tray 16/02/2017
(resenha Chica da Silva) conheci outra Chica, negra, escrava, alforriada, mas ainda negra, que morreu sabendo escrever apenas seu nome e católica sem saber de fato o que isso significava em suas origens, que embranqueceu seus 14 filhos, pois sabia que só assim eles teriam algo maior que ela não teve, Chica foi mais que mulher e mãe, ela balançou as estruturas do patriarcado e do sistema racista, mesmo que nas paginas a autora preferiu apenas lembrar ela como mãe e mulher, o livro traz o comportamento da época escravocrata : onde homens brancos tinham filhos com mulheres negras mas não registravam como seus, e as crianças levavam o nome da mãe quando elas eram alforriadas, a história é conduzida quando Chica conhece seu novo “dono” que em menos de um mês lhe da a liberdade e acabam vivendo como marido e mulher, menos aos olhos da igreja, que naquela época é que ditava o comportamento e pensamento da sociedade, Chica chamava atenção por ser clara, de traços bonitos, era mais fácil embranquecer suas origens, apagar o passado de suas correntes. O livro quis mostrar que mulheres negras eram amadas, invisíveis pro estado, mas ainda assim amadas por uma pequena parcela desses senhores da casa grande, que não as trazia só pra saciar suas vontades como assim era permitido pela igreja, mas traziam pra suas camas e pra parte de cima da casa, na verdade, a autora quer nos lembrar de que Chica viveu um conto de fadas, só que bem mais moderno, andou pela sociedade, vestia os melhores tecidos, tinha as melhores joias, mas não viva como a sociedade gostava de conduzir as mulheres, as decisões da casa eram compartilhadas, um casal a frente do seu tempo. Terminei o livro com vários questionamentos, gostei da escrita, tenho problematizações, porém, não escondo que essa parte da história da escrava Chica da Silva me fez ter esperança na visibilidade e do amor a mulher negra, é gostoso saber que há outras vivencias dessa época, é gostoso saber que Chica as viveu plenamente e liberta.