todo o livro temos esses vários lados, várias formas de encarar essa responsabilidade estão presentes.

Além de Jacinta, acompanhamos também a perspectiva do seu filho mais novo, Raul. E é aqui que mora o grande problema, ao meu ver. Numa tentativa de criar um panorama da depressão econômica vivida em Portugal no início dos anos 2000, a autora acabou por tornar este personagem que passa absolutamente todos os capítulos que protagoniza sentindo pena de si mesmo. E mesmo que ela seja consciente disso na história, ainda assim é muito penoso ao leitor acompanha-lo. Mesmo quando as coisas melhoram para ele, a sensação deprimida que ele passa faz a leitura ficar com um gosto amargo.

No fim, fiquei com a sensação de que a história que realmente valia a pena ser contada, a de Jacinta, foi colocada de lado para oferecer um protagonismo desnecessário a sua cria lamurienta. Um outro probleminha é a quantidade de personagens secundários, que pouco acrescentam e, em alguns momentos, até complicam a compreensão de para onde a história está se desenrolando. Personagens que são apresentados no início do livro e que só revemos muito depois, quando até mesmo nos esquecemos de que estavam por ali.

E tudo bem, não é que o livro seja de todo ruim. É muito bem escrito e tem reflexões pertinentes ainda hoje. Mas a sensação que fiquei é de que a história não alcançou todo o seu potencial. Infelizmente.


Cada um é como é, e eu, se deixasse de sonhar, morreria de melancolia. (Pág. 149)


Inês Pedrosa é formada em ciências da comunicação e trabalhou na imprensa, no rádio e na televisão. Já dirigiu a revista Marie Claire e a Casa Fernando Pessoa. Além disso, mantém há 13 anos uma crônica semanal no periódico Sol. Tem 23 livros publicados, entre romances, contos, crônicas, biografias e antologias.

site: https://blog.carengabriele.com.br/2020/06/um-pouco-de-brasil-muito-de-portugal-e.html
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ElisaCazorla 19/04/2019

Identidades, amores e melancolia
Quando inicio a leitura de um novo autor ou autora português já vou com grandes expectativas porque sou muito fã da literatura lusófona, sobretudo a portuguesa. Por esse motivo, eu já sabia que ia gostar deste livro antes mesmo de começá-lo.
Não preciso resenhar sobre a história em si uma vez que já existem duas longas resenhas sobre isso aqui, então vou falar um pouco sobre as minhas impressões sobre o livro.
A narrativa é muito fluida, muito agradável e marcadamente melancólica como são vários autores portugueses e é isso uma das características que mais me agrada. Uma melancolia deliciosa.
A autora dá vozes à vários narradores, ora é o personagem, ora é outro personagem, ora é o narrador onisciente. Isso também me agradou muito.
Outro ponto positivo é o encontro entre personagens que possuem raízes brasileiras e lusitanas ou porque nasceram em um país e cresceram no outro ou vice e versa. A maneira como se constrói a identidade dos personagens que convivem com essa dupla cidadania e essa dupla história cultura é muito interessante.
O ponto negativo é a quantidade de personagens. São muitos personagens e em vários momentos eu já nem sabia mais quem era mesmo a Alice ou a Vanessa. Suas histórias se perdiam com seus nomes.
Gostei muito do livro e tenho vários outros livros desta autora na estante que lerei em breve. Espero que sejam ainda melhores.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 29/09/2018

Editora Leya - 296 Páginas - Capa e ilustrações: Gilson Lopes - Lançamento: 15/08/2016

Inês Pedrosa confirma, neste seu sétimo romance, ser uma das vozes mais criativas da literatura portuguesa contemporânea. Desamparo apresenta uma abrangência temática que, ao descrever os movimentos migratórios entre Portugal e Brasil e suas consequências na vida dos personagens, fala de encontros e desencontros familiares, amor e morte. Permeando as questões humanas, uma visão de dois países que buscam encontrar o seu lugar em um mundo cada vez mais globalizado e que cobra um preço alto pelo ingresso na suposta modernidade, o que nem sempre representa uma garantia de melhores condições de vida para portugueses e brasileiros, muito pelo contrário.

Toda a narrativa é desencadeada pela história de Jacinta que morou no Brasil a maior parte de sua vida, tendo sido separada da mãe aos três anos. Ela, assim como os seus três filhos, Rafael, Rita e Raul, desenvolveu um português com sotaque "brasileiro", reflexo das diferenças culturais entre os dois países. Jacinta inicia um movimento de retorno às suas origens quando viaja para cuidar da mãe que ficou em Portugal e acaba se estabelecendo em uma fictícia aldeia chamada Arrifes, próxima à também fictícia e milenar vila de Lagar, testemunha de um passado histórico glorioso, mas que hoje sobrevive às custas do turismo. Este microcosmo social é a representação perfeita para Inês Pedrosa escrever sobre Portugal e seu povo hoje.

Os capítulos são intercalados por diferentes técnicas narrativas, mas sempre pontuados pela bonita prosa poética da autora, alguns de forma onisciente em terceira pessoa, outros em primeira pessoa por Jacinta, Raul e Clarisse. O trecho abaixo, por exemplo, é conduzido por Jacinta, após ser internada com oitenta e nove anos, vivendo sozinha ela conta apenas com o auxílio de um dos filhos, Raul, que decidiu, assim como a mãe, morar em Portugal com o seu sotaque "brasileiro", mas ele é justamente o filho com menos condições financeiras. É interessante notar como o texto reproduz, na fala dos personagens, características da língua como é falada nos dois países, outra oportunidade ficcional explorada com criatividade.

"O meu pai era o célebre Artur Sousa, o 'Artur Português', como lhe chamavam no meio jornalístico. Era tipógrafo de jornais, chefe de oficina muito amado pelos empregados mesmo sendo exigente e severo com eles. Aquele era o tempo da impressão a chumbo, e eu ficava fascinada com as caixas das letras, como podiam ser tão diferentes entre si. Cada tipo de letra me parecia uma pessoa com a sua personalidade própria. No Brasil, eu sempre fui a Portuguesa; em Portugal, passei a ser a Brasileira – está lá no caderninho da conta da mercearia do meu primo Zé Paulo, que não me deixa faltar nada porque sabe que eu pago: não está Jacinta Souza, está escrito "Brasileira". Agora me dou conta de que, ao contrário do que sempre pensei, isso não é ter falta de personalidade, não – é antes ter personalidade a dobrar. Descoberta tardia; tudo meu é tardio. Como se eu tivesse de aprender a perder para poder ganhar alguma coisa. As mulheres de bata azul querem à força meter-me um iogurte amargo na boca. Um iogurte sem uma gracinha, um pedacinho de fruta, nada. Me deem leite com muito chocolate que eu tomo. Mas isso elas não dão, dizem que dispara a glicose. E eu não consigo pedir. A minha língua transformou-se em pedra, uma pedra pesada e seca." (Pág. 23)

Raul é um dos personagens mais complexos, arquiteto formado no Brasil ele desenvolve a sua carreira profissional em Portugal, a princípio com muito sucesso, mas gradativamente vai tendo muitos percalços profissionais devido à crise econômica por que passa o país, problemas também amorosos fazem com que tenha uma vida solitária e sem esperanças. O seu único objetivo passa a ser cuidar da mãe sem a menor ajuda dos outros dois irmãos que são oportunistas e interesseiros. Raul, decide viver na aldeia de Arrifes, na casa da família, onde morou a avó Margarida e a mãe Jacinta. Existe uma possibilidade de redenção para Raul por meio da relação com Clarisse e a redescoberta da pintura, uma vida simples.

"O pouco que sabia de Portugal chegava-me pelas cartas da avó Margarida – nas quais tudo em Arrifes e arredores era lindo e estava à nossa espera –, da literatura obrigatória da escola, do 'Dicionário prático ilustrado Lello' em três volumes, que caprichava nos verbetes sobre a nobre Lusitânia, e da revista de quadrinhos 'Visão'. Não sei como, mas, no fim dos anos setenta, alguns exemplares desta publicação portuguesa aterravam, de vez em quando, nas bancas de jornais cariocas. Esse pequeno, belo e inocente Portugal sempre havia sido para mim uma possibilidade, uma janela de escape. Por isso me foi tão fácil permanecer definitivamente no país. Após a formatura, decidi vir passar o Natal com a minha mãe e com a mítica 'avó portuguesa' Margarida, a quem, até aos vinte e seis anos, só conhecia por cartas e por telefone. Portugal passava a ser para mim o novo mundo. Um mundo que, não sei porquê – ou antes, sei –, tinha tudo a ver comigo." (Págs. 51 e 52)

Clarisse é uma jornalista desencantada com os rumos da ética nos meios de comunicação (seria um alter ego de Inês Pedrosa, também jornalista?), ela reponde a um injusto processo de difamação e se afasta dos grandes centros urbanos para viver em Arrifes. A aproximação entre ela e Raul é uma possibilidade de iniciar uma nova vida, mas será que eles conseguirão superar os seus próprios medos e arriscar tudo em nome do amor?

"Este amor assusta-me; o seu poder de êxtase é tão forte quanto o de amargura. Há dias, enquanto apertava o fecho de um vestido de pássaros coloridos de que Raul especialmente gosta, comentei que precisava de cortar no queijo e no vinho, porque estava a ficar mais gorda. Olhou para mim com um ar crítico e confirmou: 'Engordaste, sim. Uma ginasticazinha também não te faria mal.' Amuei, ele ficou zangado e disse que era triste não poder dizer-me o que pensava. Eu que fazia discursos sobre a honestidade obrigatória nas relações de intimidade, provo agora do meu próprio veneno. Raul tem uma capacidade de me magoar que nunca concedi a ninguém. Creio que nem ele mesmo se apercebe disto – e ainda bem. Não sei se esta vulnerabilidade absurda é um sinal de envelhecimento, ou de pavor de envelhecer. Os meus recursos vão diminuindo; quase não vejo ao longe sem óculos, o peso das pessoas e o peso das coisas cansam-me muito mais do que me cansavam, dou por mim ao espelho a detectar pregas que ontem não existiam no meu corpo. A Lupe diz que a velhice não significa um aumento de sabedoria e, antes pelo contrário, um refinamento de limites e defeitos: medo, mesquinhez, inveja, susceptibilidade, preguiça e orgulho adquirem preponderância sobre as virtudes inversas, naqueles que as tivessem. Um regresso à primeira adolescência, será?" (Pág. 203)

Nesta ponte ficcional entre Portugal e Brasil, Inês Pedrosa criou alguns personagens que representam muito bem esse permanente estado de desamparo que vivemos hoje em nossa sociedade, uma extrema conectividade digital e, contudo, cada vez mais solitários e sem esperanças. Talvez seja o momento de refletir sobre as coisas básicas que deixaram de ser importantes: vida, amor e morte. Simples assim. Um livro para pensar e ainda com aquele tipo de final que arrepia da cabeça aos pés, adoro essa sensação!
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Karini.Couto 24/04/2017

Desamparo de Inês Pedrosa é um grande livro apesar de suas poucas páginas.

O livro retrata a história de uma mulher que aos três anos de idade foi arrancada dos braços da mãe e levada por seu pai para o Brasil. Uma história verdadeira que traz uma mulher em busca de seu passado e conexões cinquenta anos após a separação, e no intuito de conhecer sua mãe ela retorna ao seu lugar de origem tudo isso em meio a traumas e problemas políticos econômicos em Portugal.


Essa foi minha primeira experiência com autora já tão conhecida pelo mundo a fora e o que percebo em sua escrita é na verdade algo maduro e muito realista que capta o leitor para um mundo insano e cruel e ao mesmo tempo recheado de traições, reencontros, decepções, crimes e etc.


Com uma ambientação incrível e personagens singulares Inês Pedrosa consegue emocionar e ao mesmo tempo nos mostrar um mundo cada vez mais solitário em sem valores, mas ainda assim provoca um sentimento de esperança com sua escrita.


A história tem início com Jacinta - já senhora, tendo um desmaio no pátio de sua residência na aldeia de Arrifes e com isso vários pensamentos lhe vem a mente, como o desejo abrasador de rever seu filho Raul. Alguém que apesar de conhecida, parece cada vez mais invisível. Uma mulher marcada por sua estrada pela moda no Brasil, apaixonada e com três filhos - Rita, Rafael e Raul; filhos que não estão mais ligados ao elo familiar devido a problemas sofridos na relação entre Jacinta e Ramiro, e isso tudo visto a olhos nus.



Uma história ricamente detalhada por personagens marcantes em suas melhores e piores forma.


Raul é um dos personagens mais intrínsecos e únicos a meu ver, com um aspecto sombrio e ao mesmo tempo realista; uma certa nostalgia e sinistralidade que o rondam desde sempre, incapaz de cuidar de sua mãe com um emprego miserável e sem perspectiva e um desânimo contagioso.


Aos poucos vamos entendendo o desfalecer lento de Jacinta em um hospital desamparada, porém essa morte que a espreita só vem quando todas as cartas são postas na mesa. A infelicidade de Raul salva às páginas de tal maneira que chego a me comover de fato com toda a situação e ficar arrasada em determinado momentos. Olhar ao redor e perceber tudo que se passa não apenas com sua vida, mas com aqueles que nos cerca, é algo que vem cada dia ficando em baixa, uma vez que valores estão invertidos, que pessoas estão cada vez mais individualistas e egoístas.

Mas sempre há uma luz no fim do túnel e apesar de todo "desamor" "desamparo" "pessimismo" e "sofrimento" sempre se pode ver um lado bom nas coisas e encontrar seu caminho em meio ao caos e uma crise política devastadora e é exatamente isso que Inês Pedrosa nos traz em seu livro Desamparo e muito mais!
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