Gabi 28/09/2016Não imaginava que melancolia com aventura seria tão bom!Florian Links é um professor que está chegando na Ilha de Sant'Anna Afuera para passar um tempo no Mosteiro da Santa Cruz, afim de fugir de um passado doloroso e tentar dar um direcionamento ao seu futuro. Ao longo dos dias Florian vai tentando se habituar ao clima sempre fechado e melancólico que a ilha possui, a rotina rígida que ele, mesmo hóspede, tem que seguir, as pessoas e aos seus pensamentos, sempre fugindo do ideal.
"A gravidade daquele silêncio monástico sempre me impressionou e diria que teve até mesmo um papel fundamental para que eu viesse à ilha. Atraía-me a ideia de apenas ficar calado. Mudo, sem precisar explicar nada a ninguém. Ora et Labora, isso era tudo, e bastava-me para construir os muros de que tanto precisava." (p. 23)
O que me atraiu a pedir esse livro foram duas coisas: a escrita poética e melancólica, misturada com uma aventura no estilo de piratas. Nunca imaginei uma combinação dessas, e essa curiosidade foi que me motivou a conhecer a história, mas infelizmente, não foi tão satisfatório assim.
O livro é misturado entre passado e presente e temos duas histórias entrelaçadas. A primeira é a do próprio Florian, que no presente, nos conta que os fatos contados é sobre o que lhe aconteceu um ano antes, desde que chegou à ilha, até a um acontecimento extraordinário, que o motivou a fazer esse relato. A segunda parte é passado nos anos de 1599, e nos conta a vida do corsário holandês Olivier van Noort, desde o início a sua jornada, até o momento em que chega na ilha por volta de 1600, onde ocorre uma invasão. Essa parte da história são pequenos recortes de um manuscrito escrito pelo própior van Noort e encontrado no mosteiro.
Tudo que conhecemos da histórias e dos acontecimentos que sucedem a chegada de Florian a ilha é contato pelo seu ponto de vista, então tudo é mostrado de uma forma bem pessoal e cheio de percepções do próprio. Florian é um homem que sofreu muito no passado, o que faz se condenar constantemente por qualquer pensamento positivo. Sua melancolia e tristeza é bem sentida por nós, e nos faz perceber o quanto o ser humano é frágil e covarde em certos momentos (e que isso não é algo ruim). Apesar disso me irritar em algumas partes, eu gostei dessa intimidade com o personagem, porque realmente nos sentimos dentro dele, e acabamos por sentirmos uma familiaridade em alguns pensamentos e ações.
"Afinal, o que seria uma gota a mais de culpa nos ombros, para quem já carregava duas cisternas cheias?" (p. 201)
A vida de Florian no mosteiro muda quando ele começa a se relacionar com o professor Rousseau, que está no mosteiro por conta de um estudo e Cecilia, a médica do vilarejo. Rousseau está estudando sobre o misticismo em volta do milagre e chega a ilha por conta de um padre que enfrentou van Noort em sua invasão, e no momento está traduzindo o diário do corsário, afim de obter mais informações sobre o que realmente aconteceu. Depois de um tempo descobrimos o verdadeiro objetivo do professor, que é ir atrás de um tesouro que pode estar escondido na ilha. Eu odiei esse personagem desde que ele apareceu. Rousseau é arrogante, se acha o sabichão e inteligente e a todo momento tenta diminuir Florian intelectualmente. Mas, infelizmente, ele é um personagem importante ao enredo. Cecilia é uma mulher que atravessa a vida de Florian de repente, e ele começa a se sentir atraído por ela, e com o passar do tempo ela acaba se envolvendo nessa jornada em busca do tesouro. No fim, eu acabei achando-a manipuladora e falsa, mas enfim. Mas também temos outros personagens importantes para o enredo e que me cativaram bastante, como o dom Fernando, Viviana e seu irmão Jorge.
O livro é dividido em três partes e a primeira foi a que mais me trouxe problemas. O que me desanimou com o livro foi o tempo que passei para lê-la. Quase dois meses de luta até enfim terminar a história foi o que me desanimou com tudo. A primeira parte é bem introdutória e a mais pessoal. Conhecemos a rotina de Florian e como ele está se habituando à nova vida ali no mosteiro, além de alguns flashes do seu passado, onde conhecemos mais sobre sua vida na adolescência e ao grande fato que o fez parar no mosteiro. Como disse antes, ele é bem melancólico e isso irritou um pouco. A autodepreciação que ele sentia às vezes me parecia exagerada, o que dava vontade de entrar na história e dar uns tapas na cara dele, fazendo com que acordasse para vida. A segunda parte é quando a vida de Florian dá uma guinada inesperada (ou não tão inesperada assim), que o faz mudar de rumo. A partir desse ponto a história fica mais interessante e mais com o ritmo de aventura, até que chega a terceira e última parte, onde temos a jornada em si.
No geral, Os Invernos da Ilha é muito bom e vai te fazer refletir bastante sobre a natureza humana, a força da fé e a como podemos seguir nossas vidas depois de algumas tragédias. Essa mistura de melancolia com aventura caiu super bem, graças a escrita do Rodrigo, que é bem rica e detalhada. Adorei as partes do manuscrito de van Noort, pois tive uma outra visão dos corsários, e apesar de tudo, simpatizei muito com Florian e seus sentimentos. A jornada não deixa a desejar, trazendo alguns elementos novos ao desenvolvimento e o fim da história foi bem bacana, adequado a personalidade do protagonista. O que me desanimou mesmo foi o arrastamento na primeira parte do livro (que é mais da metade da história), mas não desistam, o restante vale mesmo a pena.
Beijos e até a próxima. Não deixem de conferir a resenha na íntegra, lá no blog.
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